A Liderança Segundo Maquiavel – Capítulo 7



A forma como um líder trata os membros de sua equipe, colaboradores e demais pessoas envolvidas no contexto de sua organização é crucial para o desempenho de suas funções. Existem comportamentos que podem lhe angariar estima e respeito, e outros que poderão despertar ódio ou desprezo à sua pessoa. O líder precisa ter profundo conhecimento da alma humana para saber agir e reagir frente aos acontecimentos, de forma a manter sua liderança forte, e, dessa forma, realizar seus objetivos.

Neste ponto, alertamos para o fato de o pensamento de Maquiavel chocar de maneira contundente o senso comum, pois sua posição diante deste assunto é bastante incomum e por isto foi muito criticado, em geral, por falsos moralistas. Na condição de consultor de empresas, e tendo vivenciado o ambiente coorporativo por longos anos, inclino-me a concordar com muitas de sua ideias, pois em geral existem comportamentos implícitos e explícitos dentro das organizações que precisam ser enfrentados de maneira enérgica e inteligente.

Muitos destes comportamentos, que mencionaremos adiante, não são abordados abertamente nos livros didáticos, e por isto, a realidade organizacional é tratada como uma fantasia que está longe de representar a realidade prática. Portanto, para os propósitos deste texto, preferimos buscar a realidade dos fatos e das organizações, e assim apresentar idéias úteis aos líderes, do que nos escondermos atrás de fantasias politicamente corretas.

Vamos citar um trecho do pensamento de Maquiavel sobre o assunto e em seguida comentá-lo no contexto empresarial:

"Em verdade, há tanta diferença de como se vive e como se deveria
viver, que aquele que abandone o que se faz por aquilo que se deveria
fazer, aprenderá antes o caminho de sua ruína do que o de sua
preservação, eis que um homem que queira em todas as suas palavras
fazer profissão de bondade, perder-se-á em meio a tantos que não são
bons. Donde é necessário, a um príncipe que queira se manter, aprender
a poder não ser bom e usar ou não da bondade, segundo a necessidade.

Deixando de parte, assim, os assuntos relativos a um príncipe
imaginário e falando daqueles que são verdadeiros, digo que todos os
homens, máxime os príncipes por situados em posição mais preeminente,
quando analisados, se fazem notar por alguns daqueles atributos que
lhes acarretam ou reprovação ou louvor. Assim é que alguns são havidos
como liberais, alguns miseráveis (usando um termo toscano, porque
"avaro" em nossa língua é ainda aquele que deseja possuir por rapina,
enquanto "miserável" chamamos aquele que se abstém em excesso de usar
o que possui); alguns são tidos como pródigos, alguns rapaces; alguns
cruéis, alguns piedosos; um traidor, o outro fiel; um efeminado e
pusilânime, o outro feroz e corajoso; um humano, o outro soberbo; um
lascivo, o outro casto; um franco, o outro astuto; um rigoroso, o outro
benevolente; um grave, o outro leviano; um religioso, o outro incrédulo, e
assim por diante."

Ao lidar com a realidade dos fatos e a efetiva maneira de proceder das pessoas, conhecendo suas virtudes e defeitos e sabendo interagir com estas pessoas de acordo com seus comportamentos, um líder terá melhores condições de conduzir sua gestão de maneira mais adequada.

Mas continuemos a leitura de mais um trecho do pensamento de Maquiavel:

"Sei que cada um confessará que seria sumamente louvável encontrarem-se
em um príncipe, de todos os atributos acima referidos, apenas aqueles
que são considerados bons; mas, desde que não os podem possuir nem
inteiramente observá-los em razão das contingências humanas não o
permitirem, é necessário seja o príncipe tão prudente que saiba fugir
à infâmia daqueles vícios que o fariam perder o poder, cuidando evitar
até mesmo aqueles que não chegariam a pôr em risco o seu posto; mas,
não podendo evitar, é possível tolerá-los, se bem que com quebra do
respeito devido. O Príncipe não deve se importar com se expor à infâmia dos vícios sem os quais seria difícil salvar o poder,
pois, se bem considerado for tudo, sempre se encontrará alguma coisa
que, parecendo virtude, praticada acarretará ruína, e alguma outra
que, com aparência de vício, seguida dará origem à segurança e ao bem-
estar."

Como prevenimos no inicio do texto, o pensamento de Maquiavel neste assunto é bastante contundente, porém para quem conhece o ambiente coorporativo de maneira mais profunda há de concordar que o papel de um líder é difícil. Em geral, este papel exige atitudes que à primeira vista podem parecer vícios de comportamentos, por serem excessivamente cruéis ou rigorosas, mas que se não tomadas no momento certo porão em risco assuntos essenciais da organização.

Por outro lado, lideres que tentando parecer benevolentes e evitam agir com o rigor que a situação exige, acabam comprometendo os objetivos organizacionais e sua própria autoridade, tendo depois de pagar um alto preço pela falta de uma atitude firme.

Como cita Maquiavel, seria louvável se um líder tivesse apenas qualidades como benevolência, piedade, coragem, fidelidade, humanidade, liberalidade e tolerância. No entanto, se praticar apenas estas atitudes durante sua gestão, sua ruína e a da organização serão certas, além de prejudicar todos da equipe. Muitas vezes o líder terá de ser cruel, rigoroso, miserável, incrédulo, entre outras "más" qualidades.

Nos próximos capítulos falaremos mais detalhadamente de algumas destas "qualidades" e "vícios", e como estas deverão ser utilizadas ou não pelo líder de acordo com as circunstâncias.

Concluímos este pensamento reafirmando que o grande desafio de um líder é ter um profundo conhecimento da alma humana para agir de acordo comas características das pessoas e o contexto, e poder assim assumir a melhor atitude requerida pelas circunstâncias.

Ari Lima

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Obs.
Publicaremos seqüencialmente, cada um dos dezessete capítulos que compõem esta obra, que esperamos possam contribuir para esclarecer e ajudar na difícil tarefa de liderar pessoas.


Autor: Ari Lima


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