Proud Mary.
Ela estava a dois passos de realizar seu sonho. Mary estava finalmente na cidade. E agora iria trabalhar para o homem mais rico daqui, dono do jornal de maior circulação. Aqui Mary era a estagiária, mas ela sabia que um dia conseguiria ser mais. Mas nem sempre é do jeito que a gente (acha que) sabe.
Atraída pelo cheiro de café, ela chega ao gabinete de seu chefe, o senhor Ike, que muito estressado (e sem olhar para ela) já disse:
- Você está atrasada. No primeiro dia. Espero que possa acabar com essa primeira impressão.
Foram só 3 minutos, ela queria dizer, mas o barulho de carros lá fora a distraia. Ela estava na cidade! Se sentia perto demais dos homens ricos e poderosos. Garota ingênua.
- Vai trabalhar ou não? O chefe perguntava.
- Vou, eu... O que quer que eu faça?
- Que tal buscar mais café?
- Eu vim para ser jornalista.
- Ninguém começa como jornalista. Me traz um café.
Mary de repente sente vontade de jogar o senhor Ike pela janela, mas achava que era superior a aquilo, achava que podia agüentar. Vai lá, Mary!
- Onde fica a máquina?
- A máquina está quebrada. Eu quero um Starbucks.
- Mas o mais próximo fica a 5 km!
- Sabe correr? Gente do campo deveria saber, Marrie.
- É Mary.
- Aqui tanto faz, Marrie. Agora vai buscar meu café. Você tem até as 9 horas.
Relutando para não espancar esse cara, Mary foi. E quando voltava com o café... Acabou tropeçando num garoto de patins e derramou tudo. O garoto fugiu e ela queria ter ido atrás dele, mas tinha de levar o café do chefe. Voltou e comprou de novo. O celular tocou, ela foi atender e... Deixou cair de novo. Agora o dinheiro tinha acabado e a ligação era engano. Ela poderia ter desligado na cara de quem a ligou, ter procurado o garoto do patins da outra vez e feito ele pagar o café, mas achava que era mais forte do que aquilo (ou tentava provar para si mesma). Ela precisava de dinheiro, café e transporte rápido. Ligou para sua amiga Tina, mas ela não atendeu. Mary chorou. Pobre garota do campo, mal sabe que a vida é muito mais que o otimismo pode esperar. Ela podia ter chegado na hora certa. Ela podia ter empurrado o chefe pela janela. Ela podia ter roubado o cara dos patins. Ela podia não ter atendido a ligação. Mas agora já estava feito, se desse pra voltar...
Mary levantou-se, limpou as lágrimas nas mãos e foi até a lixeira, jogando fora o celular para que não houvessem mais enganos. Tirou as sandálias de salto alto e correu, atrapalhando o trânsito, até o primeiro cara de patins que viu. O empurrou no chão, bateu com as sandálias na cabeça dele, sentou em cima dele e tirou os patins, depois saiu correndo, se escondeu no primeiro beco e colocou os patins. Olhou o relógio. Tinha 10 minutos. Correu até o trabalho de patins, e chegou.
- Na hora certa. Cadê o café?
- Aqui! Ela o chutou e ele caiu pela janela aberta. E Mary seguiu em frente.
Não importa o que vivemos, o que fomos, o que queremos e o que pensamos. O mundo só quer nos ver fazer. Faça. Mas por favor, fique dentro da lei. Um dia eu termino de contar o que houve com Mary. Mas por hoje é só.
Espero que você tenha entendido a moral da história.
Autor: Lucas Santhyago Brandão Dias
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