Tirando o cupim da história
Dizem que o Brasil é um país sem memória, no entanto, existem - para quem quiser conferir, inúmeras viagens e passeios possíveis simplesmente para visitar e conhecer cenários de grande significado histórico e cultural. O Estado do Rio de Janeiro, em particular, é rico em edificações centenárias. Mas não é tarefa das mais simples preservá-las. São, em sua maioria, prédios de difícil e onerosa manutenção, ocupados durante longos períodos por usuários incapacitados financeiramente para a conservação de suas características e proteção contra fatores de degradação física. Neste panorama, os cupins representam, sem dúvida, os piores inimigos deste patrimônio. Insidiosos, vão destruindo lenta e gradativamente as madeiras de construção sem que os ocupantes, desavisados, tenham noção do que está ocorrendo e a que conseqüências trágicas poderá alcançar a ação destes insetos.A constatação de infestação de cupins nestes casos é, geralmente, tardia, significando maiores custos de tratamentos. As dificuldades orçamentárias aliadas ao custo alto de
descupinização no Rio de Janeiro posterga os tratamentos para situações altamente-críticas. Foi neste contexto que surgiu o projeto Tirando o Cupim da Memória, abraçando duas propostas essenciais. A primeira, objetiva e prática, reúnem técnicos, fabricantes de produtos químicos, equipamentos e mão-de-obra especializada de empresas de controle de pragas para realizar, com baixíssimos custos para o administrador do patrimônio, o tratamento e a preservação em prédio ameaçado.A segunda proposta é a sensibilização e a mobilização dos administradores e de parcela significativa da população para a necessidade de um trabalho solidário no sentido de "tirar o cupim da memória". Outros importantes dividendos indiretos surgem do projeto, entre eles o incremento de capacitação técnicas das empresas de controle de vetores e pragas urbanas, fundamental para a proteção do patrimônio.A história do projeto começou em 1996, na Sala Cecilia Meireles, quando a ABCVP - Associação Brasileira de Controle de Vetores e Pragas e a Feema - Fundação Estadual do Meio Ambiente, com o apoio da Divisão de Operação e Manutenção de Teatros Museus e Casas de Cultura da FUNARJ - Fundação de Arte do Estado do Rio de Janeiro programaram um inusitado passeio durante o Curso "Controle de Cupins e Formigas em Áreas Urbanas, Acervos e Equipamentos de
Dedetização no Rio de Janeiro". Empresários e técnicos, em um programa coletivo, foram à Sala Cecilia Meireles identificar focos de infestação de cupins. A visita resumiu-se aos pontos mais atingidos: madeiramento do telhado, com riscos inclusive de desabamento, palco, laterais de palco, platéia, murada de balcão, portas e subsolo.A proposta apresentada obteve grande repercussão, alcançando, inclusive, o primeiro Congresso Brasileiro de Controle de Vetores e Pragas Urbanas, realizado em maio de 1997, no Hotel Glória, por reunir as condições ideais para o desenvolvimento do trabalho de divulgação das empresas do setor. A participação em iniciativas que integrem suas diferentes áreas em projetos e programas de utilidade pública e de claro significado para a população é, sem dúvida, um dos melhores caminhos para atingir os objetivos traçados pela ABCVP na direção de inserir as empresas associadas num quadro de investimentos em saúde, meio ambiente e melhoria da qualidade de vida.O cuidado com o patrimônio vem mobilizando também o governo federal. O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES, desde 1996, investe pesado na valorização do patrimônio histórico nacional, desenvolvendo projetos importantes na área de restauração de construções históricas. Um deles, realizado em parceria com a Fundação Roberto Marinho, é a recuperação da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, no Rio de Janeiro.
Autor: Gabriel Randfish
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