Um Festival De Música Popular Com Duas Vencedoras



Foi em 1965, no 1º Festival da Canção Popular da TV Record, em São Paulo, que terminou com duas vencedoras dividindo o 1º lugar: Disparada, de Geraldo Vandré e Theo de Barros e A Banda, de Chico Buarque de Holanda.

Era época de um nacionalismo exacerbado resultante do golpe militar de 1964, quando a maioria da população não se conformava com as injustiças sociais que imperavam então na nossa Pátria, o que se refletia nos meios musicais e literários e nas lideranças intelectuais do nosso país, que reagiam com movimentos sociais que visavam melhorias para as camadas mais pobres da população.

Em Disparada, Geraldo Vandré faz uma maravilhosa comparação entre a exploração das classes sociais mais pobres pelas maiorias ricas e a exploração das boiadas pelos boiadeiros; entre as maneiras de se lidar com o gado e de se lidar com gente e a música, composta por Theo de Barros, complementou de forma perfeita os versos de Vandré, ficando a interpretação a cargo de Jair Rodrigues, então no auge da popularidade e que deu forma final muito bonita aos versos e à música.A canção foi ruidosamente aclamada pela facção mais politizada da platéia,que rivalizava em número e entusiasmo com os partidários de A Banda e, em vista disso, embora A Banda tivesse ganhado pelos votos dos jurados, a direção da Record resolveu considerar as duas concorrentes como empatadas em primeiro lugar, para evitar que, assim, pudesse haver um confronto entre os torcedores o que, de fato e, felizmente, não aconteceu.

Disparada – "Prepare o seu coração p'ras coisas que eu vou contar / Eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão / Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar / Aprendi a dizer não, ver a morte sem chorar / E a morte o destino tudo, a morte o destino tudo / Estava fora de lugar, eu vivo p'ra consertar / Na boiada já fui boi, mas um dia me montei / Não por um motivo meu ou de quem comigo houvesse /Que qualquer querer tivesse, porém por necessidade / Do dono de uma boiada cujo vaqueiro morreu / Boiadeiro muito tempo, laço firme, braço forte / Muito gado, muita gente pela vida segurei / Seguia como num sonho e boiadeiro era rei / Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo / E nos sonhos que fui sonhando, as visões se clareando / As visões se clariando, até que um dia acordei / Então não pude seguir, valente, lugar tenente / E o dono de gado e gente, porque gado a gente marca / Tange, ferra, engorda e mata / Mas com gente é diferente / Se você não concordar não posso me desculpar / Não canto p'ra enganar, vou pegar minha viola / Vou deixar você de lado, vou cantar noutro lugar / Na boiada já fui boi, boiadeiro já fui rei / Não por mim nem por ninguém / Que juro comigo houvesse / Que quisesse ou que pudesse, por qualquer coisa de seu / Por qualquer coisa de seu, querer mais longe que eu / Mas o mundo foi rodando, nas patas do meu cavalo / E já que um dia montei, agora sou cavaleiro / Laço firme, braço forte, de um reino que não tem rei / Na boiada já fui boi, boiadeiro já fui rei / Não por mim nem por ninguém / Que junto comigo houvesse / Que quisesse ou que pudesse, por qualquer coisa de seu / Por qualquer coisa de seu, querer mais longe que eu / Mas o mundo foi rodando, nas patas do meu cavalo / E já que um dia montei, agora sou cavaleiro / Laço firme, braço forte, de um reino que não tem rei !" ...

A Banda – (estribilho): "Estava à toa na vida, o meu amor me chamou / P'ra ver a banda passar cantando coisas de amor / A minha gente sofrida despediu-se da dor / P'ra ver a banda passar cantando coisas de amor / ...

O homem sério que contava dinheiro parou / O faroleiro que contava vantagem parou /A namorada que contava as estrelas /Parou para ver, ouvir e dar passagem / A moça triste que vivia calada sorriu / A rosa triste que vivia fechada se abriu / E a meninada toda se assanhou / P'ra ver a banda passar cantando coisas de amor /

( estribilho )

O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou / Que ainda era moço p'ra sair no terraço e dançou / A moça feia debruçou na janela / Pensando que a banda tocava p'ra ela / A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu / A lua cheia que vivia escondida surgiu / Minha cidade toda se enfeitou / P'ra ver a banda passar cantando coisas de amor /

( estribilho )

Mas para meu desencanto o que era doce acabou / Tudo tomou seu lugar depois que a banda passou / E cada qual no seu canto, em cada canto uma dor / Depois da banda passar cantando coisas de amor".


Autor: Marcelo Cardoso


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