Recife é uma ilha



Ontem estava passeando em Boa Viagem, área nobre do Recife, e reafirmei um pensamento que tinha ouvido num programa de rádio qualquer que dizia: "o Brasil é uma ilha de riqueza cercada de pobreza por todos os lados" eu poderia dizer que Recife é uma ilha, ou mais, Boa Viagem é essa ilha, como todos os outros bairros nobres da capital pernambucana, como o bairro da Torre, Espinheiro, Madalena, Apipucos, Casa Forte, etc.
Pensando nessa palavra ilha, e olhando a realidade percebi que a urbanização irregular da maioria das grandes cidades, e por consequência seus bairros, explicitam um paradoxo: Prédios de luxo projetados pelos melhores arquitetos e engenheiros, dividem ruas com casebres improvisados de papelão com madeira, e, portanto esses dois contextos dividem a área nobre, sem deixar de ser evidentemente dois mundos diferentes.
Voltando a Boa Viagem, aonde comecei esse relato, essa idéia fica muito evidente nas adjacências do Shopping Recife, aonde a ostentação da burguesia se depara defronte ao estacionamento do mesmo, com uma comunidade carente necessitada do auxílio do estado e que é privada de usufruir do Shopping,tanto pela falta de capital como pela discriminação e o forte esquema de segurança da empresa que quer queira quer não trabalha em cima de estereótipos, que os moradores tem pela falta de condições, e portanto não podem participar, pela sua posição econômico-social, desse mundo do consumo.
É, portanto claro que pela ineficiência do estado em manter uma segurança pública de qualidade, cada vez mais os ricos se vêem "vítimas da violência", e contratam seguranças particulares, e investem pesado em equipamentos de segurança privada, sem saber que as maiores vítimas da violência é a população carente, que mais uma vez se vê marginalizada, com dificuldades em relação a ascensão social por meios de oportunidade que lhe são tiradas pelo preconceito.
A riqueza de Boa Viagem não está em seus apartamentos de luxo, nem no seu shopping, nem nos carros importados que circulam pelas ruas e avenidas, e sim na força do trabalho daqueles que fazem com que aquela riqueza seja gerada, é naquele trabalhador que mora em Água Fria e tem que pegar duas conduções para chegar em Boa Viagem pra trabalhar e gerar riqueza para os ricos.
Portanto é fácil observar que toda a logística principalmente do bairro de Boa Viagem aqui falado é preparada para benefício dos ricos e da classe média residente, como a ampliação do viaduto que vai de Joana Bezerra até Boa Viagem, que vai beneficiar a burguesia no seu transporte para os bairros da Madalena, Torre e adjacências, e vice-versa, e você percebe que a maioria da população, com exceção dos trabalhadores, pouco vai sentir nesse viaduto em si, por que ela está mais preocupada em que as empresas de ônibus aumentem suas frotas, defasadas, e diminuem o preço para no fim do mês sobrar algum para que ele possa comprar aquele eletrodoméstico desejado, ou fazer aquela viagem para o interior visitar os parentes.
Esse isolamento das classes dominantes, não é um fenômeno atual, porém hoje a pobreza e a riqueza moram juntas fisicamente, porem ideologicamente e psicologicamente estão separados por muros invisíveis, um oceano de desigualdades que se refletem na vida cotidiana e que poucas pessoas param para refletir.

Autor: Estevam Henrique


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