DROGAS - Onde Foi Que Eu Errei?



É preocupante o alheamento e o desinteresse da sociedade brasileira face do problema do consumo desenfreado de drogas. Mesmo em que pese o fato de o fenômeno estar arruinando e matando nossas crianças e adolescentes.

Acredito que a causa deste descontrole tenha raízes no relaxamento dos princípios da boa administração familiar.

Vejo com pesar que a televisão - principalmente a de sinal aberto -, com seu apelo eminentemente comercial, pornográfico e destituído de valores éticos, constituiu-se em mentora dos filhos das novas gerações. Sua programação insipiente impõe patéticos padrões morais de comportamento e arquétipos incoerentes de cidadania.

Aliado a este depauperamento cultural e educativo da mídia televisiva, encontra-se o lado negativo da rede mundial de computadores, a Internet. Como território livre para disseminação de idéias e informações gerais, esta nova ferramenta acumula e faz circular muito lixo e material inservível em suas páginas. Até mesmo apologias acintosas ao consumo de drogas e métodos de burlar a legislação são encontrados aos borbotões.

Agravando ainda mais esta situação, pais geralmente ausentes, não se preocupam como deveriam com a orientação da vida dos filhos. Muitas mães modernas, em nome da independência a qualquer custo, consagram-se à busca desenfreada da eficiência financeira e econômica, com intuito único de sobrepujar a posição do marido. Alguns pais, desafiados e acuados por esse e outros fantasmas das imposições sociais, embrenham-se numa competição desumana para provarem-se mantenedores absolutos da casa. Obedecendo a conceitos e critérios previamente adquiridos, o casal não suporta a idéia de auxílio mútuo na construção de um futuro comum. Prefere imitar no lar, mesmo com todas as vicissitudes e idiossincrasias inerentes, o ringue da disputa selvagem do mercado de trabalho.

Neste frenesi, importam-se cada vez menos com a gerência da educação e da saúde física e social familiar. Enquanto a contenda pela hierarquia funcional se desenvolve, os filhos são criados e educados conforme o cabedal cultural, intelectual e educacional de uma babá, cuja melhor avaliação de conduta é a informação prestada pela agência fornecedora desse tipo de mão de obra.

Não obstante e para dar mais liberdade ao pugilato doméstico, ainda em tenra idade, as crianças são enfurnadas em creches de tempo integral. Quando mais crescidinhos, tornam-se internos compulsórios em enfadonhas escolas de mesma modalidade. Nenhuma delas tem a competência e o dever de edificar os predicados familiares, os alicerces do caráter, da ética e dos bons costumes. Tais parâmetros são consolidados apenas em sadio convívio familiar. Isso seria tarefa para os pais, que infelizmente estão presentes apenas no ringue.

De outro lado, núcleos familiares menos afortunados, enfrentam dilema diverso, todavia de igual potencial pernicioso para a constituição do temperamento dos descendentes. A mãe, comumente rejeitada pelo pai de seus filhos, se vê na contingência de cumprir concomitante os dois papéis. Invariavelmente de extração humilde e de poucos recursos educacionais, não encontra outra saída senão deixar os filhos sozinhos, jogados à própria sorte, ou, na melhor das hipóteses, em companhia de pessoa igual situação, enquanto parte, solitária, em busca do sustento diário da casa. Suas crianças, se matriculadas em escola pública de ensino duvidoso, sofrem do mesmo desamparo afetivo e formativo que aqueles de famílias mais abastadas.

No fim, isto serve apenas para provar a fragilidade comum que permeia a realidade de ambas as famílias. Tanto o filho do rico quanto o do pobre compartilham do mesmo descaso nuclear, sujeitos, um e outro, ao provável caminho das drogas. A falta de referência  ou o excesso delas  confunde e deixa o jovem à mercê desse apelo.

No que tange às oportunidades comuns, não importa se o colégio tenha ou não portão com grades e seguranças à porta. Não importa se portas e janelas são gradeadas. Não importa se há sistemas sofisticados de proteção e vigilância. Não importa a condição financeira ou social do grupo familiar. Não importa! A droga, de qualquer modo, entrará pela porta da frente em qualquer estabelecimento escolar ou lar.

No caso de infestação em escola, a culpa é sempre da polícia e da direção da unidade, que não fizeram corretamente o dever de casa. Porém, este entendimento não se aplica quando a assolação ocorre em residência, onde o problema é eminentemente dos pais que negligenciaram também suas tarefas. No fundo, remanesce a desculpa recorrente e esfarrapada de sempre: falta de tempo para conviver, dialogar e transmitir valores aos filhos.

Entretanto, as semelhanças existentes param aí. As famílias de melhores condições materiais minoram sensivelmente os efeitos desmoralizantes que o entorpecente causa em sua seara. Despendem recursos financeiros consideráveis para cobrir os custos de tratamento particular de desintoxicação e participam ativamente de campanhas pela legalização das drogas.

Por outro lado, o filho viciado daquela mãe pobre, que não conta com os meios públicos de auxílio necessários nesse sentido, se vê na condição de visitar o filho numa unidade manicomial ou num instituto penal, dividindo cela com delinqüentes da pior espécie.

Mas, nada disso interessa a você, indiferente leitor. O mais importante é sua ascensão política e funcional; a performance eleitoral do seu candidato nas próximas eleições e a posição do seu time no campeonato. Nada do que foi dito faz o menor sentido para você; causa-lhe a mínima preocupação. Você supostamente vive num mundo onde não há miséria, pobreza, preconceito, desigualdade social, violência e nem drogas. Então para quê se preocupar com esse tipo de coisa? A vida é bela! Aliás, isto não é problema seu e sim do governo. Não é mesmo?

Resta apenas uma questão insidiosa. Essa comodidade de espírito será abalada no instante em que a droga se instalar em sua casa, entrando pela porta da frente. Sim, porque ela não pula muro com cerca elétrica; não arromba portas ou janelas gradeadas; não desliga alarmes ou sistemas de câmeras para se apoderar da sua família. A droga vai freqüentar os melhores cômodos do seu lar, introduzida na bolsa de sua filha ou na mochila do seu filho. E você, com toda certeza, será o responsável por abrir a porta principal para que ela entre na vida deles. Pois, neste exato momento, mediante sua omissão egoísta, sua falta de diálogo e sua conduta competitiva acima do normal, você está desligando o alarme da moral, a cerca elétrica dos bons costumes e a câmera da decência. Como saldo, subsistirá tão somente a angústia provocada pela pergunta inquietante, mas tardia: onde foi que eu errei?


Autor: Nelson José S. Nascimento


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