A tragédia no Haiti.



Sábado, assisti a parte da matéria da Globo sobre a destruição causada pelo terremoto em Porto Príncipe.

Era uma transmissão ao vivo, por um casal de repórteres (um de cada vez)  ela já bem conhecida do público.

O rapaz (desculpem-me pelo termo, rico em significado), nervoso (eu também estaria), repetia sempre: haitianos feridos; mais haitianos; haitianos; haitianos; E nos ia mostrando a sucessão de infelicidades e desespero.

Tudo bem que um terremoto no Haiti deixe em frangalhos a vida de haitianos. Mas há que perguntar: só haitianos? E a doutora Zilda Arns? Não é preconceito, mas a doutora Zilda é (pra mim sempre será) brasileira.

Eu sei que estou exagerando. Essa é a atividade e a missão do jornalista  levar a notícia ao público leitor, ouvinte e assistente. Mas a constante repetição do termo haitianos me incomodou (para contextualizar, aqui no trabalho eu comentei hoje que, sendo agudamente crítico com a redação de alguns setores/colegas, vinha encontrando dificuldade de redigir).

No entanto, logo o cenário mudou (mudou nada, continuou focando na catástrofe): no lugar do rapaz, entrou a moça.

E apesar de ainda centrado na catástrofe, o enfoque foi ligeiramente diferente. A repórter estava acompanhada de um oficial do Exército brasileiro, que a ciceroneava.

Incrível foi que, naquele momento, convenientemente o oficial identificou um movimento eu algum lugar na rua, quer dizer, por aí (por lá). Se tratava de uma pessoa soterrada nos escombros do que fora um hospital, ou posto de atendimento. O oficial removeu parte dos escombros, e conseguiu identificar que a pessoa estava viva, depois de tanto tempo soterrada.

E a Globo registrou tudo: a tensão, a vibração, a comemoração  sim, comemoração, afinal era uma vida.

No domingo, de novo o Haiti. Muito justo, pois nossa compaixão (foi o termo que me veio, embora talvez não seja o mais adequado) nos impele a buscar mais sobreviventes da tragédia, a buscar formas de ajudá-los a superar as dificuldades mais agudas.

Então, um recorte no Fantástico para apresentar alguns dos heróis ativos nessa desgraça. E é citado o caso daquele oficial que acompanhava a repórter nas visitas aos escombros de Porto Príncipe.

Por mais razoável que seja empreender esforços para divulgar as imagens da tragédia e do sofrimento (e eu realmente acho que é, principalmente pela possibilidade de concertação em prol da mitigação do sofrimento e da superação do estado de falência e miséria daquele povo), me agride o fato de um Oficial do Exército brasileiro ser destacado para ciceronear uma repórter da Vênus Platinada.

Qual a magnitude da missão da Globo?

Será que faturar em cima do sofrimento de um povo justifica recrutar quadros do Exército brasileiro, ou de qualquer exército do mundo, ou servidor público, para exercer o papel de facilitador?

Ok, o Oficial Foi um herói. Mas será que aquele flagrante de salvamento não foi planejado para a ocasião?E se não foi, será que o militar não deveria estar à cata de mais almas? Afinal, as forças de paz não foram até lá para salvar almas (não exatamente conforme o bordão pretensamente cristão)? Para tirá-las da miséria e da desesperança?

Se por acaso eu estiver enganado, peço que me critiquem, para me indicarem o caminho da "luz".

Artigo publicado em http://artigosecronicas.blogsome.com


Autor: Jackson Filgueiras


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