A LETRA ESCARLATE



A LETRA ESCARLATE

Uma das origens do fato de os médicos escreverem de modo ilegível está em que os primeiros médicos se comunicavam por sinais e se preocupavam mais em estudar as propriedades da flora medicinal e através dela curar doenças do que em aprender caligrafia ou escrever bonito. Por outro lado, houve uma época em que as receitas eram cifradas, de médico para farmacêutico. Até que os médicos se tornaram escritores.
Hoje temos médicos escritores às centenas, aos milhares, espalhados pelo mundo. Alguns deles jamais clinicaram e outros abandonaram a medicina para se dedicar à literatura. Um desses foi o conhecido escritor inglês William Somerset Maugham, que em muitos de seus livros faz referência a este assunto, de ter abandonado a medicina ainda jovem para se tornar um viajante e um escritor. Com Archibald Cronin aconteceu algo semelhante.
Pois não raramente estes escritores médicos ou médicos escritores escrevem crônicas, ensaios, contos e até romances tendo por base sua profissão.
Outras vezes são os leigos que escrevem sobre medicina ou sobre temas a ela relacionados, como foi o caso de Robert Louis Stevenson, autor da novela O Médico e o Monstro, e dos escritores norte-americanos Edgar Alan Põe e seu contemporâneo Nathaniel Hawthorne.
A propósito deste último, em seu romance A LETRA ESCARLATE, ele nos conta a história de um médico e intelectual inglês, estudioso da flora, que desejando vir com a esposa residir na América, no tempo da emigração colonial, embarcam ele e a mulher em navios diferentes.
A esposa chega primeiro. Depois recebe a trágica notícia de que o navio do seu marido havia naufragado. Ela, para sobreviver, quando terminam seus recursos, começa a trabalhar, e lá um dia aparece grávida. Como os costumes protestantes da época não admitiam e até puniam com rigor como se fosse um crime o fato de uma mulher ser mãe solteira, ela é presa por adultério, e na prisão dá à luz uma menina. Depois é condenada a usar para o resto de sua vida um uniforme com uma letra A (de "adúltera") vermelha bordada sobre o peito.
Passado algum tempo o seu marido, que não havia morrido no naufrágio e sim fora capturado por indígenas, aparece no povoado sob falsa identidade. Ele enquanto estivera cativo aumentara seus conhecimentos sobre a flora medicinal com os curandeiros indígenas e, como não havia outro médico no povoado, começa a clinicar e também a pesquisar sobre ervas e plantas curativas do lugar.
Ao deparar com sua esposa naquela situação, ficam separados, porém secretamente continuam mantendo relações.
Sem poder obter da própria mulher a confissão de quem é o pai da criança, passa a investigar o caso por sua conta e acaba descobrindo que o pai da menina é o pastor protestante da comunidade, de quem se tornara amigo e confidente. Na condição de seu médico particular, inventando o diagnóstico de uma doença espiritual para a qual não havia tratamento em sua ciência, convence-o de que só pode ser curado mediante o arrependimento. E assim induz o pastor ao remorso e à confissão pública do seu crime.

(Luciano Machado)

Autor: Luciano Machado


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