O Estigma De Cada Um



O estigma de cada um

Tatiana Lima Ferreira [1]

GOFFMAN, Erving. Estigma: Notas sobre a manipulação da Identidade Deteriorada. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.

Erving Goffman nasceu em 11 de junho de 1922, foi um sociólogo e escritor canadense. Estudou nas universidades de Toronto (B.A. em 1945) e de Chicago (M.A. em 1949, Ph.D. em 1953). Estudou a interação social no dia-a-da, especialmente em lugares públicos, principalmente no seu livro "A Representação do Eu na Vida Cotidiana". Para Goffman, o desempenho dos papéis sociais tem a ver com o modo como cada indivíduo concebe a sua imagem e a pretende manter. Estudou também com especial atenção o que chamava de "instituições totais", lugares onde o indivíduo era isolado da sociedade, tendo todas as suas atividades concentradas e normalizadas. Podem-se citar com exemplo as prisões, os manicômios, os conventos e algumas escolas internas.

A obra Estigma: Notas sobre a manipulação da Identidade deteriorada é uma interessante viagem pela situação de indivíduos incapazes de se confinarem aos padrões normalizados da sociedade, são indivíduos com deformações físicas, psíquicas ou de caráter, ou com qualquer outra característica que os torne aos olhos dos outros diferentes e até inferiores e que lutam diária e constantemente para fortalecer e até construir uma identidade social.

Goffman analisa nesta obra, os sentimentos da pessoa estigmatizada sobre si própria e a sua relação com os outros ditos "normais". Explora a variedade de estratégias que os estigmatizados empregam para lidar com a rejeição alheia e a complexidade de tipos de informação sobre si próprios que projetam nos outros. Este livro, entretanto, ocupa-se especificamente com a questão dos contatos mistos, os momentos em que os estigmatizados e os normais estão na mesma situação social, ou seja, na presença física imediata um do outro, quer durante uma conversa, quer na mera presença simultânea numa reunião informal.

Esta obra é um conjunto de notas sobre comportamentos desviantes que Goffman mantinha para as suas aulas de Sociologia do Desvio no Departamento de Sociologia da Universidade da Califórnia nos anos 60. Durante a leitura destas notas denota-se alguma simpatia pela situação dos estigmatizados e talvez algum do seu interesse neste tema seja pelo fato de Erving Goffman ser judeu, apesar de não se considerar um.

O estigma, a socialização dos estigmatizados, a manipulação da informação sobre o seu defeito e as reações encontradas em situações de integração social são descritas e analisadas ao longo de 158 páginas divididas em cinco capítulos. Os primeiros quatro capítulos analisam a forma pela qual controlamos a circulação de informação que nos poderá desacreditar. O quinto capítulo foca o desvio em si e desafia o estudo do comportamento desviante como uma legítima subdivisão da sociologia. Goffman, para continuar a fazer fé ao seu estilo, não apresenta qualquer capítulo de conclusões nem um anexo metodológico.

No primeiro capítulo é proposta a definição de Estigma, que não é um atributo pessoal, mas uma forma de designação social e a análise da sua relação com a identidade social de cada um. Há três tipos de estigmas: por deformidades físicas; por moralidades e por linhagem de raça, nação e religião.

O segundo capítulo encontra-se organizado por nove pontos nos quais Goffman se ocupa do Controle da Informação e Identidade Pessoal. Começa por salientar a diferença entre o indivíduo desacreditado e o desacreditável, isto é, entre aquele que apresenta aos normais uma discrepância visível entre a sua identidade social real e a sua identidade virtual e entre aquele cujo estigma ou "defeito" não é imediatamente visível nem ainda conhecido pelos outros. A Informação Social é transmitida pela própria pessoa a quem se refere, através de símbolos. Goffman divide os símbolos em três tipos: símbolos de prestígio, símbolos de estigma e desidentificadores (símbolos que tendem a quebrar uma imagem lançando sérias dúvidas sobre a validade da identidade virtual). O terceiro ponto trata da Visibilidade do estigma, ou seja, até que ponto o estigma comunica o que o indivíduo realmente é ou possui. A exposição de Goffman segue então no próximo ponto para a análise específica do conceito de Identidade Pessoal, pois o estigma é influenciado pelo fato de conhecermos ou não, pessoalmente o indivíduo estigmatizado e para a apresentação do que Goffman entende por Biografia do indivíduo (quinto ponto). No sexto ponto, Os Outros como Biógrafos, é tratado o fato dos "normais" conhecerem ou não pessoalmente o indivíduo estigmatizado, regulando este fato as experiências que mantêm acerca do mesmo e as biografias que elaboram para ele. No ponto seguinte, Goffman ocupa-se do Encobrimento do estigma e dos diversos tipos de ameaças à identidade social virtual que a revelação do encobrimento pode desencadear. Avança depois para a análise das diversas Técnicas de Controle de Informação usadas pelos indivíduos que pretendem ocultar um defeito secreto. O nono e último ponto deste capítulo trata da questão do Acobertamento por parte de estigmatizados com defeitos conhecidos, imediatamente visíveis ou passíveis de serem detectados facilmente.

No terceiro capítulo da obra fala-se do Alinhamento Grupal e Identidade do Eu, o capítulo se inicia explicando a diferença entre identidade social e a identidade pessoal, sendo que a primeira nos permite considerar a estigmatização e a segunda o papel na manipulação do estigma, enquanto que no capítulo seguinte, Goffman estuda o conceito do Eu e o seu Outro, ou seja, a situação específica do estigmatizado e a sua resposta à situação em que se encontra, vai se referir ao estigmatizado e o normal como sendo parte um do outro, um processo social de dois papéis no qual cada individuo participa de ambos.

No último capítulo, intitulado Desvios e Comportamento Desviante, Goffman explica um conceito relevante que é o de comportamento desviante, que significa que um membro do grupo não adere às normas analisando a relação entre os estigmatizadores e os comportamentos desviantes, sugerindo em conclusão o estudo dos casos desviantes como um campo específico da disciplina.

Goffman faz uma grande apologia aos indivíduos estigmatizados que sofrem preconceitos por parte da sociedade na qual vivem. O estigma é motivo de exclusão social, olhares desconfiados e fala às escondidas.

Os ditos "normais" se acham no direito de apontar o dedo e julgar essas pessoas de acordo com os seus valores de normalidade. Assim cria-se uma expectativa sobre estas pessoas esperando um tipo de comportamento já programado.

Goffman os defende de maneira a expor os tipos de estigmas, as características centrais de suas vidas, os tipos de socialização e contatos com a sociedade, as vitimizações e as privações.

De qualquer forma, esses fatores causam muito sofrimento ao indivíduo estigmatizado, que acaba por se isolar da sociedade e, assim, perdendo a motivação para modificar seu estilo de vida.

Ao tentar uma aproximação, um contato, eles encontram várias barreiras para conseguirem fazê-los. Quando não conseguem vem a culpa pelo fracasso, surgindo decisões como: esconder o estigma; trocar de nome; a conscientização de que não podem ser eles mesmos, tendo que aprender a serem diferentes e encontrar uma segunda maneira de ser; e, acabam por perder a sua identidade se tornando um objeto da sociedade.

Portanto, os indivíduos que têm um estigma, sobretudo os que têm um defeito físico, podem precisar aprender a estrutura da interação para conhecer as linhas ao longo das quais devem reconstruir a sua conduta se desejam minimizar a intromissão de seu estigma. (GOFFMAN, 1982, p.115)

Não podemos deixar de lembrar do estigma dos "normais": o de preconceituosos. Algumas pessoas ainda têm receio de se relacionar com os portadores de algum estigma, elas precisam se informar mais a respeito desse assunto e, se possível, mudarem de opinião.

O relacionamento entre indivíduos estigmatizados e indivíduos "normais" deve ser como se fosse uma espécie de trato, em que o estigmatizado se sinta inteiro participante da socialização, sem temer ou sofrer nenhum tipo de preconceito; e, para os "normais" não ficarem distantes, devem desenvolver habilidades para aprender a conviver e interagir com eles, não se sentindo, com isso, limitados, mas sim integrados.

Esta obra se destina a todos que se interessem pelas dificuldades dos estigmatizados, ou aos que querem aprender a se relacionar com eles de uma forma a não emitir mais estigmas. Seria importante que todas as pessoas tomassem conhecimento desta obra, para que assim fizessem um exame de consciência e de realidade o que favorece a quebra de preconceitos e a modificação dessa visão, promovendo o respeito mútuo entre as pessoas.

[1 ]Acadêmica do quarto ano do Curso de Psicologia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Marília


Autor: TATIANA LIMA FERREIRA


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