Meus Alunos



Leia com atenção. Escrevi MEUS ALUNOS e não MAUS ALUNOS!

A diferença é só um A. Mas esse A faz a diferença.

Friso isto porque hoje quero falar, não sobre os maus, mas sobre os meus alunos.

Dito isto e feito este esclarecimento, vamos ao que interessa. Neste caso, você.

Como professor é evidente que tenho alunos. Mas não os tenho, sou deles. É com eles que, ano após anos, convivo em uma das mais belas atividades: lecionar! (lembrando que lecionar se deriva de léxico – palavra – e não de lex – lei). Minha atividade tem a ver com a palavra e não com a lei.

É importante esse esclarecimento porque a palavra liberta e a lei oprime. (Duvida? Não concorda? Então me diga: o que libertou aquele senador da perda do mandato, se não a lei!? Seus pares, reféns de chantagem, apelaram como ele, para o que prescreve a lei que lhes dava o direito de confabular às escondidas e, olhando, cada um, para seu rabo de palha, votaram pela absolvição! Cumpriram a lei! Com a palavra é diferente. Ela permanece livre, nos permitindo dizer, com todas as letras, que atropelaram a ética e a justiça em nome de uma lei estapafúrdia.)

Voltemos ao que interessa. Pois este não é um texto sobre a ética política, nem uma apologia à liberdade da palavra. Trata-se apenas de um texto em que quero falar sobre meus alunos. Que na realidade são bons – os melhores convivem com outros nem tanto. Mas todos são alunos. E graças a eles sou o que sou. Ser o que sou me faz ser como sou.

Aquela aluna, no corredor, apressou o passo e me alcançou: "professor, tenho observado vários professores, ao longo de minha vida. Você é um dos poucos que não vejo 'estressado' e se lamentando, pelos corredores. Parece que você está sempre de bem com a vida" e ainda me perguntou: "qual o segredo ou a mágica, para viver assim tão bem?".

Na minha ingenuidade e simplicidade lhe respondi que "sou assim mesmo". Mas ela desconfiou que não era só isso. Agora vai a resposta completa. Sou assim por que faço o que gosto e gosto do que faço. E faço com prazer porque sei que tem gente que gosta do que estou fazendo.

Não sou ingênuo a ponto de imaginar que agrado a todos! Mas, pelo menos, não sou indiferente às pessoas. Procuro imprimir minha marca.

Claro que algumas coisas me deixam triste, no exercício desta atividade: perceber que vários alunos não estão aproveitando a oportunidade que lhes é dada (ou vendida, em alguns casos) e estão deixando de estudar. Estão passando pela escola na brincadeira e perdendo seu tempo, atrapalhando aos colegas e dificultando a atividade dos professores. Mas, por outro lado, a maioria que está matriculada é formada por bons elementos, boas pessoas. A respeito desses, podemos repetir aqueles versos do Gonzaguinha: "Eu acredito é na rapaziada, que vai em frente e segura o rojão. Eu ponho fé na fé da moçada."

Mas este texto é para falar, especialmente, sobre e com alguns dos meus alunos. Alguns que me têm procurado, em várias oportunidades, para me falar sobre as reflexões que tenho esparramado por meio destes escritos. Vários de meus alunos, muitos deles profissionais competentes, já nem estudam mais, nos bancos escolares. Estão matriculados na escola da vida. Mas quando me procuram, para falar sobre o que escrevo, me interpelam dizendo: "professor!"

Isso, para desespero de muitos colegas da profissão, me enche de orgulho. SOU PROFESSOR; orgulhosamente Professor! Se me dessem um prêmio, várias vezes acumulado, na loteria, e me perguntassem: "e agora, com tanto dinheiro, o que você pretende fazer?" Responderia com a simplicidade de sempre: "quero ser professor!"

O fato é que várias pessoas me procuram, e dizem: "professor, li seu texto que fala sobre tal assunto. Muito bem!" Ou então dizem: "Professor, tenho lido todos os seus textos, aqui no Folha da Mata, você me faz pensar!". Ou, ainda: "Concordo com o que você disse sobre tal assunto!". E assim por diante.

Então este texto é um agradecimento a todos os meus leitores: os que concordam comigo partilhando de minhas opiniões; e os que não concordam e ficam, em alguns casos, até irritados com o que digo. A todos agradeço pela atenção em ler o que escrevo. Afinal já se vão quase quatro anos que a gente se encontra neste cantinho do jornal. E, se continuo é porque, as pessoas estão se posicionando: contra ou a favor. Mas se posicionam. E, o que é melhor, muitos me procuram para externar suas opiniões sobre o que digo. Mais uma vez: muito obrigado.

Mas quero, neste caso, dizer que este texto foi feito, com um carinho especial, para meus alunos: atuais, do passado e do futuro. Muito agradecido a todos. Agradeço, não só por me estarem lendo, mas por sedirigirem a mim dizendo: "professor, li seu texto!"

Professor é comunicador. Por isso escrevo! Professor é formador de opinião. Por isso escrevo! Professor é personagem raro – muitos estão na atividade por circunstâncias. Por isso escrevo! Professor é aquele que se realiza no que faz. Por isso escrevo: para contar e comentar e falar de tudo isso. Muitos fariam um favor a si e ao mundo, se procurassem outra atividade, deixando a atividade de ser professor para quem se realiza em fazer isso. Por isso escrevo! Escrevo para defender os interesses dos meus alunos. Escrevo para defender os interesses dos meus leitores, a quem agradeço, de coração. Com o coração de um professor.

E agora, vão fazer suas tarefas!

Neri de Paula Carneiro
Filósofo, Teólogo, Historiador
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Autor: NERI P. CARNEIRO


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