Inéditos caminhos da sucessão presidencial



Nestes tempos que nos levam ao final do ano um assunto que vai ganhar a boca do povo, encher os botecos e animar as ruas será a sucessão presidencial.
Claro que antes disso tem a copa. É indiscutível que esse será um bom anestésico, para quem não está vacinado. E tem muita gente acometida por esse vírus: empresas, escolas, estabelecimentos públicos pararão para "prestigiar" a seleção... e, nesses tempos de copa, as discussões serão, prioritariamente, a copa. O mundo pode desabar, mas a copa permanecerá na boca do povo e na mídia por uns poucos dias esse será o tema quente... mas esse será uma enfermidade sazonal do tipo que dá e passa...
A febre mesmo virá depois, quando soar o apito final. Aí será o começo: Quem sucederá Lula? Quais serão os caminhos da sucessão presidencial?
Antes de responder a essa pergunta, vale a pena lembrar pequenos fiapos de nossa história. Na realidade apenas um aspecto que se refere à política ou à história política.
Em toda a nossa história, anterior ao fenômeno Lula, a política havia sido feita pelas "elites". Os mandantes nunca haviam nascido das bases populares. Portanto, sempre tivemos gente rica e estudada governando o país. Esse parece ter sido o elemento diferenciador na campanha que elegeu o atual presidente. E, nesse aspecto, sua eleição marcou a história: primeiro operário a governar o Brasil, a exemplo do que ocorrera, por exemplo, na Polônia. Lá, também, depois de um período autoritário, um sindicalista, Lech Walesa, assumiu a presidência pelo voto direto.
Aqui no Brasil atual, sabemos que o tucanato ? conforme a imprensa divulgou recentemente (revista Isto É 14/04/10) ? está preparando seus "cabos eleitorais" para combater os "adeptos" do PT. Pretendem jogar comparando os currículos acadêmicos dos candidatos. E, neste ponto, voltamos ao dito antes: nossa história política é marcada pelas elites. E o que fizeram? Avanços e muita "maracutaia". Caso olhemos desde a implantação da república, numa só página não caberiam todos os projetos, decretos, escândalos políticos, corrupção e tramóias produzidos pelos governos anteriores ao atual. Isso considerando apenas os que apareceram na história; sabemos que nem tudo vem à tona e não entra na pauta da grande imprensa. Mas os escândalos marcaram a história da República.
Portanto, o debate sobre este ou aquele possível candidato, com vasto currículo acadêmico, parece não ser o melhor caminho, no momento. Mesmo porque alguém pode resgatar esta argumentação e contra isso não tem currículo que fale mais alto. Aliás, deste ponto de vista, quanto melhor o currículo pior é para o candidato, pois mais o identificará às oligarquias que produziram poucos avanços e muitos solavancos contra o cidadão brasileiro, ao longo destes pouco mais de 200 anos de república.
Então a discussão deve se voltar para um possível continuísmo lulista? Parece que também não é este o caminho. Tem muita gente, eleitores, que desaprovam os caminhos trilhados pelo atual governo. Aqueles negócios nas cuecas e nas malas não pegaram bem, sujou muita imagem limpa...
Portanto, para dizer que haveria um continuísmo lulista teríamos que ter candidatos com perfil parecido. Entretanto as histórias de vida do atual presidente e de sua indicada são diferentes, embora sejam militantes do mesmo partido. Também é fato que ambos provêm de militância em movimentos de esquerda, mas um veio do movimento operário e a outra da resistência armada à ditadura. A candidatura do atual presidente era oposição; representava as expectativas dos setores populares em busca de alternativas ao tradicional. A expectativa da população era em nome de uma novidade que, na época era representada pelo fenômeno Lula. Hoje sua indicada representa o continuísmo ao atual governo; é situação! Não deixa de ser, ideologicamente, de esquerda, mas representa a situação. Sua possível eleição será como um terceiro mandato do atual presidente; seria o mesmo partido por mais quatro anos. Alguns até falam que a eleição de alguém "indicado" por Lula funcionaria como uma espécie de plebiscito pró-Lula. Tem gente que não gosta disso!
O que nos resta, para vermos aquecida a disputa? Um fato inédito em nossa história: duas mulheres disputando a presidência. E, neste momento, ambas têm reais chances de eleição.
O que isso significa? Vários níveis de avanços. Um avanço democrático: duas candidaturas originárias de movimentos populares; um avanço cultural: desmoronamento do machismo; ampliação de perspectivas: duas mulheres representando partidos originalmente populares; avanço político: partidos considerados grandes e históricos não são os únicos nem atores principais, no atual jogo; avanço nos eixos temáticos: a perspectiva dos debates poderá deixar de privilegiar as grandes empresas para absorver questões cotidianas voltadas para expectativas das periferias; avanço das periferias: atores e questões sociais poderão ganhar maior realce, impondo-se ao lado ou superando o corporativismo das grandes empresas.
Quais os caminhos da sucessão presidencial? Discussões antes mal colocadas ou deixadas para segundo plano, poderão agora ser postas em destaque por duas mulheres. Lembrando que, no caso de haver segundo turno, os acordos serem refeitos e, pelo menos de forma especulativa, neste momento podemos supor que num possível segundo turno, duas mulheres de juntem na mesma candidatura. Outra possibilidade inédita.
Neri de Paula Carneiro ? Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.
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Autor: Neri P. Carneiro


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