Máquina do tempo dá "banhos" de História



Máquina do tempo dá banhos de História

 

Edson Silva

 

 

Não tenho uma engenhoca do famoso Professor Pardal, do inesquecível Walt Disney, mas este ano, e estamos em janeiro, já fiz duas longas viagens pelo tempo, que foram verdadeiros banhos de História. Uma delas foi para meados dos anos 40 e outra mais longa, ao início do século XIX, mais precisamente ao ano de 1808. Antes que algum leitor ache que sou louco, explico que as viagens foram por meio dos livros Corações Sujos, do Fernando Morais, da Companhia das Letras (2000), e 1808, de Laurentino Gomes, da Editora Planeta( 2007). Ambos são pesquisas históricas sobre o Brasil, sendo que o primeiro se passa ao final da 2ª. Guerra Mundial, entre 1944 e 45, com a história da Shindo Renmei, associação que surgiu na colônia japonesa no Brasil e espalhou  terror entre seus iguais, pois passou a considerar traidor e passível de morte os japoneses que acreditassem na derrota do, então invencível, milenar Império do Japão, na 2ª. Guerra.    

A associação, que oficialmente nasceu com o objetivo de preservar a cultura nipônica e a imagem de seu imperador, Hiroíto, tornou-se um grupo radical e passou a assassinar imigrantes japoneses, chegando, segundo dados oficiais, a cometer 23 homicídios e deixar 100 feridos, dando muito trabalho aos homens do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), então Polícia Política brasileira. Cidades paulistas, como Bastos, Tupã e Presidente Prudente foram cenários de situações que podiam lembrar um filme de ação, com atentados, mortes, revoltas populares e até campo de concentração, que foi utilizado para proteger cidadãos japoneses, jurados de morte pela seita ou pela revolta da população. Os presídios ficaram abarrotados seguidores da associação, dispostos a matar aqueles que acreditassem na derrota do Japão. Pode parecer ficção, mas tudo está documentado em arquivos policiais; em jornais; ou em decretos oficiais, que determinavam, após a 2ª. Guerra, a internação de imigrantes japoneses, que na prática era removê-los da Capital paulista e do Litoral para cidades do interior, temia-se que faziam serviços de espionagem. É história real e ocorrida há apenas 65 anos.      

 

Já em 1808, Laurentino Gomes narra a fuga da família real de Portugal, com o então futuro rei de Portugal e Brasil, Dom João VI.  Com minuciosa pesquisa, Gomes fala da vinda da família real portuguesa para o Brasil, fuga que enganou um dos mais temíveis generais de guerra, o francês Napoleão Bonaparte, cujo exército invadiu Portugal. Com linguagem simples, Gomes traça perfis de D. João VI, de sua esposa Carlota Joaquina e de outros personagens que vieram em caravelas para o Brasil. Também são narradas rotinas de cidades, as paisagens, a vida cotidiana e de castas populacionais brasileiras. O livro traz um retrato sem retoque de períodos como o da escravidão de africanos, trazidos ao Brasil para trabalhos forçados em lavouras e minerações.

 

Para se ter idéia da viagem histórica que o leitor fará ao começar navegar pelas páginas de 1808, Gomes faz interessante alusão com a fuga da corte portuguesa para o Brasil, sob escolta da marinha da Inglaterra, pois a França invadiria Portugal. O autor diz: imaginemos nós, brasileiros, acordarmos com a notícia de que todos governantes do país fugiram para a Austrália, sob escolta da aviação dos Estados Unidos da América, e que o país, sem proteção, está sendo invadido pela Argentina?  Reservada proporções, o autor revela que mais ou menos dessa maneira o povo português sentiu-se quando D. João VI e sua corte fugiram para a então colônia, Brasil, do outro lado do Oceano Atlântico... A aventura imperdível e muito curiosa segue em centenas de deliciosas páginas. 

 

Edson Silva, 48 anos, jornalista da Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Sumaré

 

Email: [email protected]


Autor: Edson Terto Da Silva


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