A IDEOLOGIA DA LEITURA
A IDEOLOGIA DA LEITURA
A formação do leitor inicia-se no âmbito familiar e se processa em longo prazo, tendo mediadores como: bibliotecários, professores e, no caso específico retratado, a família. É através da leitura que encontramos a possibilidade de nos instruir, educar e também divertir. Esse leitor deve ser compreendido como sendo aquele que estabelece uma relação aprofundada com a linguagem e as significações, pois os ledores, aquele que se relacionam de modo mecânico com o texto, não se constituirão leitores sem um trabalho efetivo.
O leitor formado no âmbito familiar, como verificamos anteriormente, se mostra diferente, em termos de perfil, daquele que tem contato com a leitura apenas na escola. Pela facilidade e familiaridade com os signos, com o alfabeto, com a escrita e com a própria leitura torna-se mais fácil e recorrente termos novos leitores que se estenderão por toda a caminhada literária. A facilidade e a familiaridade com os signos advêm das relações estabelecidas nessa pretensa comunidade de leitores.
O leitor poderá ser um sujeito ou objeto da leitura, sendo que isso depende da postura crítica ou acrítica que assuma frente ao texto sobre o qual processa o seu ato de estudar. Será sujeito da leitura aquele que, ao invés de só reter a informação, fizer o esforço de compreensão da mensagem, verificando se expressar e elucidar a realidade, em suas características específicas.
O autor, como sujeito da leitura, deve estar atento a três pontos fundamentais: ter o objetivo de compreender e não memorizar a mensagem; ter como atitude básica a postura de avaliar o que lê, tendo como critério de julgamento a compatibilidade da expressão com a realidade expressada e ter uma atitude de constante questionamento de pesquisa, de busca, de diálogo com o autor do texto.
Esse leitor sujeito, através dos processos de compreensão, avaliação e questionamento do lido, estará capacitado para criar e transmitir novas mensagens, que se apresentarão como novas compreensões da realidade, garantindo o processo de multiplicação e ampliação da cultura. Esse leitor cria novas interpretações da realidade, dando-lhe novos sentidos. Não só recebe mensagens, como também as cria e as transmite com nova vida, com nova dimensão (LUCKESI, 1989).
A escola, em geral, não tem colaborado no encaminhamento dos jovens para leitura. As atividades de leitura, nas escolas, estão relacionadas à cópia e à memorização. É a escola que define, de antemão, o sentido que deve ser fornecido pelos alunos, a partir da leitura de um texto. A compreensão e a interpretação já vêm prontas e acabadas, cabe ao leitor apenas imitá-las para efeito de avaliação.
Os professores devem adotar uma prática de leitura que contemple suas expectativas, baseados numa pedagogia de leitura. Portanto, deve-se fazer uma reflexão crítica sobre falsos pressupostos a propósito da leitura e questionar a maneira pela qual os textos acadêmicos são introduzidos e trabalhados na prática pedagógica.
Se o professor não souber apresentar o texto ao aluno, pode desestimular a leitura do jovem para sempre. É preciso contextualizar e explicar os elementos intrínsecos de linguagem dos autores e seus respectivos textos, mas não se pode perder de vista a necessidade de que ofereçam algo novo ao aluno (LAJOLO, 1996).
Proporcionar a prática da leitura é uma responsabilidade de todos os professores de uma escola. Para superar a crise da leitura, é preciso pensar e colocar na prática os centros de interesses, a interdisciplinaridade, a construção coletiva do conhecimento, a integração, a seqüenciação e a unidade curricular.
No médio prazo, lutar pela ampliação da rede de bibliotecas e pelo incentivo ao uso das mesmas (o que começa com campanhas de divulgação de seu uso, além da escola, isto é, para a sociedade como um todo) e outras modalidades de acesso aos textos (bibliotecas ambulantes, livrarias populares, campanhas de barateamento do livro, etc.), pela utilização conseqüente (isto é, formadora de leitores, indivíduos não só "competentes" no nível técnico da leitura, mas que consumam textos ao longo da vida) do texto na escola, o que exige professores qualificados e remunerados adequadamente, são também tarefas úteis no sentido de ampliar o mercado da leitura ou, num vocabulário menos econômico, dar maior sentido social a essa prática.
Por fim, num plano mais estrutural, sem dúvida, modificações no perfil da distribuição de renda seriam fundamentais não só para o incremento da leitura, mas também da posse do livro. Quanto a este ponto talvez o grande problema não seja o dissenso afinal, quem hoje é a favor da desigualdade social nos níveis em que encontra? , mas um consenso que pouco vai além do discurso retórico. Por outro lado, para assumir tarefas como essas, no plano da ação efetiva, é necessário ir além da "ideologia da leitura" segundo a qual o brasileiro não gosta de ler ou lê pouco. É preciso compreender, para tentar modificar, uma realidade em que para muitos falta comida e, portanto, o livro é dispensável.
Autor: Márcio De Melo
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