Teoria do Conhecimento



1. Introdução

O presente trabalho apresenta um resumo sobre o que o autor Johannes Hessen explica sobre os tipos de conhecimento, e sobre o critério da verdade. Para Hessen, o sentido do conhecimento filosófico não busca apenas solucionar enigmas, mas também descobrir coisas muito especiais. Além disso, Hessen levanta uma discussão sobre a teoria do conhecimento à luz da fenomenologia, pois o conhecimento nasce da relação entre o sujeito e o objeto.

O sujeito e o objeto permanecem separados, porém assegurando que o dualismo do sujeito e do objeto pertence à essência do conhecimento.

A teoria do conhecimento como disciplina filosófica, e seu lugar no conjunto da filosofia, parte da definição da essência da filosofia.


2. Os tipos de conhecimento

2.1 O problema da intuição e sua história


Apreender espiritualmente um objeto, ou seja, conhecer algo consiste numa multiplicidade de atos. A consciência cognoscente deve rondar o objeto para compreendê-lo, e a mesma coisa fazem os pesquisadores e os metafísicos, afim de compreender algo, pois a consciência cognoscente aproveita-se de diversificadas operações mentais.

É relevante questionar se existe, alem do conhecimento mediato, um imediato, e se além do discursivo, existe um intuitivo (pelo olhar). Não há dúvidas de que este conhecimento existe, pois tudo que nos é dado pelas experiências internas e externas, são apreendidos pela mente de forma imediata.

Porém, quando se fala de intuição, trata-se de uma intuição não-sensível, ou seja, espiritual, que por sua vez não pode ser negada. Até mesma as leis lógicas são baseadas numa intuição, pois tanto no princípio quanto no final do conhecimento humano, existe a intuição.

Já que a intuição e o conhecimento intuitivo aplicam-se à visão espiritual, e há uma restrição onde se deve tratá-las como uma intuição formal, já a intuição material diz respeito a um fato supra-sensível, e esta é chamada de intuição no sentido estrito e próprio.

A intuição material pode ser de vários tipos, pois está fundamentada na estrutura psíquica do ser-humano, que por sua vez possui três fundamentais potências (pensar, sentir, querer), que fazem referência com as diferentes orientações da vida psíquica do ser-humano. Dessa forma, deve-se entender a intuição racional, que se trata do entendimento; a emocional, que se trata do sentimento; e a volitiva, que se trata da vontade. Nesses três casos, a apreensão imediata do objeto deve ser expressa pela palavra "visão".

Quanto aos objetos, estes possuem da mesma forma, três elementos: o ser-assim (essentia), que corresponde com a intuição racional; o ser-aí (existentia), que corresponde com a intuição volitiva; e o ter-valor, que corresponde com a emocional.

Platão foi o primeiro a tratar da intuição no sentido estrito, afirmando que as ideias percebidas pela razão são vistas primeiramente pelo espírito. Trata-se de uma intuição material, pois o que é visto se trata de dados materiais. Além disso, essa intuição é racional, pois aponta para uma atividade teórica e intelectual.

Já em Plotino, no lugar da visão das ideias, entre a visão do noûs, que se trata de uma atividade intelectual, mas além do noûs, existe uma intuição imediata do uno (maior princípio de realidade). Plotino fala sobre a contemplação do divino, onde mostra que a contemplação de Deus não é puramente racional, mas se baseia em elementos emocionais, ou seja, é uma visão mística de Deus.

Por sua vez, influenciado por Plotino, Agostinho, o Noûs coincide com o Deus do cristianismo, e o conteúdo do pensamento divino é o kósmos noetós, e o mundus intelligibilis. Para ele, trata-se de uma visão racional, e reconhece um nível superior da visão de Deus, ou seja, na experiência religiosa, entramos em contato imediato e de modo místico com Deus, o que se dá de forma emocional.

A partir de Agostinho, surge uma ideia mística de Deus na mística medieval, que vem com o oposto da escolástica de orientação intelectualista. A escolástica só reconhece conhecimentos do tipo racional-discursivo, e a mística, o direito da intuição, principalmente a intuição religiosa.

Já na Idade Moderna, com Descartes, a intuição só envolve uma intuição imediata de si, pois os atos da vida são vivenciados pelo próprio sujeito de forma real, ou seja, trata-se de uma intuição material que se refere a uma situação metafísica.

Em Pascal, o conhecimento do coração é posto ao lado do intelectual, e o conhecimento emocional, ao lado do racional, assim como para Malebranche. Em Leibniz e Espinosa, a intuição não exerce papel na teoria do conhecimento, assim como para Kant, que por sua vez não reconhece as experiências no sentido de uma apreensão imediata do objeto, pois para Kant, só existe conhecimento racional-discursivo.

Para David Hume, o entendimento humano não possui capacidade para saber se as coisas existem e nem como elas são, pois tudo que excede a capacidade de nossa consciência foge do conhecimento racional. Hume é chamado de cético, o que se aplica somente ao conhecimento teórico e prático, racional e irracional. O órgão prático e irracional é chamado de "crença", que se encontra no instinto psíquico, e que por meio disso, se alcança a certeza da realidade do mundo.

Assim como Hume, alguns filósofos ingleses (século XVIII), afirmam o conhecimento intuitivo no campo dos valores. Hutcheson afirma que os valores referentes ao belo (conhecimento no sentido estético) e ao bom (conhecimento no sentido moral), são apreendidos de modo emocional e imediato. Os juízos éticos de valor se baseiam na intuição; a falta de valor ou mesmo o valor, são medidos de modo imediato e intuitivo.

No século XIX, Fichte acredita numa intuição espiritual, intelectual, onde o eu absoluto conhece a si mesmo e suas próprias ações, sendo esta uma intuição racional-metafísica. Em Schelling, a filosofia da identidade define o absoluto como unidade do espírito e da natureza, apreendido na consciência através de uma intuição intelectual.

Schopennhauer por sua vez, assim como Kant, afirma que nosso conhecimento racional-discursivo se encontra no mundo fenomênico, e que se não houvesse outras formas de conhecimento, a essência das coisas permaneceria oculta. Porém, diferente de Kant, afirma que este conhecimento existe, na qual apreendemos a essência das coisas e a chave da metafísica.
Existem três formas de conhecimento para Fries, sendo eles, o saber, a crença e o pressentimento. O pressentimento é um conhecimento a partir de um sentimento puro, e é através dele que se apreende o eterno no temporal, e o divino no terreno, ou seja, é o órgão religioso do conhecimento. De forma semelhante, Schleiermacher afirma que a religião não é um saber e nem um fazer, nem entendimento e nem vontade, mas é o sentimento. Já a religião é um sentimento e uma intuição do universo.

O neokantismo parte para uma rejeição, principalmente para a escola de Marburgo, onde H. Cohen, seu fundador, acredita que a intuição é um engano, e por isso para Cohen, a intuição personifica a contradição ao pensamento científico, não podendo ser um instrumento do conhecimento, ou seja, só existe um método racional-discursivo e um racional-dedutivo onde o conhecimento se baseia.

O realismo crítico quanto à intuição, possui um ponto negativo, pois para J. Geyser a única intuição racional de natureza formal é a que conhece validade. Já A. Messer, aceita a intuição no terreno dos valores, ou seja, os valores estéticos e éticos são apreendidos de forma imediata e intuitiva, sendo a intuição o único órgão de conhecimento, assim como no campo metafísico.

Ainda com respeito à intuição, J. Volkelt entende uma certeza intuitiva tudo que a vivência imediata de algo que não foi exprimido, algo transubjetivo ou transcendente à consciência. Além disso, existe uma intuição estética, ética e religiosa, porém a certeza intuitiva é diferente da certeza quanto à necessidade lógica no pensamento.

Em Bérgson, o intelecto é capaz somente de apreender a forma matemática e mecânica da realidade, e não seu núcleo; e só a intuição é capaz disso, pois pela intuição é possível chegar ao núcleo de todas as coisas, alcançando a chave para a metafísica.

A intuição de Dilthey, assim como para Bérgson, é algo irracional. As certezas da realidade exterior partem de uma experiência imediata de uma vontade, e dessa forma racional e imediata, apreende-se a existência dos semelhantes. Segundo Dilthey, a intuição possui um papel no campo histórico, e a intuição é o órgão de conhecimento do historiador.

A partir disso, na fenomenologia o que conta é o ser-assim (o eidos das coisas), a partir de uma visão imediata da essência.

Husserl reconhece uma intuição racional, no sentido de intuição da essência, já Scheler reconhece uma intuição emocional como órgão de conhecimento dos valores; o que são completamente restritos ao entendimento. Este conhecimento é caracterizado como um "sentir intencional", onde os valores se iluminam para o entendimento, assim como no campo religioso, pois Deus é conhecido intuitivamente, ou seja, jamais podemos chegar a um fundamento absoluto de Deus.


2.2 O correto e o incorreto no intuicionismo


Conhecer ou não a validade de uma intuição junto do racional e discursivo, depende de como o ser pensa em relação a essência do ser-humano.

O lado teórico do ser-humano, cuja função é pensar, reconhece o conhecimento racional sendo válido. Já o lado sentimental e o da vontade, reconhecem o tipo racional-discursivo.

O filósofo que busca o conhecimento acaba por julgar os outros por si mesmo; mas se for o contrário, mantendo-se de acordo com a realidade concreta, se convence de que o centro do ser-humano está nas forças emocionais e volitivas, e que o intelecto depende das forças espirituais.

Sobre esse fato, Dilthey volta-se contra o racionalismo e o intelectualismo, pois a sua preocupação com o ser-humano o levou a entender como ser que deseja, sente e representa, colocando o conhecimento racional-discursivo ao lado do irracional-intuitivo.

No campo prático, a intuição enquanto seres que sentem e querem, é o verdadeiro órgão de conhecimento.

A intuição metafísica é rejeitada em Bérgson, e de outro lado deve-se negar o reconhecimento à intuição do ser-assim em Husserl.

A teoria do conhecimento deve dar à razão a última palavra, e reconhecer os direitos de uma intuição da essência faz com que a filosofia perca sua validade universal, seu caráter racional e científico.

A intuição do ser-aí de Diltley pertence ao campo prático, já a concepção do ser-ai no mundo exterior é baseada na experiência interna, porém as provas da existência do mundo exterior não são de caráter conclusivo.

Max Frischeisen-Köhler, seguidor de Diltkey, afirma que quanto ao problema da realidade, estaremos impotentes se admitirmos a sensação e o pensamento como formas de conhecimento, pois dessa forma a única coisa que se pode fazer é mudar a visão de uma construção dualista. Para ele, o conhecimento se dá também com a experiência e a intuição interna.

Além disso, também levanta a questão do conhecimento do mundo exterior é especialmente o conhecimento da existência do eu, pois vivenciamos imediatamente nossa própria existência, e consequentemente, vivenciamos no pensar e no querer, seres que realmente existem. Para ter certeza dessa existência, basta uma simples intuição de si mesmo.

No campo estético, os valores não podem ser aprendidos discursivamente pelo entendimento, mas intuitivamente pelo sentimento. Na ética, os juízos de valor "bom" e "mau" acorrem pela aplicação de uma norma moral superior à ação. Os juízos de valor primários e fundamentais baseiam-se numa apreensão imediata e emocional dos valores. No campo dos valores religiosos, o objeto da religião só pode ser conhecido pela via racional e discursiva.

Na história do problema da intuição, o conhecimento místico e intuitivo de Deus teve grande importância na história da filosofia, a partir de Agostinho até Scheler nos dias atuais. Outros representantes religiosos só reconhecem um conhecimento racional e discursivo a partir de um fato pressuposto, confundindo a religião com a metafísica num conhecimento racional, porém Deus não é objeto da metafísica, a qual se ocupa do fundamento do mundo.


3. O critério da verdade

3.1 O conceito de verdade


Sobre o critério da verdade, não basta que o juízo seja verdadeiro, deve haver a certeza dessa verdade. Para a consciência natural, a verdade do conhecimento parte da relação entre pensamento e objeto, que se trata de um conceito transcendente de verdade, que por sua vez se contrapõe com o conceito imanente de verdade onde a verdade existe no interior do próprio pensamento. De acordo com isso, a verdade significa algo formal, e coincide com a correção lógica.

O conceito de verdade pode ser associado ao fenomenalismo, tratado por Eduard von Hartmann, onde existem objetos independentes do pensamento, completamente incognoscíveis, e a verdade do conhecimento só pode consistir na concordância do objeto com suas próprias leis.

Esse ponto de vista é defendido por Kant, ou instituindo um idealismo estrito; ou reconhecendo a existência dos objetos reais. Se tempo e espaço existissem formalmente e apenas na consciência, deve-se supor que os objetos possuem determinações reais que aplicam aquelas formas da intuição, assim como para as formas do pensamento.

Mas o modo de ver as coisas se baseia em quem o conhecimento é uma reprodução ou uma produção do objeto, pois o conhecimento é relativo ao objeto, e isso não precisa consistir numa reprodução, basta supor que relação entre o pensamento e o objeto.

Dessa forma chega-se a uma conclusão sobre o que a consciência natural possui do conhecimento humano, que significa uma purificação crítica da concepção de que o conhecimento humano nada mais é do que uma relação entre um sujeito e um objeto.

O idealismo por sua vez, tenta remover o dualismo do sujeito e objeto, e instituir um monismo epistemológico, pois acredita que dessa forma todos os problemas do conhecimento são eliminados.

3.2 O critério da verdade


O conceito de verdade está ligado diretamente ao critério da verdade, o que é melhor explicado no idealismo lógico, onde a verdade significa concordância do pensamento consigo mesmo.

A ausência de contradição é um critério de verdade válido somente ao conhecimento do campo das ciências formais. Neste campo, o pensamento lida somente com os objetos pensados, e um juízo é verdadeiro se constituído conforme as leis do pensamento. No caso dos objetos reais para a consciência, deve-se procurar outros critérios de verdade.

Sobre o critério da evidencia imediata, pode-se perguntar se isso vale para conteúdos de pensamento, mas isso pode ter dois sentidos, que por evidencia, pode-se entender tanto algo irracional quanto racional. O irracional, a evidencia é uma certeza imediata de caráter emocional, e está presente em todo conhecimento intuitivo, não possuindo validade universal. Muitas objeções contra a intuição acontecem em função da não distinção entre objetividade e validade universal do conhecimento.

Todo conhecimento científico é de validade universal, porém, não se pode levantar evidencias no sentido de critério de verdade, que por outro lado, muitos epistemológicos concordam que a evidencia é critério de verdade no campo teórico, pois para eles, evidencia é algo racional, relativo ao entendimento.

Geyser quando trata evidencia e vivencia da evidencia, entende que o fato objetivo não está dando solução total para a dificuldade. Porém, não se pode simplesmente deslocar a evidencia para fora da consciência, como Geyser faz.

Quanto a evidencia no campo do pensamento, a evidencia não pode ser encarada como o verdadeiro fundamento de verdade de juízos claros, pois antes disso, é o que faz o que é de natureza lógica ter validade na consciência, já que o fundamento lógico dos juízos reside nas leis lógicas do pensamento.

As leis supremas do pensamento só podem ser fundamentadas por si mesmas, e essa fundamentação está no caráter de pressupostos necessários que possuem para todo o conhecimento. A essência do pensamento revelada por essas leis, é uma formulação da legalidade essencial do pensamento, e sem elas o pensamento e o conhecimento são impossíveis.

Existem, porém, conhecimentos que não se reduzem às leis lógicas, como no princípio de causalidade, no qual só é possível uma fundamentação transcendental. Não se pode, portanto, avançar no campo do ser e do acontecer reais, se não apoiar-se no pressuposto de que todo acontecimento acontece de acordo com o princípio de causalidade; e por outro lado, a fundamentação desse princípio tem a finalidade e significação com o conhecimento.

Assim como Switalski, pode-se dizer:

"O que garante validade aos princípios não é a matizada vivência da evidência, mas sim a intuição de sua fecundidade sistemática."


4. Conclusão


De acordo com Jahanes Hessen, o problema da intuição é vista de várias formas por vários pensadores. A validade de uma intuição depende de como o ser pensa sobre a essência do ser-humano.

De acordo com o critério da verdade, deve existir uma certeza sobre tal verdade, o que também pode ser analisado pelo fenomenalismo. Já quanto ao conceito de verdade, por sua vez é melhor explicado pelo idealismo lógico.

Hessen levanta sua colocação durante suas aulas no ano de 1925 colocando, portanto, o método fenomenológico a disposição da teoria do conhecimento.


5. Bibliografia


HESSEN, Johannes, Teoria do conhecimento. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

Autor: Priscila Rita Figlie


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