A INTERFERÊNCIA DO TRATAMENTO DO PACIENTE ESQUIZOFRÊNICO FRENTE A NÃO PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA



Arlindina Guimarães¹
Egle Sateles¹
Joice Follmann¹
Liane Magalhães¹
Maiane Martins¹
Emerson Mafia²

REFERENCIAL TEÓRICO

A esquizofrenia designa um grupo de transtornos psiquiátricos graves e incapacitantes, marcados por afastamento da realidade, pensamento ilógico, possíveis delírios e outras alterações emocionais, comportamentais ou intelectuais (LISBOA e MUNDIM, p.128, 2005).
Segundo Dale e Rang (2007) as causas da esquizofrenia ainda não estão totalmente esclarecidas, mas que fatores biopsicossociais interagem entre si propiciando o desenvolvimento ou não dessa psicopatologia. Entre as varias causas da esquizofrenia, a genética desempenha um papel de destaque no aparecimento desse transtorno psíquico.
Conforme esse mesmo autor, parentesco de primeiro grau tem uma probabilidade de 10% de ocorrer à esquizofrenia. Entre gêmeos idênticos, sendo um deles portador dessa psicopatologia, a probabilidade do irmão ser acometido por essa doença é de 50%. Nos gêmeos dizigóticos é cerca de 12% e, na população em geral o risco é em torno de 1%. Além disso, está doença está atrelada a um distúrbio do neurodesenvolvimento que ocorre nos primeiros meses de gestação causando uma atrofia dos neurônios corticais.
E para melhor esclarecimento dessa abordagem, Giaconi e Galera (2006) afirmam que:

Os fatores biológicos seriam aqueles ligados à genética e/ou aqueles que são devidos a uma lesão ou anormalidade de estruturas cerebrais e deficiência em neurotransmissores. Os fatores psicossociais são aqueles ligados ao indivíduo, do ponto de vista psicológico e de sua interação com o seu ambiente social, tais como: ansiedade muito intensa, estado de estresse elevado, fobia social e situações sociais e emocionais intensas. Enfim, indivíduos com predisposição podem desenvolver a doença quando estimulados por fatores biológicos, ambientais ou emocionais.

De acordo com Davdoff (2001) existem alguns subtipos de esquizofrenia onde o mesmo comporta-se de maneiras diferenciada durante apenas um dia, no qual possui subtipos como esquizofrenia paranóide que são diagnosticados cerca de um terço da população; esquizofrenia catatônica que tem como característica comportamento estranho, como entusiasmo, hiperatividade, loucura, alucinação e de repente violência; esquizofrenia desorganizada ou hebefrênicas esta se caracteriza por inutilizarão e infantilidade; esquizofrenia residual apresenta-se um comportamento de isolação emocional inapropriado e pensamento sem coerência, já a indiferente ocorre incoerência do pensamento e do afeto.
De acordo com Pedroso e Oliveira (2007) há varias formas de manifestação da fase maníaca que são: mania fraca grave é a mais intensa onde apresenta taquipsiquismo, agressividade, fuga de idéias e delírios de grandeza; mania irritada ou disfórica apresenta irritabilidade, mau humor, inimizade em relação às pessoas; mania mista possui sintomas maníacos e sintomas depressivos com alternância rápida; hipomania essa muitas vezes passa despercebidas, não recebendo tratamento médico adequado; ciclotimia definida por discretos sintomas depressivos de certa arrogância.
Além disso, esses mesmos autores afirmam que a mania com sintomas psicóticos se configura como a forma mais grave com delírio, alucinação, agitação psicomotora, desibinição social e sexual. O transtorno bipolar I possui episódios depressivos leves a graves com fase normal e maníacas bem definidas; transtorno bipolar II episódios depressivos leves a graves seguido de períodos normais e de hipomania; transtorno afetivo bipolar, tipo "ciclador" rápido há ocorrência de muitas fases maníacas, depressivas, hipomaníacas em curto período de tempo e apresenta pequenos períodos de remissão, ocorre um alto risco de provocar suicídio com na fase de mania.
Os aspectos essências da esquizofrenia são sinais e sintomas característicos, que são tanto positivo que consiste em um excesso ou distorção de função normal como negativo que reflete em uma diminuição ou perda das funções normais. (DORNELLES , 2003)
O diagnóstico da doença continua sendo clínico e na investigação de determinados sinais e sintomas. De certa forma as diretrizes diagnósticas continuam sendo derivadas de Kraepeln Bleuler e Schneider. Apesar de ter ocorrido certas mudanças surgiram com o passar do tempo uma padronização de critérios, de um olhar clássico de cada um destes especialistas. Apesar de ser uma forma de diagnóstico primitivo causas de sintomatologia bastante variadas sob o nome de esquizofrenia, onde também são incluídas as causas genéticas, orgânicas ou tóxicas acabaram sendo incluídas como surtos de esquizofrenia (FILHO; FILHO p. 127, apuld ALMEIDA; DRATCU; LARANJEIRA, 1996).
Pedroso e Oliveira (2007, p.622) afirmam que o prognóstico:
Com o tratamento adequado a maioria dos casos pode ser adequadamente controlada. A remissão espontânea com recuperação quase total do psiquismo pode ocorrer, entretanto, sempre ficam as marcas da experiência melancólica ou maníaca.
A esquizofrenia tem uma evolução crônica, em que é necessário o acompanhamento deste paciente em longo prazo, pois o mesmo se torna sensível, aumentando assim os riscos de suicídio. A finalidade desse acompanhamento é a prevenção de recaídas, suicídios, a reabilitação e a diminuição do estresse familiar. As formas de tratamento variam de acordo com o paciente, a fase e a gravidade da doença (SHIRAKAWA, 2000).
Na primeira consulta, é essencial atender primeiramente o paciente e, logo após os familiares. Nesta consulta, a anamnese necessitará ser subjetiva, solicitando sempre que necessários exames neurológicos. A revelação do diagnostico só deve ser feita após o paciente tiver um vínculo de confiança com o médico, para que o mesmo tenha uma aceitação adequada da doença. Nas próximas consultas, o psiquiatra deve ressaltar que a esquizofrenia e uma doença crônica, onde a mesma tem um tratamento de prazo indeterminado, é que não se deve interromper a medicação (SHIRAKAWA, 2000).
A internação só acontecerá se a crise estiver intensa e representando algum risco para o paciente e a sua família, ou quando não existir apoio familiar. Sendo que esta internação não deve prolongar mais de 30 dias. Após a liberação do paciente, deverá ocorrer um acompanhamento ambulatorial, em que será imprescindível o apoio da família. Quando os pacientes tiverem sintomas negativos, é indicado antipsicóticos, especificamente a tioridazina que é indicada por não apresentar efeitos colaterais indesejáveis mais graves (SHIRAKAWA, 2000).
Quando os sintomas positivos forem intensos, o paciente deverá fazer uso de antipsicóticos, em que interferem na quantidade de neurotransmissores no cérebro, bloqueando os receptores de dopamina (MCGRATH, 1998).
Além de medicação, o paciente necessitará de abordagens psicossociais, para que ocorra a reorganização da sua vida nessa nova realidade. Entre as abordagens psicossociais, podemos citar a psicoterapia que tem como objetivo a melhora dos sinais e sintomas e prevenir recaídas, em que poderá ser individual que potencializa o apoio ao portador da esquizofrenia que tem dificuldade na vivência, melhorando a sua qualidade de vida, ou em grupo, onde estimula a conversação, proporcionando suporte e proteção (SHIRAKAWA, 2000).
A família e essencial na vida dos portadores de esquizofrenia, pois são eles que identificam os primeiros sinais e com isso buscam o tratamento, muitas vezes tornando-se responsáveis pela administração da prescrição médica (VILLARES, 2000).
As abordagens familiares com intervenções psicossociais são importantes para que os mesmos entendam a doença, como ela funciona, seus sintomas, e assim ajudem no tratamento deste ente querido, onde está intervenção mostrará as dificuldades que terão com a presença de uma pessoa portadora de esquizofrenia. A família poderá compartilhar informações entre si, direcionando metas e objetivos para alcançarem a melhor maneira de cuidar do seu familiar, não deixando de lado o tratamento medicamentoso (SCAZUFCA, 2000).
Logo após o programa de educação, tem início as sessões com a família, em que a mesma relata as dificuldades que estão enfrentando, que no qual o terapeuta informa o melhor método a ser utilizado para superar esses problemas. Outro ponto importante é o terapeuta conhecer as visões e os sentimentos dessa família em relação à esquizofrenia, como culpa, raiva, depressão e perda. Outra possibilidade é fazer essas sessões com várias famílias, para que assim elas troquem experiências, mas advertindo sempre que assuntos íntimos dos doentes esquizofrênicos não podem ser citados (SCAZUFCA, 2000).
Algumas famílias se sentem responsáveis pelo aparecimento dessa doença, em que ocorrem modificações sociais e morais para o portador de esquizofrenia. A convivência entre a família influência nos comportamentos, convívio e relacionamento na sociedade, sendo assim essencial para o esquizofrênico, pois o mesmo terá um modelo para seguir e se apoiar nas dificuldades enfrentadas no dia-a-dia (CARREIRA; MOURA 2009).
Apesar da comprovada efetividade da participação da família no tratamento ser benéfica, algumas famílias tem receios, mitos e medo de não conseguir dá o apoio e suprimir as necessidades desses parentes esquizofrênicos. Além disto, as famílias sofrem muita descriminação da sociedade, e que com isto acabam se afastando dos seus parentes esquizofrênicos pra não se prejudicarem na vida social. Outro fato importante e a carga financeira pesada, em que afeta o trabalho e a vida social de todas as pessoas que convive com o esquizofrênico.
Com o afastamento da família, o portador se sente sozinho mais isolado da sociedade e muitas vezes com muita raiva, ocasionando um agravo no seu quadro clínico, pois o mesmo pode deixar de tomar suas medicações, tendo recaídas com episódios mais fortes e mais graves e até mesmo perder a vontade de viver e cometer o suicídio.
Com a ausência da família, o portador de esquizofrenia não tem uma evolução satisfatória, principalmente na terapia psicossocial, pois a mesma não participa dos encontros realizados em grupos, ocasionando a falta de informação sobre o desenvolvimento do tratamento da doença para os profissionais de saúde. Outro ponto crucial, e o modo que a família reage nos momentos de crises do portador, em que dependendo da reação da mesma pode prejudicar no tratamento do esquizofrênico (CARREIRA e MOURA 2009).
BRASIL (2004), as famílias que não tem condições de manter o tratamento medicamentos do seu familiar, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), recém regulamentado pelo Ministério da Saúde através da Portaria nº. 816/GM, dispondo-se de uma equipe multidisciplinar com avaliações freqüentemente dos profissionais da área de saúde, possibilita o usuário e familiares uma abordagem psicofarmacológica de forma efetiva.





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Saúde mental no SUS: os centros de atenção psicossocial, Brasilia, 2004.
CARREIRA, G. O.; MOURA, P. A. S. Esquizofrenia: Uma abordagem geral, com enfoque na assistência de enfermagem e familiar. 2009. Disponível em: . Acesso em: 01 de junho de 2010.
DALE, M.M; FLOWER, R; RANG H.P. Farmacologia. 6ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
DAVIDOFF, L. L; Introdução à Psicologia. 3ª Ed. São Paulo: Pearson Makron Books, 2001
DORNELLES, C. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 4ª ed. Porto Alegre: ARTMED, 2003.
FILHO, V. H; FILHO. B.G. Esquizofrenia. In: ALMEIDA, P. O; DRATCU, L; LARANJEIRA, R. (Org.). Manual de Psiquiatria. v.1. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996.
GIACONI, B. C. C.; GALERA, S. A. F. Primeiro episódio da esquizofrenia e assistência de enfermagem. São Paulo, 2006. Disponível em:.Acesso em 19 de abril 2010.
LISBOA, M. T. Luiz; MUNDIM, F. D. Enfermagem Psiquiátrica: Incrivelmente Fácil. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
MCGRATH, J. Como funciona a esquizofrenia. Estados Unidos. 1998. Disponível em: http://saude.hsw.uol.com.br/autores-howstuffworks.htm#mcgrath>. Acesso em: 13 de março de 2010.
PEDROSO, P. R. E; OLIVEIRA, G.R. Blackbook Cínica Médica. 1ª ed. Belo Horizonte: Blackbook, 2007.
SCAZUFCA, M. Abordagem familiar em esquizofrenia. Revista Brasileira Psiquiatria. Vol 22. São Paulo. 2000. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S151644462000000500017&script=sci_arttext&tlng=en>. Acesso em: 15 de abril de 2010.
SHIRAKAWA, I. Aspectos gerais do manejo do tratamento de pacientes com esquizofrenia. Revista Brasileira Psiquiatria. Vol 2. São Paulo. 2000. Disponível em:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151644462000000500019>. Acesso em 13 de abril de 2010.
VILLARES, C. C. Adaptação transcultural de intervenções psicossociais na esquizofrenia. Revista Brasileira Psiquiatria. Vol 2. São Paulo. 2000. Disponível em:. Acesso em: 19 de abril de 2010.
Autor:


Artigos Relacionados


Breves ConsideraÇÕes Atuais Sobre As Esquizofrenias

Esquizofrenia De Início Precoce

Cuidado Ao Paciente Psiquiátrico.

InteraÇÃo Familiar E Psicosocial Do EsquizofrÊnico

Esquizofrenia

ImportÂncia Da GenÉtica No Desenvolvimento Da Esquizofrenia

Esquizofrenia