Para (re)construir uma Vida de Relação baseada na Ética da Compaixão



Para (re) construir umaVida de Relação baseada na Ética da Compaixão

Marco Aurélio Faria Rezende

Ao começar a releitura de um livro extraordinário de Sua Santidade , o Dalai Lama intitulado "Uma Ética para o Novo Milênio", pude observar as inúmeras possibilidades que temos em nós depensarmos na (re) construção das nossas relações em valores baseados essencialmente no cultivo do amor e da compaixão.Entretanto , ao primeiro olhar , podemos imaginar que nos dias atuais , é quase impraticável considerar a possibilidade departicipar e compartilhar as nossas questões até com os nossos mais íntimos amigos. Há por toda a parte um total clima de desconfiança entre as pessoas ,o que acaba por gerar suspeita em todas asnossas relações mais básicas.Mas, se nos esforçamos e passamos a acreditar na possibilidade da melhora e da transformação , podemos investiraos poucos no enriquecimento da qualidade da nossa vida e , devagar , seremos capazes de (re) começar o nosso caminho de relação.Aos poucos , experimentaremos , a possibilidade real de compartilhar e dividir alegria e felicidade ,dor e sofrimento. Em princípio, pode não parecer muito fácil – e não é mesmo , porque teremos que resgatar em nós alguns valores e sentimentos que fazemos absoluta questão de esconder.Normalmente , a nossa convivência é pautada pelas relações que estabelecemos ao longo das nossas vidas . Em cada uma dessas situações podemos constituir vínculos que nos ligam a outras pessoas para o resto das nossas vidas . Aí é que se firmam alguns graus de amizade ou até de uma relação mais íntima que pode caminhar para um convívio mais estreito , diário e doméstico. É muito comum dedicarmos aos nossos amigos o que temos de melhor.E sendo assim , compartilhamos todo tipode sentimentocom esses escolhidos – às vezes ,até com certa dificuldade , mas tentamos repartir todas as nossas emoções com um grau até muitas vezes elevado demais de confiança.

Como conseqüência, ganhamos a certeza da amizade e reforçamos cada vez mais os laços que nos ligam a esses amigos de forma incondicional e indiscriminada.Mas aí é que começo a levantar algumas questões. A primeira delas diz respeito à natureza dessa relação e os seus naturais desdobramentos . Será que não é muito fácil lidar apenas com quem confiamos e convivemos? Será que pode ser diferente?Será que só temos que demonstrar afeto , carinho ou amizade exclusivamente aos nossos melhores amigos? Se somos criaturasem constante processo de melhora e transformação e precisamos buscar um caminho de mudança , porque não nos abrimos para novas situações de convivência? Será quesó é importante o cultivo do amor e da compaixão entre os que convivem conosco , familiares e amigos mais íntimos? Penso que assim é muito fácil.Acredito que a nossa grande meta deve ser à busca do cultivo do amor e da compaixão incondicionale universal . A nossa meta permanente deve ser à busca da afirmação de uma cultura de fraternidade entre todos nós – desde os nossos amigosaté aos que chamamos de inimigos.É claro que essa idéia – que pode se transformar em ação , depende fundamentalmente de nós e esta diretamente relacionada com a nossa possibilidade de(re) estabelecerum caminho crescente de conquista interna para ser compartilhado com todos que nos cercam . Entretanto , é ai é que está a nossa grande tarefa . Essa experiência seráinicialmente vivida por nós de maneira distinta.A minha idéia é a de fortalecer os vínculos mais íntimos de amizade e relaçãojá existentes e , aos poucos, provar novas situações de relação e convívio com os nossos desafetos aonde poderemos demonstrar mais empatia , mais paciência e mais tolerância na (re) condução das nossas amizades e criar permanentemente em nós um sentimento de familiaridade para ser repartido com todos que se aproximarem do nosso convívio.

Assim , aos poucos poderemos estabelecer uma nova possibilidade de convivência entre todos que nos cercam e nos buscam , baseada na compaixão, na empatia , na igualdade e no respeito fundamental a diferença.Contudo , tenho claro que esse não é um programa de vida muito fácil. Pelo contrário , acredito que é um projeto pra ser construído durante toda(s) a(s) nossa(s) vida(s).São os estágios que estamos experimentando para o nosso desenvolvimento espiritual.E, nessa condição de aprendizes , estamos (re)vivendo todos os dias as nossas oportunidades de melhora e transformação.E, só depende de nós , cultivarmos nas nossas relações, os nossos melhores sentimentos – com todos os seres que nos cercam , inclusive com os que podem nos ferir .

A nossa (re) tomada de consciênciadeve priorizar o aperfeiçoamento das nossas mais íntimas emoções.Acredito firmemente que o caminho para a nossa transformação está fundamentado na nossa conduta diária e cotidiana.Se estivermos desenvolvendo o nosso potencial de maneira estável e continua, poderemos nos transformar em sujeitos mais compassivos e mais generosos , não só com os mais próximos e amigos , mas também com os mais afastados , os mais necessitadose os mais desprovidos . Assim , estaremos experimentando a nossa possibilidade de superação da parcialidadeepoderemos (re) conhecer em nós a capacidade de resgatar a afeição, o perdão, a bondade , a compaixão e o amor nas nossas relações , e entender que nenhum desses sentimentos são artigos de luxo , sendo responsáveis por nos levar naturalmente a uma conduta mais respeitosa e ética na(s) nossa(s) vida(s).

Mafr.


Autor: Marco Rezende


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