A Credibilidade Das Fontes Escritas No Mundo Globalizado; A Questão Da 'etiqueta' Da Fonte



     

A credibilidade das fontes escritas no mundo globalizado; a questão da "etiqueta" da fonte.

Nos dias de hoje fica fácil publicar um trabalho escrito, com um pouco de domínio da língua e algum conhecimento publica-se o que quer. Este artigo pretende colaborar para ampliarmos nossas reflexões sobre as características desse tipo de publicação.

Revistas eletrônicas especializadas, principalmente aquelas ligadas a algum instituto acadêmico, mantêm um conselho editorial que analisa os escritos submetidos a um rigor que satisfaça os requisitos pré-estabelecidos por eles.Com certeza quem ali publica algo entende do assunto, seus trabalhos ganham crédito em tal comunidade.Por outro lado temos alguns sites que se dispõem a publicar algum tipo de trabalho sem impor muitos critérios. No caso desses últimos, podemos dar credibilidade aos trabalhos ali publicados?

Analisemos algumas situações.

O conhecimento não se resume ao mundo acadêmico, apesar deste ter grande importância e ser responsável por muitos progressos tecnológicos e científicos presentes na sociedade não é conveniente dizer que tudo que se conhece e que tem importância provém das universidades. Não pretendemos nos embrear em análises que retrocedam ao início da ciência, porém temos que lembrar que a ciência moderna surgiu no século XVII, apesar de sempre ter existido foi a partir daí que ela começou a ganhar contornos que a assemelham aos dias atuais.

Nomes como Copérnico, Galileu e Newton figuram entre os principais cientistas dessa época, o que não podemos esquecer é que esses grandes personagens beberam em fontes de muitos desconhecidos que anonimamente os ajudaram a realizar grandes feitos. A ciência, em diferentes épocas históricas, também sofreu influência das religiões, das crenças locais; em síntese, nem sempre foi a expressão de entendimento perfeito sobre fenômenos naturais ou sociais, para exemplificar isso basta lembrarmos da igreja católica que procurava controlar o que se escrevia principalmente durante a idade média e estendendo sua influência até o século XIX .

Quando a ciência se consolida no século XIX, além de aperfeiçoar suas explicações sobre a natureza, ela também começa a interferir decisivamente no meio ambiente, modificando-o e degradando-o. E, de modo geral, ela vem se consolidando e nos trazendo grandes conquistas e alguns problemas. Isso ocorre, principalmente, através de publicações. A melhor maneira de expor o que se descobriu ou se desenvolveu é fazendo com que outros leiam e também possam ampliar seus conhecimentos e descobertas que, por sua vez, também fazem suas publicações sempre baseadas numa anterior. Fechando assim um ciclo de trabalhos, revisões bibliográficas e compartilhações de conhecimentos e experiências.

Quem quiser publicar algo com o rótulo de científico terá que observar algumas normas que estão aí pelo menos nos últimos duzentos anos. Dentre elas, para se ter um rigor científico há necessidade de definir um objeto para se pesquisar sendo que este deve ser reconhecível eu se fazer como tal, pode-se dizer algo do objeto que ainda não falaram ou fazer um trabalho de compilação agregando informações que estavam dispersas e, quando reunidas, possam ser de serventia e, principalmente, deve fornecer elementos para que outros possamtrilhar os mesmos caminhos e consigam constatar as informações ali contidas para dar continuidade ou até contestá-las.Feito isso, dificilmente o trabalho não será reconhecido como científico.

Acontece que quando uma pessoa se liga a alguma dessas instituições de renome (coisa que num país como o nosso é muito difícil e apenas uma pequena parcela consegue) e consegue publicar alguma coisa que atenda os requisitos da ciência e essa publicação é citada por outros se inicia aí uma credibilidade. Pois seu trabalho foi padronizado e aceito por um grupo seleto de pessoas que são consideradas produtoras de conhecimento. Podemos dizer que é um trabalho com "etiqueta", pois as pessoas querem usá-lo para se fundamentar.

Devemos ressaltar, porque apesar de muitos cientistas saberem disso outros se esquecem, que a ciência não é a única que detém a maneira de explicar o mundo. A verdade não é absoluta e a ciência não contribui exclusivamente para desvendar todos os fenômenos, as teorias sempre passam por revisões e esse é um processo sadio.

Sabendo disso, melhor é que todos tenham o direito de se comunicar e expor aquilo que produzem. Temos a certeza que há pessoas muito inteligentes que "monopolizam" seus saberes e, muitas dessas pessoas, às vezes não possuem a escolaridade considerada necessária para expor o que sabem.

Podemos fazer o esforço de relembrarmos alguns episódios que foram pouco divulgados. Numa reportagem do Jornal Nacional (onde infelizmente, não foi possível capturar a dada da exibição) uma pessoa que só estudou até quarta série havia construído no Mato Grosso, onde morava, três mini-usinas hidrelétricas. Temos conhecimento de um professor de filosofia que só com o colegial chegou a dar aulas em cursos de pós- graduação. Um pedreiro com pouca escolaridade em São José do Rio Preto advertiu uma engenheira sobre a construção de um muro de arrimo, não foi ouvido, e dias depois da construção findada, quando caiu uma considerável chuva, o muro foi ao chão. Poderíamos prosseguir com mais exemplos, mais por falta de provas, também poderíamos ser questionados. De todo modo, sabemos que episódios assim não são raros.

Será que as pessoas que não pertencem ao grupo dos "estudados" não teriam algo para nos falar e ensinar? Acreditamos que têm e muito. O que acontece é uma certa discriminação com quem se manifesta intelectualmente de uma forma diferente daquela que está padronizada.

Muitos povos indígenas da América e outras civilizações ágrafas nos dão grandes provas de que dominavam muito conhecimento e por falta de escrevê-los não foi possível nos apropriarmos deles para nosso benefício. A farmacopéia indígena brasileira praticamente foi perdida, os incas não deixaram relatos escritos explicando como fizeram magníficas construções, sem dizer que muitos dos povos indígenas tinham muito respeito pela natureza, se sentiam parte dela e agiam de forma que não a degradavam, coisa que nossa sociedade com toda ciência não anda conseguindo fazer . No geral, são conhecimentos que se perderam por não estar escritos.

Outros conhecimentos podem colaborar conosco. O imperativo é: escrevam! Divulguem suas idéias, deixem-nas que sejam julgadas, a seleção acontecerá naturalmente, se possível, tentem apenas proporcionar aqueles que vão nos investigar a rota que demonstra como chegamos a nossas conclusões, para que possam fazer o mesmo caminho e debater conosco.

Encerrando esses apontamentos, vamos ousar com outras palavras, outros olhares e outras formas de interpretar o mundo, interconectado como ele está nada melhor do que trocarmos idéias através de nossos escritos sem nos submetermos ou nos vincularmos excessivamente a algumas normas que pré estabeleceram e são consideradas por muitos como únicas. Verdadeiro tesouro é manejar as palavras com os dons do raciocínio próprio, devemos dar primazia para vários conhecimentos que estão em boas universidades, livros, etc. Mas, não é recomendável nos despojarmos de nossas análises e meditações próprias que podem ser úteis para muitos e, muitas vezes, não divulgamos com medo de não serem aceitas ou compreendidas.

Bibliografia de referência.

CHASSOT, Atico. A ciência através dos tempos. São Paulo: Moderna, 1994. (coleção polêmica).

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Somos águas puras. Campinas: Papirus, 1994 (papirus ecologia).

ECO, Umberto. Como se faz uma tese. 14 ed. São Paulo: Perspectiva,1998. [trad. Gilson Cesar Cardoso de Souza].


Autor: Alexandre de Freitas


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