GRANDEZAS SACERDOTAIS



GRANDEZAS SACERDOTAIS

 

Sou padre. Deixei de pertencer a mim mesmo. Sou de Deus por inteiro. Dei tudo a Ele quando um dia decidi responder sim. E o meu sim tornou-se luta, estudo, oração, labuta, conflito, crise, medo, desafio, Getsemani, Calvário, Cruz cotidiana, sacrifício, Ressurreição.

Num certo dia. Numa solene celebração Eucarística, realizou-se a belíssima cerimônia de Ordenação, na qual, pela imposição das mãos do meu Bispo, tornei-me sacerdote da Igreja Católica. Parentes, amigos, irmãos de caminhada estavam presentes testemunhado tudo o que acontecia. Igualei-me em dignidade aos outros padres que participavam do sagrado ritual. Fui ungido nesse dia inesquecível para ser pastor de almas, profeta do Altíssimo, pai espiritual e guia do povo, conselheiro de uma comunidade, pescador de corações, filho de todos os pais e mães, pai de todas as mães e pais. Ungido fui, para ungir outros mais e conduzi-los ao Caminho, Verdade e Vida que me chamou a ser padre. Ungido para cumprir a santa vontade de Deus que até hoje não me disse os motivos pelos quais me escolheu. Eu que não possuo qualidades suficientes para ser padre. Eu que nem sou digno de tamanha missão. Eu que só soube simplesmente dizer Sim.

Pertenço a Deus. Tenho a vocação de ser tudo para todos. Sem exceção alguma. Deixei casa, pai e mãe, irmãos e amizades. Larguei meu barco na beira da praia com todos os bens que possuía. Poderia muito bem ter dito não. Mas, ousei responder sim de uma vez por todas. E agora a vida que vivo já não tem mais espaço para o singular. Agora é plural. Fui chamado a cuidar e conduzir ao céu homens e mulheres de todos os jeitos, temperamentos e costumes. De todas as origens e familiares. Gente pobre, rica, culta, iletrada, forte, fraca, feia, bela, educada, ignorante, serena, perturbada, santa, pecadora. Bondosas, cruéis, fiéis, traidoras, dignas, indignas... Seres humanos como eu, enfim. Simples e valiosos seres humanos a quem Deus abriu as portas da eternidade por meio de Jesus Cristo seu Filho pelo Espírito Santo. Fui chamado da multidão  eu antes tão anônimo  para servir a multidão  eu agora tão público.

Para vocês que me lêem agora, não posso ser nada além daquilo que me foi dado ser. Meu amor não tem tamanho suficiente para te amar além do amor de pai, de amigo, de filho. Naquele sim que dei a Deus eu entreguei meu viver e meu amor completamente. Fui ungido para amar a todos. Sem dar exclusividade a ninguém, por mais que o amor se manifeste forte e agradável. Continuo sendo homem. É a minha natureza. É a minha sexualidade. Não nego os desejos, emoções, sensações, reações e paixões que experimento no corpo e na alma. Porém, maior é o que sinto por Aquele que me amou primeiro. Eu o tomei como meu Senhor. Ele é o amado esposo de minha vida, de minha alma. A ele devo toda fidelidade e compromisso. Todo amor possível. Jurei-lhe fidelidade eterna. Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na tempestade e na bonança, no consolo e na desolação, no tudo e no nada todos os dias da minha vida.

Espero que vocês entendam amados e amados, as exigências da missão que me foi confiada. Fui chamado a gastar tempo com os outros e não com uma pessoa somente. No meu chamado o egoísmo só atrapalha e a exclusividade só danifica meu ministério. Preciso ser casa aberta para que todos tenham acesso. Ate meu coração deixou de pertencer a mim.

Mas não sou de aço. Eu também caio em pecado. E quando isso acontece, também procuro a misericórdia incansável de Deus através do sacramento da confissão para ser absolvido. Santidade é algo que busco diariamente. Sei o quanto estou sujeito a quedas no caminho. E é nessas horas que me recordo do conhecido poema de Drummond em que ele repete exaustiva e insistentemente: tinha uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma pedra. Poema carregado de poesia sincera que revela um pouco da realidade vivida por mim ao longo da caminhada. Vivo andando por um caminho estreito e misterioso, cheio de pedras insistindo em me fazer tropeçar e cair. Mas ao mesmo tempo ensinando a lição do recomeço, do levantar de novo, seguir em frente, olhos fitos no infinito. Caminho de renúncias das quais não me arrependo. No Sim que dei a Deus não há espaço para arrependimentos. Se assim fosse, eu jamais conseguiria continuar. Desistiria facilmente.

Fui chamado pra servir através do amor e amar através do servir. Chamado a anunciar o nome de Jesus Salvador. Chamado a ser outro Cristo no mundo, em resgate do mundo tão necessitado de alívio. E se por vezes esqueço ou me desvio desse rumo, acabo fraquejando e afastando meu coração do Amado que me escolheu. Sem Ele perco minha identidade e  dignidade originais.

Na Igreja tenho uma outra grande missão  é a mais delicada e complexa do mundo, penso eu  que é celebrar o mistério da Eucaristia. A atualização do sacrifício de Jesus sobre o Altar. Mistério que não entendo, nem sei explicar. Segredos de um Deus que resolveu ficar na humildade exagerada de uma hóstia  simples pão sem fermento  consagrada por minhas mãos! Mistério divino para o qual fui ungido. Algo que supera toda minha razão e sensibilidade tão humanas. Mistério santo no qual creio firmemente e que se tornou o grande centro e alimento infalível da minha vida. Sem Ele eu deixo de ser sacerdotal e sacerdotalizador. Sem Ele, nada sou. Ele é o Tudo da minha vida.

Percebem meu filho e minha filha o quanto estou ligado ao Deus que ousou me chamar a ser padre? É a Ele quem devo amar apaixonadamente como o fazem os amantes fiéis. Sou exclusivo Dele e não estou disposto a abrir mão dessa pertença, dessa dependência. Se o fizesse seria como abandonar injustamente e ingratamente a razão do meu existir.

Se vocês pretendem me amar de verdade, então, permita que esse amor seja forte e verdadeiro o bastante para me deixar livre para ser padre. Livre para amar o povo do qual vocês e eu fazemos parte com nossos particularidades chamados vocacionais. Livre para amar o povo que Deus me deu para conduzir até Ele.

Em suas orações rezem por mim, afim de que eu possa permanecer fiel e perseverante ao Deus que me chamou. Rezem por si mesmos também, para encontrar discernimento e compreensão. Rezem pela Igreja que tanto precisa de novas e santas vocações consagradas e sacerdotais. Quanto a mim, seguirei fazendo a vontade Daquele que me elegeu, me ungiu e consagrou. Ele é a máxima razão da minha fé e do meu ministério. Somente Nele encontro a plena realização. Ser padre é realizar o sonho de Deus para minha historia de vida aqui na terra. Não posso trair a um Deus tão amoroso.

Entre nós só poderá ser assim. Não considero conveniente outra alternativa, embora ela exista. Não estou interessado. Vocês são livres para me quererem com intenções além da amizade que tenho a oferecer. Eu sou livre para dizer não e querer ser apenas uma presença amiga que aponta o céu. Um irmão. Um pai, um sinal de salvação... e nada mais. Esse é meu verdadeiro modo de amar. Deus me chamou para servir e amar desse jeito.

Se vocês vão compreender e respeitar equilibradamente tudo isso, não sei. Mas, enquanto eu for padre serei todo de Deus e sem reservas. Serei todo do povo e para o povo. Serei todo da Igreja de Jesus Cristo, até o fim. Com o coração ansioso por alcançar a vida eterna prometida por Deus e fazer com que muitas almas alcancem-na também. Eu creio e espero.


Autor: Nailton Almeida


Artigos Relacionados


Aprenda Amar

Música: Mais Que Vencedor

Apenas Um Sonho De Amor!

Tudo Posso Em Deus

Confissão

Na Sua Tristeza Chore Para Deus

Primeiro Domingo De Agosto: Dia Do Padre!