Estudar História



Vamos partir de uma pergunta despretensiosa: O que estudamos em história?

De modo simplificado podemos dizer que estudamos nossas relações sociais, culturais, políticas e econômicas; nossos comportamentos que têm por base nossas relações; nossa existência que se manifesta nas produções com as quais marcamos nossa passagem pelo mundo. Estudamos a vida humana tanto do ponto de vista de sua temporalidade como os processos que produzem os fatos dentro de um determinado período de tempo. Dessa forma, podemos dizer que a História relaciona-se com o Tempo. E, mais especificamente, ela relaciona-se com o passado visto a partir do presente. Ou, ainda, é o presente, procurando dar um sentido e uma explicação para o passado.

Mas, alguém pode perguntar: como estabelecer o contato com o passado? É possível estudar o passado? Voltaremos a isso mais adiante!

A marca humana ao longo dos anos, dentro do processo histórico, é, ao mesmo tempo, processo de produção da cultura e uma necessidade de perpetuação que se realiza pelo registro. Essa perpetuação se dá mediante os documentos, os vestígios e as marcas que compõem o patrimônio histórico e são o resultado da ação humana nu tempo-espaço determinados. Ou seja, em sua temporalidade o ser humano produz marcas culturais e patrimoniais. Essas marcas servem não só para registrar a presença, mas também para perpetuar o evento, o fato ou os processos que produziram os fatos.

Todos os processos sociais, políticos, econômicos, ideológicos, marcam o tempo e o espaço. Em razão disso podemos dizer que tudo que fazemos pode ser chamado de cultura; que pode ser imortalizado nos elementos patrimoniais, está inserido nas categorias tempo e espaço. A história dedica-se aos processos temporais, os quais, como sabemos, ocorrem em espaços determinados. O processo histórico, que é temporal, ocorre localmente. Daí a afirmação de que a história necessita de outras ciências: geografia, antropologia, sociologia, filosofia, etc. Embora cada uma dessas e de outras ciências possuam seus objetos específicos, a história se beneficia com seus avanços, pois, tudo acontece dentro das confrontações: tempo-espaço, portanto, todas as realizações são históricas.

Normalmente, em história, nos dedicamos à busca da compreensão das relações que ocorrem nas sociedades. Relações que envolvem os processos e aspectos da política, da economia e das relações sociais. Podemos dizer que todos os processos humanos envolvem esses três aspectos: A economia que é a base da sociedade é também a base das relações sociais e nestas se manifestam as relações de poder ou a política que dá sustentação ou abre perspectivas para as relações econômicas.

Sendo assim podemos dizer que estudar história é buscar a compreensão dos processos que produziram os fatos que marcaram o tempo. Isso é possível por que todas as coisas têm história e podemos estudar a história de tudo. Tudo que acontece e que aconteceu é história. A história, portanto, trabalha com o passado ou com as relações humanas do passado – mas faz isso no presente do historiador que é alguém situado em uma sociedade distinta daquela que é estudada. E já que tudo tem história, em tudo está a marca humana, assinalando as relações temporais.

Essa afirmação está em consonância com o que podemos ler nos PCN do Ensino Médio, ao afirmar que:

a pesquisa histórica esforça-se atualmente por situar as articulações entre a micro e a macro-história, buscando nas singularidades dos acontecimentos as generalizações necessárias para a compreensão do processo histórico. Na articulação do singular e do geral recuperam-se formas diversas de registro e de ações humanas tanto nos espaços considerados tradicionalmente como os do poder, como o do Estado e das instituições oficiais, quanto nos espaços privados das fabricas e oficinas, das casas e das ruas, das festas e das sublevações, das guerras entre as nações e dos conflitos diários para sobrevivência, das mentalidades em suas permanências de valores e crenças e das transformações advindas com a modernidade da vida urbana em seu aparato metodológico. (BRASIL, 1999, p. 43)

À questão sobre o que estudamos em história, podemos responder dizendo que são as relações humanas a partir de suas marcas sociais, econômicas, políticas e culturais. Não esquecendo que essas ações humanas, também são resultantes de outras ações que as produziram. Não é demais, portanto, dizer que a história, enquanto ação humana, produz história, que são novas ações humanas. Neste ponto podemos colocar a indagação sobre como entender essas ações? Com quais instrumentos teóricos o homem atual, pode voltar-se para o passado, na busca de sua compreensão? E mais, é possível compreender o passado?

Referências

BLOCH, Marc, Apologia da História ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar. 2001.

BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: lembrança de velhos. 5 ed. São Paulo: Cia das Letras, 1998

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino Médio: ciências humanas e suas tecnologias. MEC. Brasília: MEC/Secretaria de Educação média e Tecnológica, 1999

ARANHA, Maria L. Arruda; MARTINS, Maria Helena P. Filosofoando: introdução à filosofia. 2 ed. São Paulo: Moderna, 1997

LE GOFF, Jacques. História e Memória. 4 ed. Campinas: ed. Unicamp. 1996.

ORIÁ, Ricardo. Memória e Ensino de História, in BITTENCOURT, Circe (org). O Saber Histórico na Sala de Aula. 5 ed. São Paulo: Contexto. 2001

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação
Filósofo, Teólogo, Historiador
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Autor: NERI P. CARNEIRO


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