Diretas Já: Dos sonhos nascem conquistas!



Diretas Já: Dos sonhos nascem conquistas!

Edson Silva

  Se você vier me perguntar por onde andei/ No tempo em que você sonhava/ De olhos abertos lhe direi/ Amigo eu me desesperava..., da música A Palo Seco, de Belchior. Eu pergunto o que você fazia na noite de 25 de abril de 1984? A pergunta pode até lembrar jargões daqueles enlatados filmes policiais apresentados nas madrugadas ou algum interrogatório de novelas. Mas ao contrário dos suspeitos de filmes ou novelas que sabem que a pergunta pode ser armadilha para tornar evidente a suspeita em crime, eu sei exatamente onde estava e o que fazia neste dia. O cenário é o centro de Campinas, mais precisamente Largo Rosário, palco de manifestações populares, sejam elas políticas, esportivas ou culturais.

Eu e milhares de pessoas (o meu grupo era de estudantes do 3º. ano de Jornalismo da Puccamp) acompanhávamos voto a voto a tramitação da emenda das Diretas Já, do deputado Dante de Oliveira, aquela que após 20 anos de Ditadura Militar podia simbolizar a redemocratização do Brasil, com a eleição direta para presidente da República. Em tese a emenda passou, mas o sonho das Diretas Já não. No Congresso Nacional foram 298 votos a favor, 65 contra e 3 abstenções. Eu e todos naquela praça do povo vaiávamos sonoramente os votos contrários às Diretas Já divulgados.

A noite tinha começado tensa, com um apagão de duas horas em partes das regiões Sul e Sudeste do País. Em Brasília, tropas do Exército ocuparam parte da Esplanada dos Ministérios e se posicionaram em frente ao Congresso Nacional. Às vésperas da votação, o Distrito Federal e algumas cidades goianas foram submetidas às Medidas de Emergência do Planalto, presidido pelo general João Batista Figueiredo. E o golpe fatal contra a emenda das Diretas Já veio com a manobra de políticos aliados ao regime, 112 deputados não compareceram ao plenário da Câmara no dia da votação, fazendo que a emenda fosse rejeitada por não alcançar número mínimo de votos para a aprovação.

Eu era um entre os milhares daquela praça, nós éramos milhares entre os milhões em todo o Brasil que viram desabar o sonho de ver o Brasil livre da Ditadura. Não era mais um fim frustrado de Copa do Mundo de Futebol, era o futuro de todos que continuaria incerto.Enrolados em bandeiras brasileiras ou do partido que traz o p e o t de Pátria na sigla, chorei assim como milhões de verdadeiros brasileiros que choravam em todo País. As eleições diretas para presidente só viriam após mais cinco anos, em 1989. Foram 26 anos desde aquela noite de 25 de abril de 84 e nossa luta (de milhões de brasileiros anônimos) não foi em vão, se não fizemos a hora aquele momento; caminhamos, cantamos (choramos), seguimos a canção, aprendemos, ensinamos a nova canção de não morrer pela pátria, mas decentemente viver com razão.

Edson Silva, 48 anos, jornalista da Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Sumaré.

Email: [email protected]


Autor: Edson Terto Da Silva


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