Resenha de ''A Cultura Amazônica: uma poética do imaginário''



LOUREIRO, João de Jesus. A cultura amazônica: uma poética do imaginário. Belém, CEJUP, 1994. (p.49-74).

Nesta resenha irei, em um primeiro momento, falar de como alguns autores conceituam poesia, poético e cultura. Em um segundo momento, abordarei a cultura amazônica, onde prevalecem, principalmente, os valores ribeirinhos. Para isso, resolvi utilizar como respaldo, alguns outros autores.
Assim, João de Jesus Loureiro, em seu livro A cultura amazônica: uma poética do imaginário, ao analisar os estudos de Percy Bysshe Shelley, diz que esse último afirma que os elementos da poesia são a linguagem, a cor, a forma, os hábitos civis e religiosos. Para esse autor o poema é uma combinação da linguagem métrica, á qual reconhece a faculdade soberana, assentada no coração da natureza invisível do homem.
Nesse cenário, Loureiro (1994) ao analisar a reflexão sobre a poética de Charles Stevenson, diz que esse autor entende que a expressão um poema, denota uma seqüência de palavras que expressam tal e qual significação. Em seguida ele reformula: "A expressão ?um poema? denota tal ou qual significação que se exprime por uma seqüência de palavras". No entanto, a palavra e o imaginário são dois aspectos constantes em toda poesia.
Desse modo, quando Stevenson se refere à recepção do texto poético, faz referências ao imaginário ativado da recepção poética dos leitores. Para ele, os diferentes significados do poema dependem de cada leitor, que ao ler sente prazer nesse devaneio.
Nesses termos, para Julia Kristeva a linguagem poética torna-se uma prática significante, que faz do poema poesia e é intermediada pelo prazer.
Sob essas condições, Mukarovsky e Jacobson, citados por Loureiro (1994), ao falarem de uma obra poética entendem que ela "... deve, em realidade, se definir como uma mensagem verbal, na qual a função estética é a dominante". Para esses dois autores a análise do poético permite a interpretação dos fenômenos culturais. Essa análise permite que se compreenda, por exemplo, no vasto campo da história das culturas ou no das tradições culturais, aquilo que pode formar neles a característica fundamental, aquela capaz de revelar o que é original e importante, nos diversos períodos da história de uma sociedade e no corpo significante de sua cultura. Esse termo é entendido por João de Jesus Loureiro, como a conformação cerebral, artística e moral de um povo ou, mais largamente, de uma civilização, e que pode ser abarcada no processo de seu desenvolvimento histórico ou num momento balizado de sua história.
Nessa direção, Benedito Nunes ao citar T. S. Elliot, encontra na cultura três diferentes níveis de abrangência ? individual, social e histórico. Esse autor conceitua cultura como sendo constituída pelo conjunto formado pelas expressões intelectual, artística e moral concernente a uma determinada civilização e mesmo a um povo, construído no processo de sua história como um todo ou num determinado período.
Dessa forma, o mencionado autor, ao referir-se a cultura brasileira como um todo, parece dizer que somos dotados de uma cultura própria, que tem sua fisionomia distintiva e foi formada pelas características fundidas de três culturas distintas: a portuguesa, a indígena e a negra (povos africanos escravizados pelos europeus). Sabendo disso, podemos levar em conta que o Brasil é formado por grandes regiões geográficas e culturais que se formaram desde o período da colonização até a atualidade. Essas regiões se formaram de forma distinta uma das outras, pelos mais diferentes fatores. Devido a tudo isso, podemos dizer que se formaram também diferentes culturas, como a amazônica e a nordestina, por exemplo.
Nessa perspectiva, na Amazônia reconhecem-se dois espaços sociais tradicionais da cultura, o da cultura urbana e o da cultura rural, que em decorrência de procedimentos próprios ao desenvolvimento regional, apresentam cada qual características bem definidas, mas marcados por uma forte articulação mútua.
Assim sendo, a cultura urbana se expressa na vida das cidades, principalmente naquelas de porte médio e nas capitais da região. Devido à velocidade das mudanças serem maior no ambiente urbano, as trocas simbólicas com outras culturas são mais intensas. Já no ambiente rural, a cultura mantém sua expressão mais tradicional, principalmente a ribeirinha. Ela está mais ligada à conservação dos valores decorrentes de sua historia e está mergulhada num ambiente onde predomina a transmissão oralizada, refletindo, dessa forma, a relação do homem com a natureza e se apresentando imersa numa atmosfera em que o imaginário privilegia o sentido estético dessa realidade cultural.
Desse modo, a cultura amazônica onde predomina a motivação de origem rural-ribeirinha é aquela na qual melhor se expressam, mais vivas se mantém as manifestações decorrentes de um imaginário unificador refletido nos mitos, na expressão artística propriamente dita e na visualidade que caracteriza suas produções de caráter utilitário.

COMENTÁRIOS

No que se refere ao conceito de poema, Lyra (1986) diz que o mesmo é "(...) de modo mais ou menos consensual, caracterizado como um texto escrito (primordialmente, mas não exclusivamente) em verso." Para esse autor, o poema é um objeto empírico e tem uma existência concreta, diferentemente da poesia, que é uma substância imaterial. Nesse caso, esse conceito nos é apresentado de forma mais simplificada que o de Shelley (apud Loureiro, 1994).
Com relação ao poético, podemos dizer que o mesmo deve manter uma estreita relação com o imaginário de quem lê o poema, pois ele se torna poético de acordo com a interpretação individual de cada pessoa.
Já o termo cultura pode ser entendido da forma como T. S. Elliot afirma na obra de Loureiro (1994), ou como nos fala Japiassú e Marcondes (1996), que a entendem da seguinte forma:

"4. Num sentido mais filosófico, a cultura pode ser considerada como um feixe de representações, de símbolos, de imaginário, de atitudes e referências suscetível de irrigar, de modo bastante desigual, mas globalmente, o corpo social (p.61)".

Nesse sentido, podemos dizer que os diferentes povos que formam a população amazônica, possuem uma cultura que se apresenta de forma diferenciada das outras regiões que compõem o Brasil.
Nesse contexto, se fizermos aqui um parêntese e passarmos a falar de como a Amazônia é vista, podemos notar que essa região quando vista pela grande mídia passa-nos a impressão de que acontece um predomínio de florestas e animais, com um "vazio demográfico" sendo uma das principais características. No entanto, Trindade Jr. (s/d) e Gonçalves (2001) entende que se analisarmos a mencionada região, seja pelo aspecto físico, econômico, político, social, etc., iremos notar uma diversidade muito grande. Onde se diz que existe um "vazio demográfico", encontra-se uma população, embora rarefeita, que necessita de grandes extensões de terras para sobreviver (as diversas etnias indígenas, os seringueiros, garimpeiros e remanescentes quilombolas). E se existe povo, existe cultura, a amazônica é claro. Os traços culturais que prevalecem entre esses povos são os do mundo rural de predominância ribeirinha.
Portanto, na percepção de Velho (1981), esses povos possuem um imaginário popular muito forte, onde predominam tabus com relação ao consumo de certos alimentos e a crença em seres fantásticos que habitam as florestas e os rios.

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

GONÇALVES, Walter Porto. Amazônia, Amazônias. São Paulo: Contexto, 2001.

JAPIASSÚ, Hilton & MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. - 3 ed. rev. e ampliada ? Rio de Janeiro: Zahar, 1996.

LYRA, Pedro. Conceito de poesia. São Paulo: Ática, 1986. (Série Princípios).

TRINDADE JR, Saint-Clair Cordeiro da Trindade. A Amazônia e a dimensão humana de sua geografia. Disponível em: . Acessado em 21/08/2006.

VELHO, Otávio Guilherme. Frentes de expansão e estrutura agrária: estudo do processo de penetração numa área da Transamazônica. 2 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
Autor: Valtey Martins De Souza


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