Quando Ajudar Não é o Bastante



Um dia desses, quando voltava de ônibus pra casa, um cidadão pediu ao motorista para entrar por trás, e eu pude observá-lo: a perna estava machucada, provavelmente por causa de um acidente, e cheia de ferros. Subiu para pedir ajuda porque por estar assim não podia trabalhar e tinha 3 filhos, 1 deles recém-nascido, e o benefício ainda não tinha saído...Quase todas as pessoas que estavam no ônibus o ajudaram, inclusive eu, movidos por um sentimento de compaixão ao próximo. Pude presenciar esse fato outras vezes, a mesma pessoa, a mesma história e sempre sendo ajudado. Um dia, para minha decepção, vi esse rapaz sentado à mesa de um bar, com algumas cervejas na mesa, com um aspecto diferente dos dias que o vi no ônibus. Senti-me enganada, tive vontade de ir até ele e fazer algumas perguntas, mas no mesmo instante percebi que seria inútil. Ele não é o único que utiliza desse artifício para tentar colher alguma ajuda, o que é lamentável é que alguns agem de má fé, porque talvez nem precisem fazer isso, mas por mau costume o fazem, ou por ser uma maneira fácil de conseguir alguns trocados.
Assim como esse rapaz, muitas outras pessoas nas calçadas, nos sinais de trânsito, nas portas de nossas casas pedem ajuda, e o mínimo que nós, que temos um pouco mais que eles, podemos fazer é amenizar a dor de passar por essa situação, mas isso falando daqueles que não tem realmente como sobreviver a não ser dependendo da ajuda do próximo. Essa terrível desigualdade social que levam muitos a sofrerem discriminação, preconceito, exclusão, não vai ser solucionada com um prato de comida que damos ou com algumas moedas que tiramos da carteira, mas a responsabilidade também é nossa. E se um dia passássemos por isso também? Certamente desejaríamos que o outro sentisse no coração a necessidade de nos ajudar.
É certo que o problema é muito maior do que imaginamos. Penso até que nunca deixará de existir diferenças sociais, um com mais e o outro com muito menos do que é preciso para sobreviver. Os programas que o governo utiliza só mascaram a situação de miséria que o pobre enfrenta, e não soluciona a questão da desigualdade social.
Confesso que, depois que vi aquele rapaz no bar, tive dificuldades de acreditar nas palavras dos que me pediam ajuda, mas pensando bem, como saber se são verdadeiras ou não? Como saber se realmente existem crianças que dependem daqueles trocados para talvez terem a única refeição do dia? Enquanto paramos para duvidar ou julgar, pessoas morrem por não termos sequer dado um prato de comida. Contribuir com alguns trocados ou com uma porção de comida, de água, ou com qualquer outro tipo de ajuda não será o bastante, mas temos que fazer a nossa parte como cidadãos conscientes que também é nosso dever amenizar a dificuldade que o nosso semelhante enfrenta.
Autor: Adrianne Brito


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