A Questão Nuclear Iraniana: Uma Questão Histórica e Diplomática



Quão aberto estão os países ao diálogo? Esta pergunta se torna um tanto quanto difícil de responder quando falamos das relações entre Estados Unidos e Irã, dois antigos aliados que hoje não conseguem chegar a um consenso no que diz respeito à questão nuclear iraniana. Os Estados Unidos alegam que o Irã quer esta tecnologia com a finalidade de desenvolver bombas nucleares, enquanto que o Irã defende a aquisição para fins são pacíficos.
É impossível falar sobre tal questão sem considerar a relação dos EUA com Israel, dois aliados históricos. As declarações e opiniões de Mahmoud Ahmadinejad, presidente iraniano, sobre o holocausto e sua posição hostil em relação a Israel tornaram um acordo praticamente impossível. Israelenses e estadunidenses consideram a aquisição de arsenal nuclear por parte do Irã inaceitável, sendo que o primeiro passo para isso seria o desenvolvimento da capacidade de enriquecimento de urânio.
As hostilidades entre Washington e Teerã não são gratuitas, tendo causas históricas as quais devem ser enumeradas. Alguns fatos históricos nos ajudam a compreender melhora situação. O primeiro ponto é que programa nuclear iraniano foi feito em 1957 por iniciativa dos EUA. O Irã daquela época não possuía qualquer necessidade de tecnologia nuclear, no entanto hoje a busca para que se alcance a "Paz Iraniana".
O segundo ponto diz respeito à aquisição de armas nucleares pela China em 1964. Sendo os chineses comunistas e considerando o contexto de guerra fria, tal fato levou os estadunidenses a reforçar as políticas de não proliferação de armas atômicas através da criação da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) e de um tratado de não proliferação ao qual o Irã aderiu imediatamente. Israel, com a cumplicidade dos EUA de assistência tecnológica da França, conseguiu burlar as medidas de controle e em 1967 obteve a tecnologia nuclear com capacidade militar. A aquisição da Índia em 1974 dessa mesma tecnologia serviu de pretexto para que se impedisse o acesso por parte dos demais países.
Terceiro ponto: a verdadeira razão dos Estados Unidos para cessar a cooperação internacional no setor nuclear foi a perda do monopólio sobre o mercado de enriquecimento comercial. Os EUA perderam mercado em detrimento de Alemanha e França. Com esta perda, não havia mais interesse por parte dos estadunidenses na manutenção e crescimento do setor nuclear internacional.
Quarto ponto: os Estados Unidos da América foram co-autores da Ditadura do Shah, que governou o Irã até a revolução islâmica de 1979, a exemplo do que ocorreu em alguns países da América Latina onde ditaduras de direita foram apoiadas pelos estadunidenses e até planejada por estes, como foi o caso da Bolívia. O resultado foi a ocupação da embaixada americana no Irã durante a revolução islâmica.
Ainda durante o regime do Shah, os EUA viam estes como potenciais clientes para indústria bélica americana, previsão que não se confirmou quando o Irã passou a ajustar seus gastos militares de acordo com sua necessidade e a buscar alternativas diferentes no que diz respeito a fornecedores. Além de um cliente inútil, o Irã passou a orquestrar dentro da OPEP a estabilização e aumento do preço do petróleo. Esta atitude era inadmissível para os EUA.
Se o ressentimento pelo passado da relação Teerã e Washington torna um diálogo difícil, a ausência de um diálogo entre estes o torna impossível. O recente acordo firmado entre Irã, Brasil e Turquia foi uma demonstração rara de Teerã quanto sua disposição em negociar e sair do isolamento internacional em que se encontrava. Vale ressaltar que o nível de enriquecimento determina os fins do urânio: enriquecido a 3%, fins de geração de energia, a 20% fins medicinais e terapêuticos, a 90% fins militares (bomba atômica).
O acordo previa o enriquecimento do urânio em solo turco, o que em tese controlaria o programa nuclear iraniano, já que o nível de enriquecimento do urânio determina a finalidade deste. Esta seria uma forma de controlar os fins da tecnologia nuclear iraniana, controlando o enriquecimento do urânio.
No entanto, o acordo foi imediatamente rejeitado por um grupo de países que possuem armas nucleares e advogam a sua não proliferação, dentre eles os Estados Unidos. Surgem agora as indagações quanto à teoria igualdade entre os países tão defendida pelo direito internacional. Quem tem direito de decidir sobre o programa nuclear iraniano, ainda que visasse ou não a construção de uma bomba atômica? Um grupo de países que possuem um arsenal nuclear e pregam a não proliferação ou um país que possui grandes reservas de petróleo e há alguns anos viu seu vizinho Iraque ser invadido pelos estadunidenses sob o pretexto de que possuía armas de destruição em massa?
Considerando esta ótica, os EUA são muito mais perigosos ao Irã do que estes aos Estados Unidos e a Israel, que assim como os americanos possuem armas nucleares e capacidade para um segundo ataque. Ainda que o Irã venha a desenvolver uma bomba nuclear, o que Teerã alega não ser seu objetivo, esta só serviria como poder de dissuasão, esta no sentido de evitar uma invasão estrangeira por conta dos recursos naturais, a exemplo do que ocorreu no Iraque. Faz-se necessário registrar que Washington sabia da não existência de armas de destruição em massa no Iraque, pois se tais armas existissem, jamais arriscariam uma invasão.
Toda esta situação nos remete ao principio do governo Obama, onde este enviou um vídeo a Teerã numa tentativa de reconciliação. Este vídeo obteve como resposta o pedido de uma mudança de postura, não só de palavras. Agora é um bom momento para se promover a diplomacia entre países e, como nas palavras do ministro Celso Amorim, passar da imposição ao diálogo.
Autor: Alax Barbosa Dos Santos Costa


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