A SOCIEDADE DE DESCONFIANÇA



A SOCIEDADE DE DESCONFIANÇA

Adilson Boell[i]

Caro leitor, o que me motivou a escrever este artigo foi o fato ocorrido em um Centro Comercial, em uma cidade da região do médio vale do Itajaí.

Procurei um centro comercial para realizar algumas compras. Ao entrar em uma loja, deparei-me com um senhor enfurecido com o balconista. Ocorria que dentro da loja, havia um cartaz dizendo o seguinte, "só aceitamos cheques, de contas abertas a mais de um ano". O senhor que tentava realizar suas compras não observou o cartaz e na hora de efetuar o pagamento, sua conta ainda não tinha a "maior idade", ou seja, o tempo exigido pelo lojista. Bom, o resultado foi que o senhor teve de deixar tudo o que pretendia levar. Fiquei me perguntando por que tanta desconfiança? Foi então, que lembrei-me da obra escrita por Peyrefitte, chamada de "A Sociedade de Confiança". Fiquei imaginando o que este autor diria do fato ocorrido no centro comercial.

Para os leitores menos habituados a leituras no campo econômico "A Sociedade de Confiança" segundo Oliveira (2007)[ii] é a principal obra do político e diplomata, onze vezes ministro e membro da Academia Francesa, Alain Peyrefitte. Peyrefitte escreveu inúmeras obras de História a Sociologia, tais como "o Império Imóvel" e "O Mal Francês". Quarenta anos de estudos culminaram em uma obra que foi desenvolvida ao longo de uma vida inteira de estudos e reflexões, sobre o desenvolvimento e a defesa exaustiva de uma idéia, pela qual o autor foi obcecado: A CONFIANÇA.

Nesta obra o autor refuta as teorias existentes que buscam explicar as "origens do desenvolvimento", e funda segundo ele, os alicerces para a criação de uma nova ciência a "etologia". Para o autor,seria atravésdesta ciência, que se buscaria entronizar o "fator mental" ou o "terceiro fator imaterial" como fator decisivo para a compreensão da sociedade e da economia. Em seu livro Peyrefitte[iii] escreve: "Pela firme crença de que o desenvolvimento era produto do capital e do trabalho, investiu-se, contratou-se pessoal; e causou espanto que o desenvolvimento não tivesse comparecido ao encontro (pág. 458). O que o autor quer dizer a esta altura é que para ele as variáveis capital e trabalho não são suficientes para explicar as origens do desenvolvimento e mais que isso, o primim move do desenvolvimento e a confiança. Dai surge a idéia do "terceiro fator imaterial".

ParaAlain Peyrefitte a mola propulsora do desenvolvimento é a confiança, e em seu livro explica como se deu o desenvolvimento do capitalismo a partir desta teoria.

Mas afinal o que isso tem a ver com o episodio do centro comercial? Para Alain Peyrefitte é o grau de confiança entre as pessoas de determinada coletividade que é o principal motivador do desenvolvimento de uma sociedade. Certamente se Peyrefitte estivesse vivo conclamaria "os leitores a uma disposição de confiança diante da vida. Disposição que deve ser aplicada em ações concretas: "Não se acomode no prazer fortuito de ter compreendido um pouco mais. Faça, escreva, aja" (pág. 474)".


[i] Licenciado em Matemática na UNIASSELVI em Indaial, Pós graduando em Práticas Pedagógicas Interdisciplinares pela FURB/SAPIENCE em Blumenau e Mestrando em Desenvolvimento Regional, pela Universidade do Contestado em Canoinhas

[ii]OLIVEIRA, Vinícius de. Revista interdisciplinar de estudos ibéricos e ibero- americanos: Ano I, Nº 3, Juiz de Fora, Março - Maio/2007.

[iii]PEYREFITTE, Alain. A Sociedade de Confiança  Ensaio sobre a origem e a Natureza do Desenvolvimento.Rio de Janeiro: Topbooks, 1999, 633 pags.


Autor: Adilson Boell


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