Análise da Carta de Pero Vaz de Caminha



O escrivão Pero Vaz de Caminha discorre, em sua carta, acerca do ¨descobrimento¨ do território na época denominado pelos portugueses de Terra de Vera Cruz  hoje compreendido como Porto Seguro. Datada de primeiro de março de 1500, relata minunciosamente ao Rei e amigo(ROSA, 1999), Dom Manuel I, a situação encontrada nas novas terras, bem como a presença de selvagens no novo território e seus respectivos costumes.

Durante toda a extensão do relato Caminha narra os cinquenta e quatro dias de viagem ao Rei de Portugal, frisando a fidedignidade dos fatos ali contados. O cronista informa Dom Manuel acerca do avistamento de novas terras no dia 22 de abril, da presença de habitantes locais, dos primeiros contatos com essa ¨jente bestial e de pouco saber¨ (CAMINHA, 1500, p. 135), das práticas de escambo, da possível existência de metais preciosos e do falecimento de toda aquela gente em¨seer toda christa㨠(CAMINHA, 1500, p. 140).

Seu relato afirma que a vista de terra se deu na manhã do dia 22 de abril, na qual a primeira visão dos ¨caraíbas¨ foi um Monte  mais tarde denominado pelo capitão como Monte Pascoal. Após esse primeiro contato com o novo território os portugueses decidiram por uma maior aproximação. No dia seguinte, enquanto se aproximavam da costa, encontram alguns selvagens - cerca de sete ou oito.

Os primeiros contatos com essa gente foram realizados por Nicolau Coelho. Os ¨selvagens¨ eram ¨pardos, todos nuus, sem nenhuia cousa que lhes cobrise suas vergonhas¨ (CAMINHA, 1500, p. 128). Num primeiro momento os índios, que estavam portando arcos e flechas, os mantiveram em posição de ataque. Contudo ao primeiro sinal de amizade por parte dos visitantes, os nativos baixaram as armas e começaram uma amigável troca de pertences.

A prática de escambo teve início paralelamente ao primeiro contato entre essas culturas tão incongruentes. Os caraíbas ofereceram sombreiros, carapuças e barretes e como retribuição receberam arcos, cocares, ramais  todos esses encaminhados a Dom Manuel, posteriormente.

Durante esses primeiros contatos, Caminha suspeitou da existência de metais preciosos nas terras recém descobertas. Os índios, quando viam objetos de ouro ou prata, logo começavam a apontar para o interior das terras. Segundo Caminha, isso poderia ser um sinal de que ali haveria tais riquezas. ¨E começou d açenar coma maão pera a terra, e despois pera o colar, com o que nos dezia que avia em tera ouro¨ (CAMINHA, 1500, p.129).

Ao longo da viagem os portugueses realizaram algumas missas. Enquanto essas eram celebradas por Frei Henrique, Caminha notou que os índios acompanhavam e inclusive participavam da celebração. ¨Aly esteveram comnosco a ela obra de l ou lnx d eles asentados todos em giolhos¨ (CAMINHA, 1500, p.139). Ao passo de que logo ele concluiu que ¨o mjlhor fruito que neela se pode fazer me pareçe que será salvar esta gente¨ (CAMINHA, 1500, p.140) através do ¨acrecentamento da nosa santa fé¨ (CAMINHA, 1500, p.140).

Fica evidente o estranhamento cultural e as impressões, quase nunca positivas, acerca dos indígenas. Contaminado por uma cegueira moral, um ¨eurocentrismo¨, Pero inunda sua carta de críticas aos hábitos indígenas. Existe uma necessidade, por parte dos europeus, de imposição cultural perante esses ¨selvagens¨.

Logo, ficam claras as intenções portuguesas. Elas se baseavam no mercantilismo e na expansão da fé católica. Apesar da carta perpassar por uma longa narrativa dos fatos vivenciados nas novas terras, o escrivão tem em mente sempre esses dois objetivos principais. O final da carta é esclarecedor e ratifica os objetivos portugueses: ¨Neela ataa agora nom podemos saber que aja ouro nem prata, nem nenhuia cousa de metal, nem de fero, nem lh o vimos; [&] Pero o mjlhor fruito que neela se pode fazer me pareçe que será salvar esta jemte; e esta deve seer a principal semente que Vosa Alteza em ela deve lamçar¨ (CAMINHA, 1500, p.140).

Referências Bibliográficas:

ROSA, CARLOS. ¨Apresentação¨ in:¨A carta de Pero Vaz de Caminha¨. Folha de São Paulo, 1999. Edição especial.

CAMINHA, PERO VAZ DE. ¨Carta de Pero Vaz de Caminha¨ (1500) in: Jaime Cortesão. A expedição de Pedro Álvares Cabral e o Descobrimento do Brasil. Lisboa: IN/CM, 1994.


Autor: Raphael Mota


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