Comer Igual A Um Rei
Vestidos de chita, pés descalços, olhávamos mamãe pondo a mesa. Desde cedo, fomos abandonados a própria sorte. A recomendação era clara. Não podíamos atrapalhar.
Tudo tinha que sair perfeito.
Deu uma trabalheira danada, a casa ficou um "brinco"! Não podíamos sujar. A ordem era que brincássemos fora para que, quando o convidado chegasse, tudo estivesse perfeito.
Toalha de mesa engomada, prato, copo, talheres, tudo arrumadinho.
Mal o padre entrou, já foi posta a mesa. Assado de panela, galinha, polenta, arroz, macarrão, maionese, lingüiça, queijo (formae) e salada.
O almoço era especialmente para ele.
Olhávamos com a boca cheia d'água e ele comia sem se importar com a modesta platéia.
Mamãe fizera uma sopa com os miúdos da galinha e nos dera uma hora antes.
Ficamos olhando, esperando o padre terminar de comer, para ver se sobrava um pouco para nós.
Que decepção. Ele comeu até a última migalha.
Ao levantar-se, alisou seu vasto ventre e disse:
- Comi, igual a um rei!
Eu, com certeza, preferia comer igual a um padre.
Autor: Zélia Campestrini
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