A verdadeira arte na escola



A VERDADEIRA ARTE NA ESCOLA


Se você separar as atividades artísticas de seus alunos classificando-as como criações ou reproduções, o que seria a maioria?
Ao cursar o magistério, lembro-me de ter separado e organizado em pastas, diversas atividades mimeografadas, eram as "atividades de educação artística", que levava o aluno apenas a pintar e completar pontilhados.
Guardei esse material e quando comecei a lecionar senti-me segura por ter esse material em mãos, tanto para meu uso, quanto para compartilhar. A pasta era um sucesso entre as colegas professoras. Isso em 1996.
O tempo passou, as mudanças ocorreram, mas parece que algumas coisas ainda permanecem...
Apesar de saber que as pastas ainda existem, a moda agora é xerografar coleções que são compradas pelos professores e pedir que os alunos pintem e em algumas raras exceções colem papeis ou grãos em desenhos prontos por desenhistas profissionais.
Mesmo com a boa intenção que tive e que vejo em muitos colegas, sinto-me incomodada ao me deparar cada vez mais com crianças dizendo que não querem ou não sabem desenhar, em uma idade em que as crianças deveriam ter autonomia em exercitar sua apropriação cultural, interpretando "da sua maneira" o que vê, o que compreende.
Ao observar as atividades propostas para os alunos por diversos professores que tenho contato, observo que alguns também têm a mesma preocupação e buscam não apresentar desenhos prontos para os alunos, o que já é um avanço, porém as aulas de artes ficam a serviço de outras disciplinas ou conteúdo. Isto ocorre muito em atividades de história e geografia, o desenho é proposto como forma de ilustrar algum novo conteúdo estudado em sala de aula.
Sei que temos inúmeros recursos de que podemos utilizar para que os alunos assimilem novos conhecimentos e que são perfeitamente válidos, mas e os objetivos específicos do ensino de artes? Existe um espaço para eles? Os professores conhecem tais objetivos?
Se buscarmos na história de nosso país veremos que foi com Anita Malfatti e Mário de Andrade, na Semana de Arte de 1922, em São Paulo, que a produção do desenho infantil e demais linguagens da infância passa a ter destaque e a atenção de olhares diferenciados: vários artistas procuravam compreender a criança em suas atitudes, livres de influências. Apesar desse "novo olhar", a estrutura do ensino da arte permaneceu com o estilo típico que havia sido introduzido no Brasil no início do século XIX, por D. João VI. Nas décadas de 60 e 70, a criança passou a ser o foco do processo ensino-aprendizagem, e que trouxe uma tímida mudança do ensino da Arte que passou a valorizar mais a expressão, mais o processo do que o produto.

Hoje, busca-se um ensino de Arte que tenha participação, respeito, troca, socialização e aprendizagens diversas, que venham contribuir na formação de sujeitos integrais, críticos, autores e autônomos.
A aula de Artes deve ser esperada pelos alunos como aquela em que ele vai poder expressar se livremente e ser respeitado, pois cada criança tem a sua cor favorita, um traço peculiar, um jeito pessoal de usar a folha. O espaço deve ser preparado para que os alunos tenham uma grande diversidade de materiais: esculturas, fotografias, desenhos, imagens e filmes.
Durante a minha busca de aulas melhores, mudei a minha prática em sala de aula e o resultado foi motivação e prazer. Quero agora compartilhar o que deu certo:

1. Permita que as crianças desenhem livremente e escolham qual material utilizar: canetinha, tinta, lápis de cor, giz de cera, entre outros;
2. Converse com as crianças sobre o que ela está fazendo;
3. Permita que a criança escolha entre desenhar, moldar argila ou criar a partir de sucatas;
4. Preste atenção em seus gestos durante as produções, isso diz muito sobre a intenção do desenho;
5. Pergunte o que ela produziu;
6. Estimule a conversa em roda sobre as produções do grupo para que todos opinem e percebam o percurso criador de cada um;
7. Tenha um diário de registros para anotar o que elas contam sobre suas produções;
8. Fixe às produções dos alunos a altura de seus próprios olhos para que sejam observadas por todos.

Faço um convite a você para buscar um trabalho com arte que você ainda não tenha experimentado, mas que busque a valorização da livre expressão, respeito e troca. Que seja um espaço de múltiplas linguagens e expressões, espaços privilegiados de apropriação e produção cultural.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MARTINS, Mirian Celeste et al. Didática do ensino da Arte: a língua do mundo ? poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998.
CAVALCANTI, Zélia (coord.). Arte na sala de aula. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995


Autor: Ellen Silva


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