Reflexões a Respeito da Psicomotricidade Relacional e Psicologia



Quando busquei fazer uma eletiva de psicomotricidade na universidade fui conversar com um amigo que acabara de se formar em educação física, pois essa relação entre psicomotricidade e educação física existia na minha cabeça. Para minha surpresa, ele não me falou nada a fundo, como se soubesse poucas coisas a respeito. Foi aí que resolvi fazer uma eletiva que a PUCRS oferecia ao curso de Psicologia para aprender um pouco mais sobre o que é essa tal psicomotricidade. No fim da eletiva percebi o quão rica era essa área que resolvi me aperfeiçoar com o curso do Portal de Educação. O que eu fiquei muito animada foi conhecer que existe a psicomotricidade de cunho educativo, servindo como uma possibilidade de oportunizar as crianças um ambiente pedagógico que permita a ampliação do seu vocabulário psicomotriz, favorecendo "avanços nos processos de comunicação, expressão corporal e de vivência simbólica" (Negrine, 2002, p.141). Entendi que não é somente através de testes psicomotrizes padronizados que se pode analisar níveis de desenvolvimento, mas que a premissa básica é saber quais as habilidades que a criança apresenta quando é iniciado o trabalho para poder dimensionar sua evolução a partir dos estímulos que serão oferecidos, fazendo comparações em relação a sua história prévia, ou seja comparar uma criança com ela mesma, ao invés de comparar a criança a supostos padrões universais. Conheci que existe a área da psicomotricidade relacional, que toma como fundamentais questões bem diferentes das consideradas pela psicomotricidade funcional. Quando um psicomotricista relacional vai trabalhar em uma escola, sua atuação não é oferecendo ginástica as crianças, mas sim uma prática psicomotriz através de brincadeiras e jogos. Normalmente a falta desse conhecimento é o maior impedimento para que se possa ver de outro ângulo o que ocorre com o comportamento infantil em situações espontâneas. Embora a estrutura da aula psicomotora siga uma rotina, a idéia central é estimular as crianças para que realizem muitas coisas; que tenham muitas experiências e que cumpram as normas de convivências social. A psicomotricidade é uma atividade que deve estar inserida na rotina semanal da escola infantil. O jogo é uma das ferramentas mais importantes que o psicomotricista vai contar. Isso favorece seu trabalho, pois as crianças chegam contentes porque sabem que vão brincar e se divertir. O jogo em si não exige habilidades especiais para jogar, ele visa apenas proporcionar a compreensão das regras sociais, facilitar a imitação de movimentos que estimulem a coordenação motora. Também busca estimular a cognição, quando, por exemplo, a criança pensa a quem deve passar a bola, com quanta força, desde onde, com que parte do corpo e com que intenção. Além disso, busca favorecer a relação com outros jogadores e com isso promove um espaço para a simbolização. A educação psicomotora cumpre uma missão de fundamental importância na educação infantil: condiciona todas as aprendizagens escolares que a criança não pode alcançar se não tiver alcançado previamente a tomada de consciência de seu corpo, sabendo lateralizar-se, situar-se no espaço, dominando o tempo, possuindo habilidade e coordenação necessária dos seus gestos e movimentos.

Como já foi dito, na prática psicomotriz, o essencial é a observação do comportamento da criança, pois este é um instrumental que indica o caminho para fazer com que a criança progressivamente possa ir eliminando suas dificuldades. O mais importante é observar as relações da criança com o tempo, o espaço, os outros, os objetos e o seu próprio corpo. O professor que utiliza o ato de brincar necessita saber quando intervir para ajudar a criança a ampliar seu vocabulário lúdico, psicomotriz e lingüístico. A aula precisa ser pensada de forma que as crianças tenham que cumprir normas e regras de convívio social, e uma das funções do professor é persuadir as crianças a respeitá-las, servindo-se de estratégias que possam levá-las a fazer reflexões sobre suas atitudes, uma vez que o ato pedagógico deve provocar aprendizagens significativas, caso contrário, não faz sentido acontecer. Ademais, "são as trocas entre as crianças, entre os iguais, que enriquecem o ato pedagógico e justificam o valor da representação na construção do conhecimento" (NEGRINE, 2002, p. 167).

Ao saber tudo isso pude relacionar diversas teorias com a prática da psicologia no ambiente pedagógico, visando à promoção de saúde mental. Quando se fala em convívio social me lembro das tais "habilidades sociais". A psicologia também acredita na importância de se trabalhar essas questões, porque expressão corporal é, às vezes, mais significativa que a verbal. Porém, muitas vezes acontece das escolas não aproveitarem esse potencial de trabalho devido a uma falta de conhecimento do que o trabalho psicológico e psicomotriz tem a oferecer a pedagogia e psicopedagogia. Concluirei essa atividade reflexiva com uma citação que achei na internet a respeito da psicomotricidade relacional: "No mundo contemporâneo cresce a necessidade de compreender melhor o ser humano na sua globalidade, de acordo com o princípio fundamental de que se deve aprender a cuidar da pessoa e não da doença, através de uma ação preventiva que tome em consideração o relacionamento interpessoal. Na Psicomotricidade Relacional utilizamos o jogo espontâneo como meio de expressão que através dos gestos e do movimento vão permitir que se faça uma análise da problemática inconsciente que interfere na aprendizagem e na elaboração dos conflitos relacionais possibilitando uma melhoria na qualidade do desenvolvimento cognitivo, social e afetivo da pessoa em constante processo de transformação." (autor desconhecido).

Referência utilizada:

NEGRINE, Airton.O corpo na educação infantil. Caxias do Sul: Educs, 2002.


Autor: Bruna Hecht


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