Fábula Da 'dita-dura' Nacional



Fernando Henrique recomenda atenção aos correligionários. Motivo: a possível reeleição de Lula, em 2010. Não é recente a preocupação do ex-presidente com relação ao insólito terceiro mandato. Em agosto do ano passado, em entrevista a Folha de São Paulo, Lula descartou totalmente a possibilidade, ao afirmar que "quando um dirigente político começa a pensar que é imprescindível, insubstituível, começa a nascer um ditadorzinho". Em resposta, um cético FH comenta que o difícil é "resistir ao canto da sereia", e afirma que a preocupação não seria quanto aos eleitores, e sim quanto á cúpula do PT, que poderia vir a reivindicar o pleito. Para seu tormento, entretanto, a opinião popular anda favorável, conforme pesquisa recente da CNT/Census, que aponta o petista como candidato preferencial, com 18,6% dos votos (quatro vezes á frente do segundo colocado e homem de FH, José Serra). Os moderados, diante da consternação, diriam: "Acalmem-se, senhores, tem ainda a Constituição, que não permite o terceiro mandato". "Pura ilusão, meus caros", responderia, por experiência própria, o vigilante cacique, que em 97 aprovou uma emenda constitucional que permitia a reeleição, da qual ele próprio foi beneficiário. A solução, então, seria mudar a lei? Criar emendas para desautorizar emendas? Desnecessário. Segundo o jornalista Reinaldo Azevedo – e a notícia não é nova – é preciso atentar para o projeto de Decreto Legislativo 1494/04, que autoriza o TSE a realizar, EM DATA QUE ACHAR CONVENIENTE, plebiscito para consultar a população sobre o voto obrigatório, a adoção do financiamento público e a REELEIÇÃO DOS CHEFES DO PODER LEGISLATIVO. Trocando em miúdos: Se o vaticínio da aprovação popular vier a se concretizar, para desespero da casta girondina, o resultado teria chances de ser favorável. Razão de sobra para que, dando asas a imaginação, possamos embaralhar os papéis históricos e especular a fábula, que se daria mais ou menos assim:

Luís Inácio, eleito "pelos braços do povo", nem chegaria a tomar posse. Na subida da rampa do planalto esbarraria no imponente Serra, acompanhado de seu burrinho (o animal, não confundam, não me comprometam), com o Aécio Minas e o Kassab Sampa a tiracolo, em aliança para a conflagração da nova e atualizada versão da república do café com leite, a "dita-dura" milk-shake. Com a debandada popular, insuflada pela presença do Bope, sob o comando do capitão Nascimento, pela inflação do real, cuja autoridade o padrasto requesta, e logicamente, pela Copa do Mundo – que ninguém é maluco de perder os jogos por causa de pinimba política, só restaria ao destronado Lula e seu enfraquecido séqüito bater em retirada, tomando o cuidado de desviar do caminho da Colômbia, onde a revolucionária Heloísa Helena já teria feito carreira gloriosa a frente do comando das Farc, e da Argentina, que no momento desfrutaria da sapiência de nosso ilustríssimo César (o Maia, democrata anti-tucano, especialista em boicotes), envolvido com a nova versão da campanha de entrave ao tomate, o vilão da inflação hermana. Enquanto isso, o recém empossado José brincava de revogar a Constituição, extinguir os partidos não tucano-democratas, nomear interventores para os governos estaduais e se outorgar plenos poderes. Tudo na maior democracia, é claro.

Loucura? Concordo plenamente. Mas seria, realmente, tão mais inusitado que o circo já montado, onde reinam descarados assumidos, malandros engravatados e barões do mensalão e do crédito corporativo? Não sei não...

De qualquer forma, a essa hora, nosso Vargas, juntamente com a toda a casta militar pós Jango, deve estar se revirando no túmulo.


Autor: Daniele Barizon


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