INTERAÇÃO FAMILIAR E PSICOSOCIAL DO ESQUIZOFRÊNICO



INTERAÇÃO FAMILIAR E PSICOSOCIAL DO ESQUIZOFRÊNICO

Ana Angélica Ribeiro de oliveira¹
Jeanne kelly Nascimento Souza
Luciana Santos Batista Vale1
Luisa Oliveira Figueredo1
Luiz Afrânio Chaves Neves da Silva¹
Emerson dos Santos Duarte Mafia
RESUMO:

A esquizofrenia é um transtorno mental a qual se enquadra como distúrbio do funcionamento psicótico, ou seja, é uma doença incapacitante onde o indivíduo se torna impossibilitado de estabelecer um discernimento entre mundo real e o imaginário. Temos como objetivo nesse estudo ampliar o nível de conhecimento sobre esse transtorno, para que o esquizofrênico e seus familiares possam estabelecer condutas de boa convivência, no intuito de manter o bem estar familiar e social. A referente pesquisa é bibliográfica, exploratória, descritiva e de cunho qualitativo, na qual fundamenta as características do transtorno e posicionamentos adequados inerentes à temática. Por se tratar de um distúrbio que afeta a mudança da rotina e estrutura vivencial familiar, assim como a marcada disfunção social as quais geram grandes conflitos de preconceitos. Em virtude do que foi visto, compreende-se que a família desempenha um papel singular no curso da doença, quando este interage com o parente esquizofrênico e compreende os problemas relacionados á doença.

PALAVRAS CHAVES: Esquizofrenia. Convívio familiar. Preconceito

ABSTRACT

The schizophrenia is a mental upheaval which if fits as riot of the psychotic functioning, that is, it is a incapacitante illness where the individual if becomes disabled to establish a discernment between real world and the imaginary one. We have as objective in this study to extend the knowledge level on this upheaval, so that the esquizofrênico and its familiar ones can establish behaviors of good convivência, in intention to keep the welfare familiar and social. The referring research is bibliographical, exploratória, descriptive and of qualitative matrix, on which it bases the adequate characteristics of the upheaval and inherent positionings to the thematic one. For if dealing with a riot that affects the change of the routine and familiar existential structure, as well as the marked social disfunção which generates great conflicts of preconceptions. In virtue of what it was seen, this is understood that the family plays a singular role in the course of the illness, when interacts with the esquizofrênico relative and understands the related problems the illness.

KEY WORDS: Schizophrenia. Familiar conviviality. Preconception



























1. INTRODUÇÃO

Conforme Ballone (2008) os transtornos esquizofrênicos são caracterizados por distorções do conteúdo pensamento (delírios), da percepção (alucinações) e por inadequação dos afetos. O paciente esquizofrênico apesar do desenvolvimento do transtorno mantém clara sua consciência e sua capacidade intelectual. A esquizofrenia traz ao paciente um prejuízo tão severo que é capaz de interferir amplamente na capacidade de atender às exigências da vida e da realidade.
Este distúrbio acomete cerca de 1% da população geral em diferentes culturas. Nos Estados Unidos, é responsável por 20% de todas as internações hospitalares. No Brasil, estatísticas recentes estimam a existência de mais de um milhão de esquizofrênicos na população geral, aos quais se somam cerca de 80.000 novos casos a cada ano. (ALMEIDA; DRACTU; LARANJEIRA, 1996).
Através desses dados epidemiológicos consideráveis, se vê como é fundamental o objetivo de se ampliar o nível de conhecimento sobre esse transtorno, para que o esquizofrênico e seus familiares possam estabelecer condutas de boa convivência, no intuito de manter o bem estar familiar e social, uma vez que a maioria das famílias não consegue lidar com a situação de ter um parente esquizofrênico por pura ignorância e preconceito juntamente com a sociedade.
A referente pesquisa é bibliográfica, exploratória, descritiva e de cunho qualitativo, na qual fundamenta as características do transtorno e posicionamentos adequados inerentes à temática
Em virtude do que foi visto, compreende-se que a família desempenha um papel singular no curso da doença, quando esta interage com o parente esquizofrênico e compreende os problemas relacionados á doença.

2. DESENVOLVIMENTO:

A esquizofrenia é um transtorno metal heterogêneo, de etiologia ainda desconhecida que se enquadra com a presença de sintomas psicóticos ocasionando perda significativa no funcionamento cognitivo, alterando inúmeras funções psíquicas principalmente nas emoções, pensamento e comportamento. (SOUZA, GUIMARÃES, BALLONE, 2004)

Salienta Ballone (2008) que o modelo de estudo realizado por Esquirol propôs que a loucura advinha da junção entre um causa predisponente (personalidade), e uma causa excitante (ambiente). E este constitui o principal modelo etiológico da esquizofrenia o modelo estresse-diátese, onde o indivíduo detém vulnerabilidade específica é colocado sob a influência de fatores ambientais estressantes (causa excitante), propiciando o desenvolvimento da Esquizofrenia. Até que um fator etiológico para a doença seja identificado, este modelo parece satisfazer as teorias mais aceitas sobre o assunto.

Além dos diversos padrões de personalidade vistos nos indivíduos esquizofrênicos, eles podem ainda apresentar características como tendência ao isolamento social, introversão, indiferença emocional, preferência por ocupações solitárias e passividade. Estudos indicam que o rendimento escolar e funcionamento social insatisfatórios são mais comuns em esquizofrênicos do que na população geral. (ALMEIDA; DRACTU; LARANJEIRA, 1996)

Os sintomas da esquizofrenia classificam-se em positivos (representa comportamentos adicionais) e negativos (representando os déficits comportamentais).

Os distúrbios esquizofrênicos classificam em cinco subtipos que variam-se entre si de acordo aos sintomas significativamente demonstrados durante o período em que foi avaliado, uma vez que os esquizofrênicos podem desenvolver variância de quadro clínico.

Esquizofrenia desorganizada ou hebefrênica é um subtipo representado por discurso e comportamento desorganizado bem como embotamento afetivo (DORNELLES, 2002).

Estes indivíduos apresentam sintomas como rir, fazer caretas, e gestos de maneira frenética, além de demonstrarem desrespeito infantil pelas convenções sociais como urinar ou defecar em situações inadequadas. São ativos e apresenta discurso desconexo. (MORRIS; MAISTO, 2004)

Segundo Dornelles (2002) na esquizofrenia catatônica ocorrem alterações na psicomotricidade, que podem ser imobilidade ou excessividade motora, mutismo, negativismo, peculiaridades de movimentos voluntários, ecolalia ou ecopraxia.

Davidoff (2001) relata que os pacientes catatônicos podem reagir com intenso entusiasmo, frenesi, loquacidade e em menor grau violência. Porém na maioria das vezes estão na fase marcante do transtorno sendo passivos e não comunicativos.

Esquizofrenia paranóide é caracterizada pela presença de delírios ou alucinações, presença de ilusões complexas, refletindo reações de hostilidade e ou agressividade com pessoas que questione seus pensamentos ou ilusão. (Esse transtorno é considerado mais grave que distúrbio de personalidade paranóide, as quais não envolve ilusões bizarras ou perda de contato com a realidade). (MORRIS, MAISTO, 2004).

Os delírios freqüentes são persecutórios, grandiosos ou ambos principalmente pode ainda ser de ciúmes, religiosidade ou somatizaçao. E as alucinações esta tipicamente relacionada ao conteúdo da situação delirante. (DORNELLES, 2002).

Já na esquizofrenia indiferenciada as pessoas apresentam vários sintomas característicos da esquizofrenia como ilusões, alucinações ou incoerência, e não demonstram sintomas típicos de qualquer outro subtipo do transtorno. (MORRIS; MAISTO, 2004)

Há ainda a esquizofrenia residual que é conceituada quando houve a existência de pelo menos um episódio de esquizofrenia, mas o quadro clinico atual não evidencia sintomas psicóticos proeminentes ( ex: alucinações, delírios, discurso ou comportamento desorganizado). (DORNELLES, 2002).

Os distúrbios esquizofrênicos são significativamente vistos em graus de parentesco. Quanto maior for à proximidade genética maior será a probabilidade de serem semelhantes [ex: gêmeos homozigoticos possui uma freqüência cinco vezes maior para o distúrbio do que os fraternos (dizigoticos)]. As formas moderadas do distúrbio estão presentes em entre parentes de esquizofrênicos. (DAVIDOFF apud KENDLER et al, 1985; WENDER e KLEIN, 1981)

A atividade dopaminérgica excessiva dentro dos circuitos cerebrais específicos (algumas nas regiões frontais e límbicas) está vinculada como fator matricial de muitos distúrbios esquizofrênicos. (DAVIDOFF, 2001)

O convívio familiar desempenha papel importante no desenvolvimento do transtorno esquizofrênico, visto que pesquisam feitas com adolescentes pertubados detinha probabilidade de nove vezes maior de apresentarem sintomas esquizofrênicos quando provenientes de moradia em que ambos os pais eram críticos e hostis, e altamente envolvidos emocionalmente na vida do adolescente em comparação a lares em que essas características em ambos os pais foram avaliadas como fracas. ( DAVIDOFF apud NORTON, 1982)

A esquizofrenia é uma doença da personalidade total que afeta toda estrutura vivencial. Culturalmente o esquizofrênico representa o estereotipo do "louco", um indivíduo que produz grande estranheza social devido ao seu desprezo para com a realidade reconhecida. Agindo como alguém que rompeu as amarras da concordância cultural, o esquizofrênico menospreza a razão, porém, ele perde a liberdade de escapar às suas fantasias.(BALLONE, 2008)

Segundo Dornelles (2002) para o estabelecimento diagnóstico da esquizofrenia é necessário no mínimo dois dos seguintes sintomas: delírios, alucinações, discurso desorganizado, comportamento amplamente desorganizado ou catatônico, sintomas negativos, isto é, embotamento afetivo, alogia ou abolia. Cada qual devendo estar presente no período de tempo de um mês.

O tratamento de escolha para a esquizofrenia são os medicamentos antipsicóticos, tanto na fase aguda como na fase de manutenção. Eles têm ação pronunciada sobre alguns sintomas, como tensão, hiperatividade, agressividade, hostilidade, alucinações, delírio, insônia, anorexia, negativismo, isolamento. Por outro lado, não proporcionam melhora acentuada da crítica, juízo, memória, orientação. ( BALLONE, 2008)

Conforme Assis, Villares e Bressan (2008) quando um parente desenvolve a esquizofrenia, toda a família desestrutura-se por não saberem lidar com as dificuldades e exigências complexas da doença, marcadas por estresse e confusão. Sendo assim é importante compreender o problema do esquizofrênico e de cada membro familiar, porque as dificuldades e o sofrimento enfrentados pelos familiares influenciam no bem estar familiares afetam a vida do portador da esquizofrenia.

Ao se deparar com casos de esquizofrenia na família, onde o individuo esquizofrênico reage de maneira estranha, apresentando um comportamento desorganizado reagindo de forma diferente àquelas que os familiares estavam habituados a ver. As posturas e atitudes que os familiares acreditam ser as mais adequadas para lidar com o parente esquizofrênico muitas vezes não funcionam. Portanto entender essa diferença de funcionamento comportamental é fundamental para construir soluções junto a pessoa esquizofrênica. (ASSIS; VILLARES; BRESSAN, 2008)

Menciona Assis, Villares e Bressan (2008) em períodos de crise esquizofrênica, pode haver desestabilidade de toda a família e gerar situações de conflitos contribuintes para desestruturar os relacionamentos familiares. Diante desse fato os indivíduos podem estar apresentando percepções particulares (alucinações) e pensamentos desorganizados e assustadores que não correspondem a realidade (delírios). Logo é preciso estar conciente que a esquizofrenia tem controle e há diversas maneiras de se evitar essas crises, evitando situações extremas.

A intervenção familiar se diverge entre a forma educativa e pseudoeducativa, a primeira é caracterizada por modelos de informação sobre o que é a doença, como se tratar, e como se deve lidar com a doença; além dessas informações é estimulado o debate entre os familiares onde eles expressam suas emoções e sentimentos. A pseudoeducativa é realizada com uma família de cada vez, essa por vez tem como objetivo dar suporte e fornecer ajuda aos familiares a mudarem o estilos de relacionamento disfuncionante com os doentes, ajudando-os a adotarem atitudes adequadas e comunicação facilitadora no âmbito familiar. (REIS, 2002)

As intervenções no inicio do episódio detém maior esperança de remissão do transtorno, pois a demora á procura do tratamento dificulta o prognóstico do paciente, devido ao grau de acometimento psíquico, físico e da rede social do doente. (GIACON; GALERA apud LOUZÃ 2000)

O processo de intervenção psicossocial está ligado a atividades sociais e grupais. Sendo utilizada para minimização do estigma da doença mental perante a sociedade e ao próprio usuário, que tem receio em procurar ajuda. (GIACON; GALERA apud MACCAY; RYAN; AMEY, 1996)

Os cuidados de enfermagem conforme Giacon e Galera apud Galera (2002) estão vinculadas ao relacionamento interpessoal entre enfermeiro-paciente, observando o aspecto biopsicossociais do ser humano. Em meio a aspectos biológicos a enfermagem observa os efeitos colaterais da terapia medicamentosa e acompanha a saúde geral do paciente e de sua família. No campo psicossocial, operacionaliza atividades, tais como, visitas domiciliares, coordenação de grupos em oficinas dentre outros. O acesso do paciente juntamente com a família aos recursos da comunidade favorece na reabilitação do doente e da família. O cuidado da equipe de enfermagem demonstra efetividade, pois permiti a observação de aspectos biopsicossociais do paciente e de sua família e contribui para a melhor articulação do grupo com a comunidade.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A esquizofrenia é um transtorno complexo e incapacitante de etiologia ainda indefinida que ocasiona alterações do funcionamento cognitivo principalmente nas emoções, pensamento e comportamento. Elas divergem-se em cinco subtipos as quais cada tipo há a ocorrência de sintomas específicos sejam eles positivos ou negativos. Apesar de não haver estudos comprobatórios acredita-se que causa da esquizofrenia é multifatorial, onde o fator genético contribui fortemente para a ocorrência desse distúrbio e quanto maior for o grau de parentesco maior a probabilidade de se desenvolver, somado a isso a dificuldade convívio familiar e social pode favorecer a progressão do estabelecimento da doença. Uma vez que os membros familiares não estão prontamente estabilizados emocionalmente para lidar com uma situação difícil, ocorrem disfunção no relacionamento familiar e influencia diretamente no bem estar do individuo portador da esquizofrenia, além disso há ainda a problematizadora exclusão social do paciente com esquizofrenia por atitudes ignorantes e preconceituosas.
Conclui-se que o presente estudo possui grande relevância para o conhecimento da família que convivi com um individuo esquizofrênico, para que possa entender as peculiaridades da doença e saber como se relacionar com o individuo esquizofrênico buscando sempre soluções sensatas para o estabelecimento do convívio harmonioso no âmbito familiar e social.

REFERENCIAS

ALMEIDA, P.; DRACTU, L.; LARANJEIRA, R. Manual de Psiquiatria. Rio de Janeiro: Guanabara koogan, p. 274, 278 1996.

ASSIS, J.; VILLARES, C.; BRESSAN, R. Conversando sobre Esquizofrenia. Vol. 5 São paulo: segmento farma, 2008.
BALLONE, G. Esquizofrenias - in. PsiqWeb. disponível em http://www.psiqweb.med.br, atualizado em 2008


DAVIDOFF, L. Introdução a Psicologia. 3 ed. São Paulo: Pearson Makron Books, 2001. p. 577-580

DORNELLES, C. DSM-IV-TR: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 4 ed. Porto Alegre: ARTMED, 2003. p. 315 - 319


GIACON, B,; GALERA, S. Primeiro episodio da esquizofrenia e assistência da enfermagem. Rev Esc Enferm USP. 2004

MORRIS, C.; MAISTO, A. Introdução a Psicologia. São Paulo: Prentice Hall. 6 ed. p. 421. 2004.

REIS, F. Intervenções pseudoeducativas nas famílias de esquizofrênicos. Revista do serviço de psiquiatria do hospital Fernando Fonseca. 2002

SCAZUFCA, M. Abordagem familiar na Esquizofrenia. Rev. Bras. Psiquiatr. vol.22 s.1 São Paulo, May 2000

SOUZA, J.; GUIMARAES, L.; BALLONE, G. Psicopatologia e Psiquiatria Básicas. São Paulo: vetor: UCDB, p. 246, 2004.

STUART, G; GAIL, W. Enfermagem Psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed. 6 ed. p. 2001


Autor: Luiz Chaves


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