Brejolândia Contra A Dengue



Brejolândia Contra A Dengue

Quando vi aquelas propagandas do governo, na TV, alertando contra o mosquito da dengue, achei um exagero.

Era, na minha opinião, forçar muita a barra, dizer que devemos ter cuidado para não acordarmoso mosquito, que estaria apenas dormindo o sono dos justos.

Mas depois da aventura que passei em Brejolândia, no ultimo feriado prolongado, tiver quem rever minha posição.

Logo que cheguei ao lugarejo me assustei como aparato bélico e a movimentação de tropas de vaqueiros e jagunços, sendo que no comando, estava, como sempre, o louco do tio Arlindo.

Pensei logo que o tio havia arrastado o populacho do lugar para mais um festival de paranóia, bem ao seu estilo.

Cheguei ironizando com uma pergunta cretina:

- E aí tio, os ratos estão tomando o sitio de assalto?

- Pior caro sobrinho, muito pior. (respondeu o tio sem tirar os olhos da linha do horizonte).

Sem parar de dar suas ordens aos pelotões de vaqueiros, o tio continuava a estudar mapas da região e planos de combate de velhas guerras travadas em sua longa e louca existência.

Insisti com velho sobre a natureza do poderoso inimigo que ele pretendia combater com seu exercito maltrapilho.

Tio Arlindo se espantou com minha ingenuidade:

- Contra o mosquito da dengue é claro, você não lê jornais?

Tentei rebater com argumentos lógicos, enquanto disfarçava uma postura irônica.

- Mas não é assim que se combate a dengue, não com exércitos de jagunços e armas da guerra do Paraguai.

- É porque você não conhece os mosquitos aqui de Brejolândia; (disse enquanto apontava para uma nuvem no alto da serra).

- Aí vêm os filhotes. Pelotões de bodoqueiros, à postos.

O que parecia ser uma nuvem, se deslocou rápido em direção à sede, e deu pra ver que eram mosquitos do tamanho de urubus.

Tomei um baita susto e disse para o tio que nunca tinha visto insetos daquele tamanho.

O Tio Arlindo deu um sorriso condescendente e me avisou para pegar a cartucheira que dali a pouco viriam os adultos.

Os estilingueiros não paravam um segundo e logo, em torno de nós foi se formando uma montanha de mosquitos gigantes mortos.

As sentinelas avançadas fizeram sinal, apontando para a estrada de acesso ao sitio, antes da ponte do Ribeirão das Antas, onde uma nuvem de pó fazia sumir a paisagem.

O tio Arlindo deu ordens para que os pelotões de atiradores de bacamarte se postassem na linha de frente para tentar conter o segundo assalto das forças inimigas.

Nesta nova carga de ataque vi despontar, já na entrada do sitio, mosquitos Aedes Aegypti de dois metros de altura, avançando fortemente armados, e montados à cavalo, contra nossa precárias defesas.

Aquele ataque foi avassalador e nós perdíamos posições rapidamente. O tio, desesperado, pedia pelo velho radio comunicador, o apoio de sítios vizinhos.

A resposta foi que toda a região enfrentava como podia seus próprios mosquitos.

Prevendo um desastre total o tio determinou que nossas forças recuassem para trincheiras de retaguarda, buscando posições mais defensáveis.

Mandou tirar do silo camuflado, o que ele chamou de arma secreta, um enorme carro fumaçêdo tamanho de um tanque de guerra e capaz de lançar jatos de inseticidas num raio de quinhentos metros.

As tosses dos mosquitos podiam ser ouvidas a quilômetros de distancia. Os bichos recuaram com seus cavalos, procurando recompor suas forças.

Aproveitei a deixa e disse ao tio Arlindo que ia nesta:

- Os mosquitos lá de Sete lagoas são mais fáceis de enfrentar.

O velho se irritou comigo:

- Vai fugir assim da batalha, e deixar a gente na mão? Isto é covardia, deserção, sobrinho. A guerra só está começando. As forças invasoras têm divisões com mosquitos de cinco metros de altura e segundo as sentinelas elas já estão prontas para mais um assalto.

- Desculpe tio, mas não tenho vocação para herói. Pode me mandar até para a corte marcial, mas vou não vou enfrentar mosquitos de cinco metros por nada neste mundo.

Caí fora de Brejolândia o mais rápido que pude e lá estava eu no dia seguinte à margem da lagoa central de Sete lagoas, matando Aedes Aegyptià tapa, na maior felicidade.

(Da serie Brejolândia dos Cafundós)

João Drummond


Autor: João Drummond


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