EXISTENCIALISMO



EXISTENCIALISMO
SEGMENTO FILOSÓFICO QUE DEFINE A ESSÊNCIA DO SER

RESUMO
O termo existencialismo originou-se no século XIX e XX em um contexto de certa turbulência, tomado tanto na sua acepção lata como enquanto corrente filosófica propriamente dita, se manifestando, sobretudo naqueles momentos em que uma crise social. Foi o que aconteceu no período em que ocorreu a Primeira Guerra Mundial, em que o Homem se confrontou com a morte em grande escala, o que o levou a questionar-se sobre algo que lhe parecia inquestionável até então: o progresso otimista da ciência e o desenvolvimento da técnica. O existencialismo foi inspirado em alguns pensadores como; Arthur Schopenhauer, Kierkegaard, Nietzsche, Husserl, Heidegger, que deram a esta vertente filosófica um segmento intelectualizado no estudo da condição humana, cujo objeto principal de estudo é a condição problemática do homem enquanto ser no mundo. Outra perspectiva existencialista difundida no século XX é de pensadores como, Sartre, Camus e Beauvoir, que foram conduzidas por compromissos políticos. Através do existencialismo, pressupõe-se que a vida seja uma jornada de aquisição gradual de conhecimento sobre a essência do ser, por esta razão ela seria mais importante que a substância humana. Esta visão dá margem a uma angústia existencial diante do que não se pode compreender e conceder um sentido.
Palavras-chave: homem, vida, existência, crise social, morte.
Essência do Ser
A distinção entre essência e existência corresponde à distinção entre conhecimento intelectual e conhecimento sensível. Os sentidos põem em contato com os seres particulares e contingentes, únicos que realmente existem, ao passo que a inteligência permite aprender as idéias ou essências, gêneros e espécies universais, meras possibilidades de ser, em si mesmas inexistentes.
Sabe-se, no entanto, desde Sócrates, que o objeto da ciência é o universal e não o particular, quer dizer a essência e não a existência. Platão tenta resolver essa contradição, criando hipóteses para as ideias, atribuindo-lhes a realidade, no mundo supra-sensível ou topos ouranoú (lugar do céu). Poder-se-ia dizer que é em nome da existência que Aristóteles critica a teoria platônica das ideias, sustentando que as essências, não estão fora, mas dentro das próprias coisas, as quais, feitas de matéria e de forma, contem em si mesmas, o universal e o particular, a essência e a existência.
As filosofias existencialistas partem do pressuposto de que a existência e anterior a essência, tanto ontológica quanto epistemologicamente, quer dizer tanto em relação ao ser, ou à realidade, quanto em relação ao conhecimento.
Para ARANHA (2003, p357):
[...] "O ser humano possui uma essência, uma natureza humana universal, da mesma forma que todas as coisas têm essência. Por exemplo, a essência de uma mesa é o ser mesmo da mesa, aquilo que faz com que ela seja mesa e não cadeira."
Na perspectiva do existencialismo, as idéias, ou as essências, não são anteriores às coisas, pois não se acham previamente contidas nem na inteligência de Deus nem na inteligência do homem. As ideias, ou essências, são contemporâneas das coisas, são as próprias coisas consideradas de determinado ponto de vista, em sua universalidade e não em sua particularidade. Síntese do universal e do particular, o indivíduo existente é redutível ao pensamento, ou inteligível, na medida em que contem o universal, a essência humana, por exemplo, nesse homem determinado, e irredutível, enquanto particular, esse homem com características que o distinguem de todos os demais e o tornam único e insubstituível.
Para o Existencialismo, o único ser que existe é o Homem, e ele exerce essa influência ao perceber-se livre para escolher. O Homem constrói sua essência a partir de suas escolhas, nada está pré-determinado, e é a partir da angústia de ter que escolher que o Homem define o que ele quer ser. De acordo com Penha (1995) a angústia se faz presente no momento de escolha porque este envolve deixar de lado todas as outras possibilidades em função de uma, ou seja, na escolha sempre lidamos com perdas. "O homem deve ser inventado todos os dias", sintetiza Sartre. Por esse motivo nós temos a famosa frase, que é uma das máximas do Existencialismo: "A existência precede a essência".
O existencialismo concorda com certas correntes do pensamento judaico e cristão, nos quais observa a existência humana como desgraçada, e a vida humana como vivida no sofrimento e no pecado, culpa e ansiedade. Essa imagem negra da vida humana leva os existencialistas a rejeitar conceitos como felicidade, otimismo esclarecido, um senso de bem-estar e a serenidade do estoicismo, já que esses aspectos podem refletir apenas uma compreensão superficial da vida, ou um caminho ingênuo ou tolo da negação do desespero; aspecto trágico da existência humana.
O homem necessita do mundo para saber quem é e situar-se em dado momento. "A sua essência está em ser relativamente a algo ou alguém", afirma Heidegger, porém as pessoas muitas vezes desejam estar imunes a essa relação ? com o mundo e com o outro. Elas querem estar acima de qualquer olhar que as denuncie em sua extrema humanidade. "Não quero mais sentir", "não quero mais me envolver com as pessoas", "quero ter o controle total da minha vida sem que ninguém interfira nela, não preciso de ninguém", "não quero mais me preocupar com que o outro vai pensar". Desejos distantes da realidade humana, objetivos que fazem as pessoas afastarem-se de sua própria condição de existência.
Percebe-se assim, a preocupação em explicar o sentido das vidas humanas de uma forma subjetiva, ao invés de se preocupar com verdades científicas relativas ao universo, que fora o centro de outras correntes filosóficas.
O existencialismo segundo Sartre
Ser homem é tender a ser Deus; ou, se preferirmos, o homem é fundamentalmente o desejo de ser Deus.
Jean-Paul Sartre

Jean-Paul Charles Aymard Sartre (1905 -1980) era uma figura sardenta, esquisita e cuja vesguice se postava atrás de um pesado par de óculos. Assim poderia ser descrita a aparência de uma das mentes mais brilhantes e mais populares do século vinte. Jean-Paul Sartre nasceu em berço burguês, na cidade de Paris, um ano antes da morte de seu pai, um jovem oficial da marinha, que faleceu vitimado por uma febre. Foi filósofo, escritor e crítico. Ficou conhecido como o principal representante do existencialismo. Acreditava que os intelectuais têm de desempenhar um papel ativo na sociedade. Era um artista militante, e apoiou causas políticas de esquerda com a sua vida e a sua obra.
O ponto de partida do existencialismo sartriano é a subjetividade, o cogito cartesiano, que apreende a verdade absoluta da consciência na intuição de si mesma. Na subjetividade existencial, porém, o homem não atinge apenas a si mesmo, mas também aos outros homens, como condição de sua existência. O que o cogito revela é a intersubjetividade, na qual o homem decide o que é e o que são os outros. O existencialismo de Sartre conduz ao desespero, pois nele o ser humano encontra-se sozinho, abandonado, independente.
No famoso texto O existencialismo é um humanismo, Sartre (1987) usa como exemplo um objeto fabricado qualquer, como um livro ou um corta-papel: neles a essência precede a existência; da mesma forma, se imaginarmos um Deus criador, o identificamos a um artífice superior que cria o homem segundo um modelo, tal qual o artífice fabrica um corta-papel. Daí deriva a noção de que o homem tem uma natureza humana, encontrada igualmente em todos os homens. Portanto, nessa concepção, a essência do homem precederia a existência. Não é essa, no entanto, a posição de Sartre ao afirmar que a existência precede a essência: "Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define.
Em Bornheim (1984) Sartre também discute a questão da morte. Ele acha que a morte tira o sentido da vida, ou seja, ela é a "nadificação dos nossos projetos, é a certeza de que um "nada" total nos espera. Sartre conclui: se nos temos de morrer, a nossa vida não tem sentido porque os seus problemas não recebem qualquer solução e porque até a significação dos problemas permanece indeterminada.
Defende o existencialismo contra os católicos afirmando que esta é uma doutrina que torna a vida humana possível graças à subjetividade humana. Sartre ainda especifica a diferenciação entre as duas escolas do existencialismo, a dos existencialistas cristãos Jaspers e Marcel e os ateus Heidegger e o próprio Sartre, afirma que a única coisa que une estas duas correntes é que a existência precede a essência. Ou se preferir é necessário partir da subjetividade.
O existencialismo ateu afirma que, se Deus não existe há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito. Este ser é o homem, ou melhor, a realidade humana. Isto significa que, em primeira instância , o homem existe, surge no mundo e só posteriormente se define.
O homem, tal como o existencialista o concebe, só não é passível de uma definição porque, de início, não é nada; só posteriormente será alguma coisa e será aquilo que ele fizer de si mesmo. Assim, não existe natureza humana, já que não existe um Deus para concebê-la.
Segundo Sartre (1967), o homem é aquilo que ele mesmo faz de si, é a isto que chamamos de subjetividade. Porém, se realmente a existência precede a essência, o homem é responsável pelo que é. Desse modo, o primeiro passo do existencialismo sartriano é de por todo o homem na posse do que ele é de submetê-lo à responsabilidade total de sua existência.
Conclui-se que o existencialismo é uma moral da ação, porque considera que a única coisa que define o homem é o seu ato. Ato livre por excelência, mesmo que o homem esteja sempre situado num determinado tempo e lugar. Não importa o que as circunstâncias fazem do homem, "mas o que ele faz do que fizeram dele".






BIBLIOGRAFIA

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: introdução à filosofia/ Maria Lúcia de Arruda, Maria Helena Pires Martins. 3.ed.revista .São Paulo: moderna,2003.
BORNHEIM, Gerd. A. Sartre. 2.ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 1984, 315 p. (Coleção Debates).
CHALITA, Gabriel. Vivendo a filosofia. 2.ed.São Paulo:Atual.2004.
ETCHEVERRY, Auguste. O Conflito Actual dos Humanismos. 3.ed. Trad. M Pinto dos Santos. Porto: Editora Tavares Martins, 1975, 320 p.
PENHA, J. 1995. O que é Existencialismo. 12ª ed., São Paulo, Brasiliense, 88 p.
REICH, W. 1973. Materialismo Dialético e Psicanálise. Lisboa, Presença, 134 p.
SARTRE, J-P. 1967. Questão de Método. São Paulo, Difel,148 p.
SARTRE, J-P. 1987. O Existencialismo é um Humanismo. 3ª ed., São Paulo, Nova Cultural, 1-32. (Coleção Os Pensadores).
VOLTAIRE, Schilling. Caderno de História [on line]. Disponível em: , acesso em 12 de novembro de 2009.




Autor: Danielle Santana


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