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Vida De Cão

Vida de cão.

─Não, acho que não tenho muito para falar dele...acho que o nome dele era João...é João da Silva. Sujeito grandalhão...

Essas eram as palavras de seu Manoel após ver João da Silva ser atropelado por uma bicicleta.

É... João da Silva, nordestino trabalhador da construção civil com 1,98 e 100 Kg, de músculos adquiridos nas caçambas da vida.

Uma vez lhe perguntaram se ele tinha feito academia.

Ele respondeu:

─Umas cinco!

Aquele dia começou mal para João da Silva. Numa discussão com sua mulher Cledja, também nordestinha, casula de uma família com 15 irmãos, mas só ela de mulher, ele se alterou e empurrou-a com a mínima violência possível, mesmo assim ela caiu no sofá do pequeno barraco, quebrando-o.

Cledja começou a chorar e disse que iria contar para seus irmãos.

À tarde, quando João da Silva chegou do serviço e foi abrir a porta do barraco, se deparou com um afro-descendente de 1,80 e 125 Kg .

A briga só acabou quando o último irmão de Cledja teve o braço quebrado por ser arremessado sobre o último barraco da favela.

Ninguém entendeu nada. Alguns ligaram para a polícia falando que a revolução tinha chegado. Outros acharam que era a volta de Jesus. Os mais sensatos apostavam numa briga de gangues. Todos erraram, era apenas João da Silva contra os 15 irmãos de Cledja, todos homens mais ou menos do seu tamanho.

As dez primeiras viaturas foram detidas quando João da Silva quebrou as algemas e com uma coluna de um antigo prédio nas mãos arruinou-as. Depois quando João da Silva resolveu fugir, em seu caminho estava uma avenida movimentada. Ele encarou. Os carros que não frearam ele saltava, em uns ele caía no teto, em outros ele caía no capo e outros acabaram lhe atropelando.

Ao vazar a avenida tomou rumo a uma baixada escura, lá pelas bandas de outra favela. No final da baixada chocou-se com um cavalo, que devido a pouca luminosidade não foi possível avistá-lo. Daí ocorreu uma morte instantânea. A do cavalo!

João da Silva ainda correu por mais uns 30 Km, de medo da polícia. E, quando já estava amanhecendo, um pouco cansado de tanta correria, parou no meio da rua.

O ciclista até tentou avisar:

─Sai da frente Negão!

Mas, não deu tempo...

João da Silva foi atropelado! Bateu com o crânio no chão e teve uma parada cardíaca.

Acabou o João da Silva! Brasileiro como eu. Como você. Lutador lúcido e inveterado. Nobre lutador.

Agora! Liberdade!

Foi aí que seu Manoel, um velhinho de 1,60 e 53 Kg assistiu à cena e concluiu:

─Como é mole esse negão! Uma bicicleta acabou com ele...mole, muito mole...

Alexandre de Freitas 26/04/2007

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