Estudo Dos Efeitos Da Aplicação Da Vinhaça Na Qualidade De Solos Em Cultivos De Cana-de-açúcar (saccharum Officinarum L.), E O Uso De Indicadores No Sistema De Produção



ESTUDO DOS EFEITOS DA APLICAÇÃO DA VINHAÇA NA QUALIDADE DE SOLOS EM CULTIVOSDE CANA-DE-AÇÚCAR (Saccharum officinarum L.), E O USO DE INDICADORES NO SISTEMA DE PRODUÇÃO.

Rubens Pessoa de Barros
*

* Biólogo - Mestrando em Agroecossistemas do NEREN - Núcleo de Estudos de Pós-Graduação e Recursos Naturais da UFS – Universidade Federal de Sergipe, Professor Efetivo da Uneal – Universidade Estadual de Alagoas.

1. Introdução

O termo origina-se do latim indicare verbo que significa apontar ou proclamar. Em português, indicador significa aquilo que indica, torna patente, revela, propõe, sugere, expõe, menciona, aconselha, lembra. Um indicador, segundo Abbot e Guijt (1999), é algo que auxilia a transmitir um conjunto de informações sobre complexos processos, eventos ou tendências. Para Mitchell (1997), um indicador é uma ferramenta que permite a obtenção de informações sobre uma dada realidade. Já Beaudoux et al. (1993) afirmam que os indicadores servem para medir e comparar, sendo ferramentas que auxiliam na tomada de decisões e não métodos. Esses autores ainda destacam que se tem de evitar asfixiar uma ação com uma sujeição demasiado rígida aos indicadores.

Um indicador permite a obtenção de informações sobre uma dada realidade (Mitchell, 1997). O levantamento de indicadores de sustentabilidade podem, contribuir para uma busca de soluções para os impactos gerados pelo modelo de desenvolvimento que originam os problemas sociais e econômicos enfrentados atualmente pelas sociedades. Os estudos avançaram na necessidade de definir padrões sustentáveis de desenvolvimento que considerassem aspectos ambientais, econômicos, sociais, éticos e culturais e por este motivo, foi proposto o desenvolvimento de indicadores de sustentabilidade na Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente (Rio-92). Oliveira, (2006).O desenvolvimento de indicadores com o objetivo de avaliar a sustentabilidade de um sistema, monitorando-o, poderá permitir que se avance de forma efetiva em direção a mudanças consistentes na tentativa de solucionar os inúmeros problemas ambientais e sociais levantados (Marzall e Almeida, 2000), & Oliveira, (2006).

A sustentabilidade nos agroecossistemas tem sido motivo de discussões em vários países dependentes de índices positivos na produção agrícola.Segundo Conway (1987),os agroecossistemas possuem propriedades que possibilitam avaliar se os objetivos e metas aumentam o bem-estar econômico e os valores sociais dos produtores, estas podem ser descritas a saber: a produtividade de um determinado produto por unidade de recurso que entra numa área, estabilidade definida como a constância da produtividade em face de pequenos distúrbios que podem ocorrer normalmente e de ciclos ambientais, sustentabilidade que é a capacidade de um agroecossistema manter sua produtividade quando exposta a um grande distúrbio, e equidade que é definida como a distribuição da produtividade do agroecossistema. Para Marten (1988), além de todas as propriedades citadas anteriormente acrescenta-se a autonomia, considerada como a capacidade do agroecossistema manter-se ao longo dos anos.

Um critério geral para a seleção de indicadores é que estes devem ser capazes não apenas de sinalizar a existência de uma degradação no sistema, mas também de advertir sobre eventuais perturbações potenciais. Marques et al., (2003). As atividades humanas têm utilizado com muita voracidade, os recursos naturais e, a partir da chamada revolução verde, com o uso intensivo de defensivos agrícolas, existe fartura de alimentos, combustíveis e tecnologia, capazes de salvar vidas. Em contrapartida, tem ocorrido intensa degradaçãoambiental com diminuição da biodiversidade, contaminação das fontes de água e do solo, ameaça àfauna e flora, explorados nos agroecossistemas que seriam uma opção para minimizar os impactos causados pela humanidade ao meio ambiente, Conway (1991), descreve-o como sendo sistemas ecológicos modificados pelo homem para a produção de alimento, fibra ou outro produto agrícolae isto tem tomado um longo tempo de pesquisas. Oliveira, (2006).

O crescimento populacional do nosso planeta e a necessidade por energia para a indústria e o comércio, tem aumentado gradativamente, e as reservas de petróleo, principal fonte de energia do modelo de desenvolvimento atual, estão chegando ao fim. Por esse motivo, dentre outros, o aquecimento global, provocado pela emissão de gases do efeito estufa é que várias instituições de pesquisa e ensino, estão trabalhando em busca de outras fontes de energia, de preferência, renováveis.

Uma das alternativas de uso de energia limpa que é sucesso no Brasil é o álcool, um biocombustível produzido a partir da cana-de-açúcar (Saccharum sp.), originária da Ásia onde é cultivada a vários anos, foi disseminada pelo mundo devido a sua multiplicidade de utilização, pode ser empregada in natura, sob a forma de forragem, para a rapadura,aguardente, açúcar, etanol (álcool) e etc.

O efeito do aquecimento global nos últimos anos tem levado vários países e seus governantes a adotarem nova postura de desenvolvimento, no que diz respeito ao uso de energia. A procura por etanol, nas destilarias do nosso país, tem contribuído para o crescimento da produção elevando a porcentagem deste produto no mercado um agro negócio industrial, desta forma, cerca de 60% de toda cana produzida é transformada em álcool anidro e álcool hidratado, sendo produzido por safra o equivalente a 14 bilhões de litros em nosso país.

2. A cana-de-açúcar – base da produção de álcool

Historicamente a cana de açúcar é um dos principais produtos agrícolas do Brasil, sendo cultivada desde a época da colonização. A cultura da cana-de-açúcar tem um grande destaque sócio-econômico em nosso país (ÚNICA 2002).A indústria canavieira, com aproximadamente 350 indústrias de açúcar e álcool, ocupa cerca de 5.677.396 hectares de área, gerando um 1.000.000 de empregos diretos e indiretos, e possui uma capacidade de produção de 396.012.158 toneladas de cana-de-açúcar, na safra de 2003/2004, sendo 55% destinadas à produção de álcool anidro e hidratado e 45% de açúcar (IBGE, 2004).

Este grande agro negócio industrial é caracterizado pela produção de um grande volume de resíduos, sendo a preocupação ambiental dos órgãos envolvidos. O processo industrial de uma tonelada de cana-de-açúcar gera uma série de subprodutos e resíduos, que podem ser utilizados de forma ecologicamente correta.

Os ecossistemas que compõem o planeta Terra, são constituídos por uma complexa rede de recursos que sustentam a vida do ser humano, cuja utilidade depende da sua capacidade em aproveitá-los. Filho, (2005).

Um sistema que se apresenta racional, consiste em buscar a utilização mais eficiente dos recursos naturais disponíveis, definindo as possíveis combinações, e qual a maneira mais conveniente de alcançar os melhores índices de rendimento. (Albuquerque, 1980).

A utilização da vinhaça como fertilizante de forma racional, através da fertirrigação, ocorreu após os desastres ecológicos nos cursos d'água, só a partir disso, é que foram desenvolvidos estudos, para oseumelhoraproveitamento, onde vem apresentando efeitos positivos sobre a produtividade agrícola por hectare e prolongando o ciclo da cana. (Freire & Cortez, 2000, p. 22). Com isso, a sua utilização nas plantações de cana-de-açúcar vem mudando nas últimas décadas, o conceito que se tinha da vinhaça como um resíduo poluente.

A adubação é uma prática agrícola indispensável para o acréscimo ou na manutenção dos níveis de produtividade adequada e que contribui com êxito no custo de produção da cana-de-açúcar, torna-se necessário o uso correto dos fertilizantes, para se obterem produções cada vez mais econômicas. No cultivo de cana-de-açúcar, para se obter uma grande produtividade, é necessário que o solo tenha boas quantidades de nitrogênio, fósforo e principalmente potássio que é o nutriente extraído do solo em maior quantidade por essa cultura. (Szmrecsányi, 1994, p. 74).

3. Considerações sobre a Vinhaça

A vinhaça, vinhoto,restilo ou calda da destilaria, é resultante da produção de álcool, após a fermentação do mosto e a destilação do vinho. Trata-se de um material com cerca de 2 a 6% de constituintes sólidos, onde se destaca a matéria orgânica, em maior quantidade. Em termos minerais apresenta quantidade apreciável de potássio e médios de cálcio e magnésio (Rossetto, 1987). Ainda, segundo Rossetto (1987), dos efluentes produzidos pelas destilarias de álcool, a vinhaça é a que possui a maior carga poluidora, pois apresenta DBO variando de 20.000 a 35.000 mg/l de vinhaça. A quantidade de vinhaça produzida pela destilaria é função do teor alcoólico obtido na fermentação, de modo, que a proporção pode variar de 10 a 18 litros de vinhaça por litro de álcool produzido. O valor econômico que a vinhaça adquiriu a partir de 1975, torna essa hipótese de agente poluidor e consequentemente de desequilíbrio ambiental, descartável tendo em vista os resultados obtidos e os conhecimentos acumulados sobre o problema (Rossetto, 1987).

A aplicação de vinhaça na lavoura, bem como afertirrigação, é prática adotada por todas as usinas, com tecnologia conhecida e bem definida, existindo inúmeros ensaios que comprovam os resultados positivos obtidos na produtividade agrícola, associados à economia dos adubos minerais (Penatti et al, 1988). A grande vantagem no emprego da vinhaça é que ela pode substituir em grande parte os nutrientes da adubação mineral, sendo vários trabalhos que mostram aumento de produtividade da cana-de-açúcar devido à sua aplicação (Agujaro, 1979).

Mesmo com os efeitos benéficos da vinhaça no solo, Centuríon et al. (1989) alertam que, quando aplicada em altas taxas, conduz a efeitos indesejáveis, como o comprometimento da qualidade da cana para produção de açúcar, poluição do lençol freático e até para a salinização do solo. A dinâmica dos constituintes da vinhaça no solo focando os aspectos físicos e químicos e a possível poluição do lençol freático foi estudada por Cunha et al. (1987), concluindo que houve pequeno risco do potássio e do nitrato em poluir a água subterrânea devido à irrigação com vinhaça, visto que a lixiviação de íons abaixo da profundidade máxima de observação (1,20 m) das unidades coletoras foi pequena.

Por outro lado, a ação do solo na redução da matéria orgânica foi, de maneira geral, mais efetiva na camada superficial de 10 a 15 cm (Paganini, 1997) e, em decorrência da aplicação de vinhaça, de forma mais intensa, até a profundidade de 24 cm (Lyra et al., 2001). A matéria orgânica particulada filtrada pelo solo e a dissolvida que percola pelo mesmo, são parcialmente degradadas por microrganismos. O solo contém uma quantidade de microrganismos heterotróficos que conferem ao sistema, como um todo, a habilidade de utilizar e degradar a maior parte dos compostos orgânicos sob as mais diversas condições (Paganini, 1997)

Durante muitos anos a vinhaça foi descartada em rios e riachos, próximos às destilarias. Em função da sua riqueza em matéria orgânica, a vinhaça apresenta um elevado índice de DBO e DQO como já foi descrito, sendo assim, caracterizada como material altamente poluente.

Nos últimos anos, a alternativa adotada pelos usineiros, para resolver o problema de poluição dos cursos d'água, tem sido a utilizaçãoda vinhaça como fertilizante, por possuir uma riqueza em matéria orgânica e por possuir nutrientes como o nitrogênio, fósforo, cálcio e potássio. (Ludovice, 1997, p.. 5-6).

Almeida, (1952), recomenda que se conheça a composição química da vinhaça, para que se possa orientar com segurança qual a dosagem a ser aplicada, uma vez que há diversos fatores que interferem em sua composição, destacando a natureza e a composição da matéria-prima.

A vinhaça pode ser formada a partir de três mostos diferentes, o que lhe confere níveis variáveis para cada elemento mineral.Filho, (2005). O mosto de melaço é o mais rico apresenta em média níveis de NPK com cerca de 0,57; 0,10; 3,95 kg/m³ de vinhaça, respectivamente. O mosto misto, que é produzido em usinas com destilarias, apresenta níveis com cerca de 0,48 de N, 0,09 de P, 3,34 de K e o mosto de caldo, produzido em destilarias isoladas, apresenta os níveis de NPK em kg/m³ de vinhaça, 0,28; 0,09; 1,29 respectivamente (Rodella,etal.).

O uso agrícola da vinhaça e os seus benefícios oriundos do solo são indiscutíveis, tanto do ponto de vista agronômico, econômico, quanto social. Coelho, (1986). O benefício imediato decorrentes do uso racional desse resíduo nas lavouras canavieiras se dá pelo aumento da produtividade, que ocorre com mais intensidade em solos mais pobres e em regiões mais secas, e inclui-se aqui a economia de fertilizantes.

4. Metodologia

O objetivo desse trabalho é de construir indicadores de sustentabilidade, buscando compreender a importância dos elementos que controlam a atividade agroindustrial canavieira.A pesquisa bibliográfica será feita a partir da aplicação de vinhaça em solos, cultivados com cana-de-açúcar (Saccharum sp)para conhecer os efeitos que um alto teor de potássio pode vir a causar nacomposição química deste solo e as relações com a qualidade tecnológica de cana-de-açúcar a ser produzida.

A metodologia a ser utilizada será o que é recomendado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE – 1993), Pressão/Estado/Resposta (PER), que define indicador de uma forma mais abrangente, como um "parâmetro, ou valor derivado de parâmetros, que indica, fornece informações ou descreve o estado de um fenômeno área/ambiente, com maior significado que aquele apenas relacionado diretamente ao seu valor quantitativo" adaptada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA-CIAT, 1996). A matriz PEI/ER é oriunda da estrutura conceitual para seleção de indicadores que foram sistematizados em Pressão-Estado-Impacto/Efeito-Resposta.

O modelo PEI/ER é amplamente utilizado por ser um modelo de organização de informações, de forma a relacionar as causas dos problemas com as respostas que a sociedade gera ou deveria gerar (PNUMA-CIAT, 1996). Este marco conceitual é provavelmente o mais aceito mundialmente devido a sua simplicidade, facilidade de uso e possibilidade de aplicação em diferentes níveis, escalas e atividades humanas.

Este modelo tem como base a elaboração de cinco grupos de indicadores. A primeira categoria, Pressão - observa as causas dos problemas ou mesmo as causas diretas ou indiretas que levam um determinado estudo e/ou pesquisa. A segunda categoria é o Estado - o qual relaciona a qualidade do meio ambiente em função dos efeitos das funções antrópicas. Impacto/Efeito - a terceira categoria se refere aos efeitos e impactos das interações sociedade-natureza causados pelas pressões do estado do meio ambiente. A quarta categoria deste modelo, Resposta - representa as ações que a sociedade gera com respostas às Pressões, Estado e Impacto sobre determinado sistema. Segundo Camino e Muller (1996), indicador é uma medida do efeito da operação do sistema sobre as características significativas de elementos pertencentes a uma determinada categoria de análise (descritores).

5. Resultados e Discussões

A demanda por uma energia limpa tem levado a um aumento na produção de álcool em nosso país, a um custo ambiental incomensurável para os diversos tipos de solos das diversas regiões, dado ao avanço do plantio de cana-de-açúcar em milhares de hectares e uma produção em níveis planetários, para atender ao crescente número de consumidores, proprietários de automóveis flex fuel, em todo planeta.

Essa produção contribui com um passivo ambiental na indústria do álcool também oneroso. Daí, a iniciativa a partir de 1975 de incorporar ao solo a vinhaça, rica em nutrientes retirados do solo, que durante o crescimento da planta, em seu metabolismo foi absorvido e numa visão sistêmica esta aplicação de vinhaça através da fertirrigação pode ser devolvido ao sistema o que foi dele subtraído.

Os indicadores utilizados a partir da matriz PEI/ER, fazem uma reflexão do tamanho do estudo e dar um direcionamento para as tomadas de decisões, uma vez que se devem levar em conta as propriedades do agroecossistema, como um sistema de produção sustentável que provê a estabilidade, produtividade, sustentabilidade e autonomia, Marten (1988) com um enfoque cada vez mais atual que é o de incluir o binômio Homem-sociedade neste contexto sócio-econômico e ambiental.

Quadro 1 - A partir do objeto de estudo a construção da matriz dos descritores indicará os indicadores que nortearão o sistema de produção cana-de-açúcar para a produção de álcool.

DESCRITORES CONFORME O MODELO P-E-I/E-R

PERSPECTIVA AMBIENTAL, ECONÔMICA E SOCIAL.

PRESSÃO

·Mercado de álcool.

·Produção de vinhaça.

·Poluição do solo.

·Poluição da água.

ESTADO

·Atributos físicos,químicos, biológicos do solo.

·Produção de cana-de-açúcar

·Fertirrigação (indicador: volume, área, etc.)

·Custo tecnológico.

IMPACTO

·Poluição dos cursos d´água (DBO, DQO)

·Degradação do solo e lençol freático.

·Custo de produção (ambiental)

RESPOSTA

·Publicações científicas.

·Crédito Agrícola para o setor

·Extensão (Difusão tecnológica)

Quadro 2 – Matriz dos indicadores que auxiliam no planejamento do sistema produtivo: cana-de-açúcar x álcool.

Indicadores de sustentabilidade em um sistema de produção de álcool

Indicadores de Pressão

Indicadores de Estado

Indicadores de Impacto/Efeito

Indicadores de Resposta

Mercado de álcool.

(R$)

Produção de álcool

(litros)

Produção de vinhaça. (m³/há/ano)

Poluição do solo. (%NPK)

Poluição da água. (DBO mg/l)

Atributos físicos, químicos, biológicos do solo.

Produção de cana-de-açúcar. Ton./ha. 455 291 462 l (2006)

Fertirrigação (indicador: volume, área, etc.) m³/há.

Custo tecnológico. (U$)

Poluição dos cursos d´água (DBO e DQO) mg/l

Degradação do solo e lençol freático.

Publicações científicas. (nº)

Crédito Agrícola para o setor. (U$)

Dentre os indicadores desenvolvidos que merecem e permitem atençãopara o estudo, destacam-se aqueles que possuem uma forte demandano sistema desde aprodução até a industrialização ecomercialização, sendoo mercado,o marco definitivoque norteará as decisões a serem tomadas, assim destacam-se:

1. Indicadores de Pressão:

a) Mercado de álcool – O mercado de álcool é garantido pelos consumidores da classe média que possuem automóvel tipo flex fuel, e que a indústria tem uma estimativa de produção por safra de 14 bilhões de litros.

b) Produção de Vinhaça – A produção de vinhaça varia em função dos diferentes processos empregados na fabricação do álcool, de maneira geral cada litro de álcool produzido em uma destilaria gera entre 10 e 15 litros de vinhaça. Na safra de 2004-2005, foram produzidos 14,8 milhões de litros de álcool e a produção resultante de vinhaça de 207,2 milhões dem³/ano.

c) Poluição do solo – A poluição do solo se dá pelo excesso de aplicação da vinhaça, sendo o elemento mais contaminante a matéria orgânica, que se constitui num percentual entre 2 a 6% de material sólido, exigindo uma quantidade de tempo maior de dias para a decomposição e uma demanda da DBO em mg/l.

d) Poluição da água – A descarga do resíduo-vinhaça nos cursos dágua, tem contribuído com a diminuição do oxigênio dissolvido na água, dada a sua elevada DBO (Demanda Bioquímica de oxigênio), que apresenta uma taxa entre 20.000 a 35.000 mg/l de vinhaça.

2. Indicadores de Estado:

a) Atributos Físicos, Químicos e Biológicos – A fertilidade do solo é determinante para a dosagem da aplicação da vinhaça, por isso deve-se levar em conta a densidade, textura, porosidade, etc. e os níveis de NPK do solo, varia de acordo com a composição química originária da vinhaça sendo usada como fertirrigação. A qualidade do solo será avaliada através dos parâmetros: Al (alumínio total), Ca (cálcio), Mg (magnésio), SO4 ( sulfato), H (hidrogênio dissociável), MO (matéria orgânica), CTC (capacidade de troca catiônica), pH (potencial hidrogêniônico), V% (saturação de bases), bem como a presença dos fatores bióticos.

a)Produção de cana – Muito do aumento da produtividade pode ser atribuído ao melhor preparo do solo, ao desenvolvimento de variedades superiores de cana e ao reciclo de nutrientes (vinhaça). Tais técnicas têm reduzido em muito a erosão e menos solo é perdido das plantações de cana do que de outras monoculturas, particularmente no estado de São Paulo (12,4 toneladas por hectare por ano, comparada com 38,1 para feijão, 26,7 para amendoim, 25,1 para arroz, 20,1 para soja, 12 para milho e 33,9 para mandioca) (RIMA, Batatais, 1990). A produção de cana em nosso país tem crescido de forma acentuada, de modo que na última safra a produção foi de 455 291 462 ton./ha.

b)Produção de álcool – Na última safra (2006) houve uma produção de 14,8 milhões de toneladas por metros cúbicos, gerando 207,2 milhões de metros cúbicos de vinhaça por ano.

c)Fertirrigação – A quantidade de doses na aplicação da vinhaça como fertilizante depende da produção de álcool na usina, mas os trabalhos publicados têm apresentado os valores entre 250,3 a 273,8 m³/ha. O mosto de melaço é o mais rico apresenta em média níveis de NPK com cerca de 0,57; 0,10; 3,95 porkg/m³ de vinhaça, respectivamente. O mosto misto, que é produzido em usinas com destilarias, apresenta níveis com cerca de 0,48 de N, 0,09 de P, 3,34 de K por kg/m³ e o mosto de caldo, produzido em destilarias isoladas, apresenta os níveis de NPK em kg/m³ de vinhaça, 0,28; 0,09; 1,29 respectivamente.

d)Custo Tecnológico – O custo tecnológico depende do tamanho da área a ser fertirrigada, antes utilizada com caminhões-tanque e atualmente através de motobomba e tubulações e canais-mestres revestidos nos canaviais, através de redes adutoras com tubos em PVC linha azul e RPVC, aço ao carbono para essa finalidade e PEADou PP.Se for considerada uma área de 907 000 ha na maior dose e 1.814 000 ha na menor dose, o que vem a ser expressivo, pois se levarmos em consideração uma aplicação de adubação mineral de 120 kg K2O/ha feita através de KCl, essa área utilizaria cerca de 181 400 a 362 800 t o que implicaria um investimento financeiro da ordem de 55,9 a 111,8 milhõesde U$, lembrando que todo fertilizante de fonte potássico é todo importado.

3. Indicadores de Impacto/Efeito:

a) Poluição dos Cursos dágua – A carga de DQO da vinhaça é cerca de 28 000 mg/l e essa descarga do resíduo-vinhaça nos cursos dágua, tem ameaçado a fauna e flora devido a diminuição do oxigênio dissolvido na água, dada a sua elevada DBO (Demanda Bioquímica de oxigênio), que chega aapresentar uma taxa entre 20.000 a 35.000 mg/l de vinhaça. O pH também apresenta-se ácido entre 4,0 a 4,5.

b) Degradação do solo e lençol freático – A vinhaça é composta de material químico, que pode ser percolado e lixiado para o lençol freático.As pesquisas revelam que a dinâmica dos constituintes da vinhaça no solo interfere nos aspectos físicos e químicos e a possível poluição do lençol freático. Há um pequeno risco do potássio e do nitrato em poluir a água subterrânea devido à irrigação com vinhaça, visto que a lixiviação de íons abaixo da profundidade máxima de observação (1,20 m) das unidades coletoras é pequena. Por outro lado, a ação do solo na redução da matéria orgânica éi, de maneira geral, mais efetiva na camada superficial de 10 a 15 cm e, em decorrência da aplicação de vinhaça, de forma mais intensa, até a profundidade de 24 cm.

4. Indicadores de Resposta:

a)Financiamento – Os órgãos de financiamento podem disponibilizar linhas de crédito para o setor através do crédito agrícola, conforme o valor do patrimônio e das atividades da indústria. Embora possa existir uma autonomia financeira para as decisões no setor da indústria do álcool.

b)Publicações – Existem vários trabalhos e relatórios de pesquisas sobre a aplicação da vinhaça no solo e as variações da tecnologia da cana-de-açúcar.

Conclusões

1. Observa-se que o uso de indicadores pode funcionar como uma ferramenta de estudo para avaliação de sustentabilidade em agroecosssitemas ou em um agronegócio industrial, como é o caso desta pesquisa bibliográfica e quepode ser aplicado em qualquer região que se proponha a implantar um sistema de produção de cana-de-açúcar cujo produto seja o álcool, observando para isso as propriedades já estudadas de um agroecossistema.

2. Em relação à vinhaça nota-se a preocupação cada vez maior da sociedade científica com o risco que esse material altamente poluente pode causar aos cursos d'água superficiais (rios, lagos, nascentes e várzeas) e ao lençol freático através da percolação até as águas subterrâneas. Essa segunda preocupação é mais latente uma vez que esse tipo de poluição não é imediatamente notada e muitas vezes quando constatada, sua possibilidade de reversão é pequena. Saídas tecnológicas são apontadas por muitos especialistas como a principal alternativa para se diminuir a carga orgânica desse resíduo e reutilizá-lo na fertirrigação com um menor risco de dano à natureza.

3. Há consenso entre os especialistas que o uso da biomassa é uma das principais soluções no curto, médio e longo prazo, para minimizar o impacto extremamente negativo dos gases de efeito estufa e os objetivos da OCDE (Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Econômico), é dar suporte ao uso dos indicadores sistematizados pelo modelo Pressão-Estado-Resposta (PER) e depois adaptado como Pressão-Estado-Impacto/Efeito-Resposta pelas Nações Unidas.

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Autor: Rubens Pessoa de Barros


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