A inocência perdida.



 

A inocência perdida.

 Seu recado era específico. Um colega me transmitiu. Assim, ao encontrar eco para meus sentimentos, alguma coisa explodiu no mais rumoroso SIM, que já fui capaz de emitir.

Na pequena cidade do interior, àquele tempo, nossa vidinha se resumia em passar a semana esperando pela matine de domingo. Para nós, os pequenos, cinema à noite era hiper-proibido, mas nos domingos reinávamos.  Namoro era sentar junto só depois que a luz apagava e um extremo exagero, era segurar a mão da amada. Aconteceram os dois.

Naquele domingo, aos 11, quase 12 anos, meu coração parecia tentar saltar fora do peito.  Ela, cujo nome não vem ao caso revelar, era linda. Ou meus olhos viam beleza nela. Não importava.

Não guardei nem o nome do filme, aliás, nem sei se passou filme mesmo!

Só sei que, de tudo, uma coisa ficou como definitiva: jamais experimentei tanta circulação de endorfina em meu sangue. Pois, por mais que tenha buscado pela vida afora, jamais aquilo se repetiu.

Mas o domingo passou. Na semana seguinte, a felicidade também, dando lugar a um sofrimento atroz para meu neófito coraçãozinho.  Sua família mudou-se para longe, nunca soube onde, instalando em mim uma dor que não haviam lágrimas suficientes para lavar.  Esses dois sentimentos marcaram minha vida para sempre...

Hoje, mais de 45 anos depois, quando recordo tudo, é como se vivesse aquilo outra vez. Como se o tempo, de repente, se ausentasse, eliminando estes anos todos e o romântico menininho, primeiro ama, depois sofre. É o tempo pregando-me uma peça.

Depois, penso em meus filhos. No quanto perderam, pois a inocência hoje é assassinada friamente em nome de uma duvidosa evolução.  Para aquela ingenuidade e romantismo, não há mais lugar.  A televisão jorra malícia e maldade o tempo todo. Não haverá, assim, algo semelhante para lembrar no futuro.

Meu único consolo é imaginar que, bem  longe, lá nos confins de nossa Terra, ainda exista uma cidadezinha de interior, onde não haja o jugo da informação desenfreada e irresponsável. Nem modelos aplicados desta nossa civilização.  E é nesse recanto de vida pura, que meu menininho quer morar...


Autor: Joaquim Saturnino Da Silva


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