SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE PORTADOR DE ESQUIZOFRENIA ? Estudo de Caso



Deivid William Ferreira
Vanda Maria Gimenes de Oliveira

RESUMO

Esquizofrenia é uma doença mental crônica, que causa uma desorganização ampla dos processos mentais. A esquizofrenia origina um quadro clínico complexo apresentando sinais e sintomas com alterações de pensamento, percepções e emoções. O objetivo deste estudo é demonstrar a relevância da sistematização da assistência de enfermagem ao paciente portador de esquizofrenia, buscando um cuidado individualizado, atingindo as esferas biopsicossociais; valemo-nos neste estudo do modelo de sistematização de enfermagem proposto por Toledo em 2005, em sua tese de doutorado. A sistematização da assistência de enfermagem é feita em cinco etapas de um todo que se relacionam organizadamente entre si, histórico de enfermagem, diagnóstico de enfermagem, planejamento, implementação e avaliação do cuidado prestado ao paciente. Foi realizado um acompanhamento individual durante um mês, três vezes por semana, e a consulta de prontuário para complementar as informações. O estudo foi realizado com um paciente morador de um hospital psiquiátrico do interior do estado de São Paulo. O estudo enfocou a sistematização na área de saúde mental, como uma ferramenta a mais para o enfermeiro aprimorar seu conhecimento sobre o estado físico e mental do paciente.

Palavras-chave: Sistematização da assistência de enfermagem; esquizofrenia; enfermagem psiquiátrica.

INTRODUÇÃO

"A loucura no indivíduo é coisa rara ? nos grupos, nos partidos, nos povos, nas épocas ? ela é a regra".
(F. W. Nietzsche)

A respeito desta máxima nietzscheana e, antes de discorrermos sobre o objetivo de nosso trabalho, vamos pensar um pouco sobre a loucura. Esse foi um dos temas que muito repercutiu assim como outros, no pensamento do filósofo.
Nietzsche acreditava que aqueles que ousassem ultrapassar seus respectivos valores tidos como inexoráveis, ou seja, às verdades absolutas, tendiam a ser vistos como doentes aos olhos da sociedade moderna, por mais que os sujeitos a posteriori atingissem uma saúde mais elevada (MISKOLCI, 1997).
O pensador foi muito criticado e mal interpretado por opositores da época, afinal estava à frente desta. Era dotado de um espírito exasperado, sagaz, peculiar de um grande pensador, atacando com veemência o liberalismo burguês que vigorava no século XIX. Religioso por natureza ,destronou ao mesmo tempo várias religiões, bem como criticou toda a fraqueza humana ?no sentido de sermos submetidos às regras da moral, dos que detém o bem, que discursam o que é o correto, o que é justo, o que é ?normal?, subestimando a essência da sublimidade dos seres humanos? (MISKOLCI, 1997).
Para ele, a democracia invadida pelas formas de igualitarismo e progresso das Luzes levou não apenas decadência da organização social, como transformou o homem em uma peça de engrenagem de produtividade e consumo, lapidando-o como uma nova modalidade de escravo padronizado, nivelado, domesticado e igual (TAVARES, 2007).
Neste contexto, houve um rebaixamento e ridicularização de toda a humanidade, resultando não somente o valor dos homens, como a de diversas enfermidades emergidas na época (MISKOLCI, 1997).
Os paradoxos da democracia liberal burguesa são notáveis, pois esta sustentava o ideário iluminista da liberdade, igualdade e fraternidade, conferindo à Razão como um atributo universal do homem. Foi neste movimento histórico-filosófico da Revolução Francesa que a Psiquiatria nasceu, sendo o lócus que o louco adquiriu de enfermo mental na modernidade (BRANDÃO, 1998).
Para Foucault (1990 apud ALMEIDA; SANTOS, 2001) a clínica emergiu como uma ramificação fundamental do hospital, sendo a soberana da formação e transmissão do conhecimento. O hospital, tal como a clínica se consolidou na medida em que a medicina "[...] tornou-se uma ciência empírica, a ciência do olhar" (ALMEIDA; SANTOS, 2001, p. 20). Descreve ainda, que a medicina passou a olhar e a considerar a doença como uma realidade observável, identificável, classificável, onde esta se encerrava notadamente no corpo do doente.
O vocábulo paciente, etimologicamente, vem do latim patiente que além de outros significados, diz respeito àquele que sofre a atividade de um agente, estando na dependência de um médico (MICHAELIS, 2002).
A palavra clínica é de origem grega do termo clínos, tendo como significado, o leito, a cama (ALMEIDA; SANTOS, 2001).
Assim, o discurso médico da modernidade ganha voz, trazendo a representação do doente como aquele que se arrasta, dependente e sem poder, necessitando do tratamento e agudeza do olhar médico que está sobre ele, pois sendo o detentor do saber, conduz o tratamento (ALMEIDA; SANTOS, 2001).
A assistência médica é literalmente centralizada nos achados de sinais e sintomas ? ou seja, a doença, sendo que o objetivo central seria a remoção desses sintomas, tendo por resultado a mudança do comportamento ? a cura (BARROS, 1996).
Foi nos princípios de igualdade e liberdade do ideário iluminista que a loucura não encontrou respaldo, pois conferiu ao louco o lugar de ninguém, sem nome, sem voz, e que os mecanismos de controle, bem como os discursos patologizantes buscavam um ajuste a razão moderna, a subordinação da ordem, a normalização (TAVARES, 2007).
Para Foucault (2002, p. 148), "A psiquiatria não funciona [...] como uma especialização do saber ou da teoria médica, mas antes como ramo da higiene pública [...] foi como higiene do corpo social inteiro que a psiquiatria se institucionalizou."
Nesse sentido, o objetivo central do estudo é descrever importância do emprego da Sistematização da Assistência de Enfermagem ao paciente portador do transtorno mental esquizofrênico, sendo uma doença mental crônica na qual emerge desarranjos amplos dos processos mentais. Ressaltamos, também, os antecedentes históricos da doença, assim como as características clínicas, etiológicas, diagnósticos, tratamentos, prognósticos e das estratégias psicossocias.
O objetivo do estudo da enfermagem psiquiátrica, se debruça sobre o cuidado individualizado do paciente, observando-se as esferas biopsicossocias, considerando seus aspectos biológicos, psicológicos, sociais, culturais, econômicos, cognitivos, motores, espirituais e todos outros possíveis (TOLEDO, 2005).
Neste viés, nos apoiamos ao modelo de sistematização de enfermagem proposto por Toledo (2005), que é dividida entre o diagnóstico de enfermagem, as principais intervenções, as avaliações obtidas através da intervenção, bem como a evolução do quadro do paciente constatado. Para a coleta dos dados, foi utilizado o estudo de campo, através da entrevista semi-estruturada do tipo descritiva e abordagem qualitativa com um paciente residente de um hospital psiquiátrico do interior do Estado de São Paulo. O estudo trata da presente sistematização na área da saúde mental, como um instrumento essencial para se aprofundar no conhecimento tanto físico, como metal do paciente.
Autor: Deivid William Ferreira


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