A ''CULTURA DE MERCADO''



Como acontecem todos os anos durante a Quaresma, a Igreja aborda temas relativos aos momentos marcantes da sociedade, sempre propondo reflexões críticas e construtivas com o intuito de provocar nos cristãos uma consciência atual e enraizada na realidade social mundial. Este ano o tema da Campanha da Fraternidade, que também é Ecumênica, trata do assunto mais moderno e importante para o momento em que a sociedade universal está passando: "Economia e Vida: Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro (Mt 6,24)".

Baseado neste tema propõe-se uma breve reflexão sobre esse modelo de cultura que vem se alastrando na sociedade já desde o século XVI. O surgimento desse pensamento veio em resposta ao movimento modernista que vigorava entre os séculos XVI e XX. A chamada "Cultura de Mercado", também conhecida como "Economia de Mercado", situado no início na Revolução Industrial, ou na segunda metade do séc. XX.

Essa "cultura de mercado" veio como contra-golpe aos ideais modernistas, uma contrapartida ao socialismo radical marxista. A princípio, essa cultura, faz um culto a liberdade chamada de "livre iniciativa". No decorrer de seu desenvolvimento gera um reducionismo social do ser humano. Começa a causar uma injustiça embasada na liberdade individual, dando o primeiro passo a uma situação de desigualdade social muito mais abrangente e alarmante.

O novo processo econômico imprimiu na mente humana o valor de uma estabilidade financeira e econômica. Representa uma situação de valorização do ser humano enquanto o "ser que pode ter". Entendendo melhor, só é reconhecido na sociedade aquele que te condições de permanecer na "elite do ter". A pessoa que tem a possibilidade de ser um consumidor ativo.

O ser humano que não pode fazer parte desse ciclo torna-se excluído e sobrepujado, visto apenas como mais um pobre "inferior" àqueles que podem sobrepor-se a ele. Deixa de ser um ser humano investido de qualidades e direitos, e passa a se reconhecer como um "excluído e miserável". Pode-se dizer que se origina uma nova categoria social, "os miseráveis" que já não podem mais nem ser considerados como pobres.

O amor cristão, o amor-ágape, que é o amor doação, gera compromisso. Um ato para a libertação que se faz na história do excluído e miserável dessa sociedade impregnada dessa cultura de mercado.

Libertação dos costumes de "coisificação" do ser humano, que tira todas as suas possibilidades de lutar por uma forma de "viver", nesse universo repleto de "templos" comerciais pós-modernos, que só fazem incitar a grande massa "hipnotizada" para o consumismo exagerado.

A finalidade dessa reflexão não é reprovar ou provocar indignação por existirem certos meios de prazer, mas sim fazer uma crítica sobre o uso excessivo desses meios, que só diminuem ainda mais a dignidade do ser humano, tornando-o escravo do sistema e não mais senhor. Sendo que, ironicamente, o sistema foi criado pelo próprio ser humano. Jesus ensinou que não foi o homem feito para o sábado, mas o sábado para o homem (Mc 2,27), e quando Ele fala do sábado está falando da Lei, dos costumes culturais econômicos e financeiros, fala da postura do ser humano diante do poder.

Entendamos que não pode haver escravidão do ser humano "pelo" consumo, e "no" consumo. Abordar o tema da Economia e do valor abusivo dado ao Mercado internacional é mais do que pertinente, é um debate que deve permear todas as discussões atuais para a promoção da dignidade humana e defesa da vida, não só da pessoa, como também do planeta. É mais do que certo que esse sistema Econômico "Capitalista Selvagem" gera uma sociedade pecadora e auto-destrutiva do ser humano e de seu meio-ambiente.


Autor: Fabian Karam


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