A Descoberta do Verdadeiro Homero em Vico



Universidade Estadual do Ceará.Uece.
Cmaf. Curso de Mestrado em Filosofia
Disciplina: Tópicos especiais em Metafísica.
Profº Dr. Expedito Passos.
Aluno(especial) José Gilardo Carvalho

Resumo: Essa comunicação se reporta aos terceiro e quarto livros da obra do filósofo Giambattista Vico, Sciencia Nuova (Ciência Nova). No livro terceiro, Vico procura resolver a querela entre Antigos e Modernos sobre a origem de Homero. Vico analisa a questão e propõe uma solução nova, que rompe com Antigos e Modernos. Vico nega a poesia de homérica enquanto filosofia. Aponta sua importância poética e sua excelência no que se refere ao direito e a história dos povos primitivos.Enquanto no livro quarto se reporta ao Curso que fazem as Nações.

Da Descoberta do Verdadeiro Homero

Vico demonstra que a Sabedoria poética foi a sabedoria vulgar dos povos da Grécia. Primeiramente poetas teólogos e mais tarde heróicos, ela deve comunicar, como necessária conseqüência que a sabedoria de Homero não foi espécie absolutamente diversa. Porém Platão deixou a opinião de que ele fosse provido de sublime sabedoria oculta. Vico quer examinar se Homero jamais foi filósofo.

Da Sabedoria Oculta que Opinaram de Homero.

Vico analisa o verdadeiro caráter da sabedoria homérica .Homero teve de proceder, segundo os sentidos vulgares, e, por isso, dos vulgares costumes da Grécia, em seu tempo Barbara, pois tais sentidos vulgares e tais vulgares costumes dão a própria matéria aos poetas. E por isso, se lhes reconheça o que narra ?estimar os deuses pela força?como pela suprema força, Júpiter quer demonstrar, na fábula da gande corrente, que ele é o rei dos homens e dos deuses, cuja vulgar opinião torna verossímil Diomedes ferir Vênus e Marte com a ajuda trazida por Minerva, a qual na contenda dos deuses, despoja Vênus e fere Marte com uma pedra.
Eis o Homero julgado até agora ordenador da grega polícia, ou seja, civilização que por esse fato começa o fio com o qual tecem toda a Ilíada.
Eis o Homero inatingível ao imaginar os caracteres poéticos, como aqui faremos ver, dos quais os maiores são mui inconvenientes à nossa humana civil natureza. Mas esses são decorosissimos em relação à natureza heróica.
Mas admita-se que isso tenha sido necessário a Homero, para se fazer melhor entender pelo vulgo feroz e selvagem. Porquanto, ter êxito, pois tais comparações são incomparáveis, não é tampouco de um espírito por alguma filosofia humanizado e apiedado, poderia nascer aquela truculência e ferocidade de estilo, com a qual descreve tantas, tão variadas e sanguinosas batalhas, tantas tão diversas, e todas com extravagantes e crudelis sinais, especialmente de assassinatos que, de modo particular, fazem todo o sublime da Ilíada.
Tais costumes toscos, vis, ferozes,selvagens, moveis, irracionais ou irracionalmente obstinados, tolos e superficiais.... não podem ser senão de homens, por fraqueza das mentes, como crianças pelo vigor das fantasias, como mulheres pelo calor das paixões, como violentíssimos jovens. Razão pela qual se tem de negar a Homero toda a sabedoria oculta. As coisas aqui meditadas são matéria mediante as quais começam a se desfazer as dúvidas, que nos impõem na necessidade da busca do verdadeiro Homero.

Da Pátria de Homero

Tal foi a sabedoria oculta até agora atribuída a Homero. Vejamos agora a pátria pela qual rivalizam todas as cidades da Grécia, não faltando sequer aquelas que o quiseram grego da Itália e para assim precisá-lo, Leone, Alsasci em vão se afadiga. Sabemos ter sido do ocidente da Grécia, ao sul daquela passagem onde Alcinoo, rei feaces a Ulisses, que dos seus vassalos, os quis diz serem experientes marinheiros, que o levariam se precisasse, até Eubéia os que, por acaso, a viram, diziam ser mui distante, como se fosse a ultima Tule do mundo grego.De cuja passagem se demonstra com evidencia que o Homero da Odisséia foi autor diverso daquele da Ilíada.
A rivalidade das gregas cidades pela honra de terem Homero como fato originou-se do fato de que quase todas observaram em seus poemas expressões frases e dialetos, que eram vulgares da cada uma delas.

Da Idade de Homero.

Vico cita varias passagens dos poemas homéricos e conclui sobre a idade de Homero.
Homero parece ter vindo nos tempos em que já caíra na Grécia o direito heróico e começara a celebrar-se a liberdade popular, pois que os heróis contraem matrimônios com os estrangeiras e os bastardos vem nas sucessões dos reinos.E assim deve ter, sido, pois que ao longo tempo antes, Hercules manchado de sangue do disforme centauro Nesso, e fora de si, estava morto; ou seja, como no livro segundo explicamos terminara o direito heróico.
Assim, pois querendo nós da Idade não desprezar absolutamente nenhuma autoridade, por todas essas coisas observadas e recolhidas em seus próprios poemas, e, mais que da Ilíada daquele da Odisséia, que Dionísio Longino estima ter Homero, sendo velho, composto, confirmamos a opinião daqueles que o põem mui distante da guerra de Tróia, cujo tempo percorre o espaço de quatrocentos e sessenta anos, que a ser aproximadamente os tempos de Numa. E acreditamos também agradá-los, quando o colocamos nos tempos mais próximos de nós porquanto, após os tempos de Numa, dizem que Psamético abriu aos gregos o Egito, os quais, por infinitas passagens da Odisséia, particularmente, haviam desde muito tempo aberto o comercio em sua Grécia aos fenícios de cujas relações nada menos que das mercadorias, como agora os europeus daqueles das índias , tinham os povos gregos costumes de deleitar. Por isso, convém essas coisas: que Homero não viu o Egito, da Líbia e da Fenícia e da Ásia, e, sobretudo da Itália e da Suécia, pelas relações que os gregos tinha tido com os fenícios.
Mas não vemos se esses tantos e tão delicados costumes bem se quadram com tantos selvagens e ferozes, que ele, ao mesmo tempo, narra de seus herói, e particularmente na Ilíada, pois parecem tais poemas terem sido por diversas idades e por diversas mãos trabalhados e terminados.
Assim, com tais coisas que aqui foram ditas da pátria e da idade do, até agora considerado prosseguem as dúvidas para a busca do verdadeiro Homero.

Da Inatingível Faculdade Poética Heróica de Homero.

Mas a ausência da filosofia que nós acima demonstramos de Homero e as descobertas feitas de sua pátria e idade, que nos fazem fortemente duvidar de que talvez tenha sido um homem vulgar excessivamente são avaliadas pela desesperada dificuldade, que propõe Horacio na Arte poética, de se poder depois de Homero imaginar caracteres, ou seja, personagens da tragédia totalmente novos, onde ele aos poetas aconselha a emprestá-los aos poemas de Homero.
Como Homero, quer viera antes foi tão inimitável poeta heróico e a tragédia que nasceu depois, começou tão real, como todos sabem, tal como nós mais detalhadamente aqui o observaremos? E a outra é mais sublime de todos os mais sublimes poetas, com são os heróicos , e, mais tarde, criadas as filosofias, e as poéticas, e as criticas artes, não houve poeta, que pudesse por longuíssimos intervalos de tempo segui-lo?
O que se demonstra com essa critica metafísica que as fábulas, que em seu nascimento resultaram próprias e convenientes a Homero chegaram corrompidas e obscenas. Como se pode observar por toda a Sabedoria poética acima meditada, que todas antes foram verdadeiras historias, que aos poucos, se alteraram e se corromperam, e, assim corrompidas, finalmente, chegaram a Homero. Razão pela qual devemos situá-lo na terceira idade dos poetas heróicos: Após a primeira, que criou tais fábulas, praticadas como verdadeiras narrações na primeira própria significação do termo ( ), que por esses gregos costumes é definido como ¨verdadeira narração¨; a segunda por quantos a alteraram e a terceira finalmente de Homero, que assim corrompidas, as recebeu

Provas Filosóficas para a Descoberta do Verdadeiro Homero

Nesse estado de coisas, combinem essas provas filosóficas.

I
Os homens são naturalmente levados a conservar as memórias das ordens e das leis que os mantém dentro de sua sociedade.
II
Que primeiro nasceu a historia, depois a poesia; pois a história é uma simples anunciação da verdade, mas a poesia é uma imitação a mais.
III
Tendo vivido os poetas certamente dos historiadores vulgares, a primeira história deve ser a poética.
IV
Que as fábulas, em seu nascimento foram narrações verdadeiras e severas, a fábula( foi definida ¨ vera narratio ¨ , como dissemos varias vezes acima), as quais na maior parte das vezes obscenas.
V
E, tal como no mesmo livro se demonstrou tão gastas e corrompidas foram recebidas por Homero.
VI
Que os caracteres poéticos, nos quais consiste a essência das fábulas nasceram, por necessidade da natureza, incapazes de abstrair as formas e as propriedades dos temas; e, em conseqüência dever ter sido a maneira de pensar de inteiros povos, postos em tal necessidade de natureza, que ocorre no tempo de maior barbárie.
VII
Visto que os bárbaros são faltos de reflexão, a qual mal utilizada é mãe da mentira, os primeiros poetas latinos heróicos cantaram histórias verdadeiras ou seja as guerras romanas. E nos tempos bárbaros retornados, por tal natureza da barbárie, os mesmos poetas latinos não cantaram senão histórias.
VIII
Tendo sido estes os caracteres poéticos, necessariamente suas poéticas alegorias, como acima se demonstrou em toda a Sabedoria poética, devem unicamente conter significados históricos dos primeiros tempos na Grécia.
IX
Tais histórias tiveram de ser naturalmente conservadas na memória dos comuns povos, pela primeira prova filosófica há pouco relembrada: que como as crianças das nações tiveram de maravilhosamente valer-se da memória.
X
Por isso, os poetas tiveram de ser os primeiros historiadores das nações: que é a razão pela qual Castelvetro, não soube fazer uso de suas palavras para descobrir as verdadeiras origens da poesia.
XI
Que a razão poética determina ser coisa impossível que alguém poeta e metafísico e igualmente sublime; dado que a metafísica abstrai a mente dos sentidos enquanto a faculdade poética deve imergir por inteiro a mente nos sentidos.A metafísica ergue-se aos universais e a faculdade poética deve aprofundar-se nos particulares.
XII
Em virtude daquela dignidade acima?apresentada que em cada faculdade pode ter êxito com a indústria, quem não a natureza, mas na poesia é com efeito negado a quem não tem a natureza ter êxito com a indústria?e as artes criticas servem para tornar cultos os engenhos, não grandes, pois que a delicadeza é uma virtude minuciosa, e a grandeza naturalmente despreza todas as coisas menores; antes, como grande ruinosa torrente não pode passar sem levar consigo águas turvas e rolar pedras e troncos com a violência do curso, assim como são as coisas vis, que se encontram tão frequentemente em Homero.
XIII
Mas estas fazem com que Homero não seja pai e o príncipe de todos os sublimes poetas.
XIV
Pois ouvimos Aristóteles estimar inatingíveis homéricas; que é a mesma razão pela qual Horacio considera inimitáveis seus caracteres.
XV
É sublime até o céu nas sentenças poéticas, que demonstramos, nos corolários da natureza heróica no segundo livro terem de existir conceitos de paixões verdadeiras ou que em virtude de uma ardente fantasia nos façam verdadeiramente sentir, e, por isso, devam ser individualizadas naqueles as sentem.
XVI
As comparações poéticas tomadas por coisas cruéis e selvagens, como acima observamos, são incomparáveis certamente em Homero.
XVII
A atrocidade das batalhas homéricas e das mortes, como também acima vimos constituem a maravilha da Ilíada.
XVIII
Mas tais sentenças, tais comparações, tais descrições também acima provamos não terem podido ser naturais de tranqüilo e gentil e delicado filósofo.
XIX
Que os costumes dos heróis homéricos são de crianças pela inconstância das mentes de mulheres pela robusteza da fantasia de violentíssimos jovens pelo fervente bolor da cólera, como se demonstrou, e, em conseqüência, impossíveis para um filósofo fingir com tanta natureza e felicidade.
XX
Que as inépcias e impropriedades são como também acima foi provado, efeitos da infelicidade, com as quais haviam se preocupado, na suma pobreza de sua língua, enquanto a formavam,os povos gregos para se expressarem.
XXI
E contemplam-se também os mais sublimes mistérios da sabedoria oculta, que demonstramos na Sabedoria poética não conter de certo. Como soam, não podem ter sido conceitos de mente justa, ordenada, grave, como ao filósofo.
XXII
Que a fábula heróica, como acima se viu no livro segundo, nas origens das línguas, foi uma fala por semelhanças, imagens, comparações, nascida pela inópia de gêneros e de espécies que são necessários para definir as coisas com propriedade e por conseqüência, nascida por necessidade de natureza comum a inteiro povos.
XXIII
Que por necessidade, de natureza, como também no livro segundo se disse, as primeiras nações falaram em verso heróico.
XXIV
Que tais fábulas, tais sentenças, tais costumes, tal fala, tal verso chamaram se todos ¨ heróicos ¨, e foram celebrados nos tempos em que a história situou os heróis, como plenamente se demonstrou acima na Sabedoria poética.
XXV
Assim, pois, todas as anteriores foram propriedade de povos inteiros e, por conseguinte, comuns a todos os homens de tais épocas.
XXVI
Mas nós por essa natureza, de saíram todas as anteriores propriedades, pelas quis ele foi o maior dos poetas negamos que Homero jamais tenha sido filósofo.
XXVII
Por outro lado, demonstramos acima na Sabedoria poética, que os sentidos de sabedoria oculta dos filósofos, os quais vieram em seguida, foram introduzidas nas fábulas homéricas.
XXVIII
Mas, como a sabedoria oculta não é senão de poucos homens particulares, assim somente a conveniência dos caracteres poéticos heróicos, nos quais consiste toda a essência das fábulas heróicas.

Provas Filológicas para a Descoberta do Verdadeiro Homero.

Vico comenta as provas filológicas .

I
Que todas as antigas histórias profanas possuem fabulosos princípios.
II
Que os povos bárbaros, fechados a todas as demais nações do mundo , como foram os germanos antigos e americanos, foram encontrados a conservar nos versos os princípios de suas histórias, conforme acima se viu.
III
Que a história romana se começou a escrever pelos poetas.
IV
Que nos tempos bárbaros retornados os poetas latinos escreveram suas histórias.
V
Que Manes, pontífice máximo egípcio, elevou a antiguíssima história egípcia escrita por hieróglifos a uma sublime teologia natural.
VI
E na Sabedoria poética tal demonstramos terem feito os gregos filósofos da antiguíssima história grega narrada por fábulas.
VII
Donde, nós acima na Sabedoria poética, tivemos de manter um caminho efetivamente retrogrado daquele que tivera Manes, e, pelo sentidos místicos restituir as fábulas os seus nativos sentidos históricos; e a natureza e facilidade sem esforços, enganos e contorções, com que o fizemos prova a propriedade das alegorias históricas que continham.
VIII
O que gravemente prova isto é que Estrabão numa áurea passagem, afirma antes de Heródoto, antes de Ecateu Milésio, toda a história dos povos da Grécia foi escrita pelos poetas.
IX
E nós no livro segundo, demonstramos que os primeiros escritores das nações tanto antigos quanto modernos foram poetas.
X
Há duas áureas passagens na Odisséia onde, desejando se aclamar alguém por ser lhe narrado bem uma história se diz tê-la contado como musico e contar que devem ter sido com efeito, aqueles que fazem seus rapsodos, os quais foram homens vulgares, que separadamente conservaram na memória os livros dos poemas homéricos.
XI
Que Homero não deixou escrito nenhum dos seus poemas, como muitas vezes o disse resolutamente Flavio Josejo hebreu contra Ápio, grego gramático.
XII
Que os rapsodos separadamente, ora um iam cantando os livros de Homero nas feiras e festas, pelas cidades da Grécia.
XIII
Que da origem das duas vozes, onde tal nome ¨ rapsodo ¨é composto, eram costureiros de cantos ¨ , que devem ser recolhido não de outrem certamente senão de seus mesmos povos: assim como pretendem seja chamado de ¨ fiador ¨ que junta o credor com o devedor. Tal origem é tão longa e forçada quanto e plausível e própria para significar que o nosso Homero foi remendão, ou seja, compositor de fábulas.
XIV
Que os Psistrátidas tirados de Atenas, dividiram e dispuseram, ou fizeram dividir e dispor, os poemas de Homero na Ilíada e Odisséia: donde se entenda quantos antes deviam ter sido uma confusa congérie de coisas, quando é infinita a diferença que se pode observar dos estudos de um e de outro poema homérico.
XV
Que os mesmos Psistrátidas ordenaram que lá na frente pelos rapsodos fossem cantados nas festas panatéias como escreve Cícero.
XVI
Mas os Psistrátidas foram expulsos de Atenas pouco antes dos tarquinos de Roma: portanto colocando-se Homero aos tempos de Numa, como assim provamos, mesmo assim deve ter passado um longo tempo depois que os rapsodos continuassem a conservar na memória seus poemas.
XVII
Assim, Hesíodo que deixou obras escritas, pois que não temos autoridade que pelos rapsodos fosse como Homero, conservado na memória e pelos cronólogos, com uma vã, diligência, é colocado trinta anos ante de Homero, deve ser colocado depois dos Psistrátidas.
XVIII
Por essa razão o mesmo se deve dizer de Hipócrates, o qual deixou muitas e grandes obras escritas não já em verso, mas em prosa, pois que naturalmente não se podiam conservar na memória: donde ele deve ser colocado aproximadamente nos tempos de Heródoto.
XIX
Por tudo isso, Vossius, com excessiva boa fé julgou refutar Josefo com três inscrições heróicas, uma de Anfitrião, a segunda de Hipoconte, a tercira de Laomedonte e Martinho Scoockio assiste a Gussefo contra Vossius.
XX
A que acrescentamos que Homero jamais faz menção de cartas vulgares, e a carta por Preto escrita para Êuria, insidiosa a Belorofonte, como observamos acima diz ter sido escrita por Onyara.
XXI
Que Aristarco corrigiu os poemas de Homero, os quais mesmo assim tetêm tanta variedade de dialetos, tantas inconveniências de falas, que devem ter sido vários idiotismos, dos povos da Grécia e igualmente tantas licenças de medidas.
XXII
De Homero não se sabe a pátria com acima se notou.
XXIII
Quase todos os povos da Grécia quiseram-no seu cidadão, como também acima se notou.
XXIV
Apresentaram-se acima fortes suspeitas de que o Homero da Odisséia nasceu no Ocidente da Grécia, no Sul e aquele da Ilíada, no Oriente, na parte Norte.
XXV
Não se sabe sequer a sua idade.
XXVI
E as opiniões são muitas e tão variadas, que a diferença é o espaço de quatrocentos e sessenta anos, situado-o, pelas sumamente opostos entre si, uma nos tempos da guerra de Tróia, outra nos tempos de Numa.
XXVII
Dionísio Longino, não podendo dissimular a grande diversidade dos estduso dos dois poemas diz que Homero sendo jovem compôs a Ilíada e velho a Odisséia.
XXVIII
O que deve iluminar toda a confiança de Heródoto, ou de quem tenha sido o autor, na vida de Homero, onde se cantam tantas belas, variadas e minuciosas coisas, que preenchem todo um volume; e na vida que escreveu Plutarco, o qual sendo filosofo, falou com a maior sobriedade.
XXIX
Mas Longino formou talvez semelhante conjectura, porque Homero explica na Ilíada a cólera e o orgulho de Aquiles, que são propriedades dos jovens, e na Odisséia narra as astucias e contelas de Ulisses, que são costumes dos velhos.
XXX
É igualmente tradição que Homero foi cego, e da cegueira tomou esse nome, que em língua jônica quer dizer ¨ cego ¨ .
XXXI
E o próprio Homero narra serem cegos os poetas que cantam nos jantares dos grandes, como cegos o que canta naquele que dá Alcinoo a Ulisses, e ainda cego o outro que canta no jantar dos prócios.
XXXII
E é propriedade de natureza humana que os cegos se valham maravilhosamente da memória.
XXXIII
E finalmente, que ele foi pobre e andou por mercados da Grécia cantando seus próprios poemas.

Descoberta do Verdadeiro Homero.

Sutilíssimos engenhos de homens excelentes em doutrina e erudição ao lerem a Ciência Nova pela primeira vez em impressa, suspeitaram que Homero até agora julgado não fosse verdadeiro: todas essas coisas, digo, agora nos induzem a afirmar que como da guerra troiana, que conquanto ele manifeste uma famosa época dos tempos da história, até mesmo os críticos mais sagazes julgaram que aquela jamais tenha ocorrido no mundo. E certamente, como da guerra troiana, assim de Homero não teriam grandes vestígios permanecido quanto são os seus poemas em tanta dificuldades, juntamente com os seus poemas que chegaram até nós, parecem dar-nos tal coragem de afirmá-lo pela metade: que este Homero tenha sido uma idéia, ou seja, um caráter heróico de homens gregos, enquanto estes narravam cantando, suas histórias.
1
As contradições e inverosimilhanças do Homero até agora estimado tornam-se no Homero aqui descoberto conveniências e necessidades.
Tornam-se no Homero aqui descoberto todas conveniências e necessidades.E, primeiramente, as mesmas coisas máximas que nos foram deixadas incertas de Homero nos obrigam a dizer:
I
Que por isso os povos gregos tanto contenderam a respeito de sua pátria e o quiseram, quase todos, seu cidadão pois que estes povos gregos foram este Homero.
II
Homero verdadeiramente viveu pelas bocas e na memória desses povos gregos da guerra troiana até os tempos de Numa. Que fazem o espaço de quatrocentos e sessenta anos.
III
E a cegueira
IV
E a pobreza de Homero foram dos rapsodos, os quais, cegos, se chamavam de ¨ Homero ¨, pelas cidades da Grécia, dos quais estes eram autores porque haviam composto as suas histórias.
V
Assim, Homero compôs jovem a Ilíada e quando eram jovem a Grécia e , por conseguinte, ardente de sublimes paixoões, como orgulho, cólera, vingança, cujas paixões não sofrem dissimulação e amam a generosidade; donde admirou Aquiles, herói da força: mas velho compôs a Odisséia, quando a Grécia havia com que refriado os ânimos com a reflexão, a qual é a mãe da prudência, donde admirou-se Ulisses, herói da sabedoria.
VI
Desta forma, demonstra-se que o Homero autor da Ilíada havia de muito precedido o Homero autor da Odisséia.
VII
Demonstrou-se que aquele foi do oriente da Grécia para o Setentrião, o qual cantou-nos a guerra troiana feita em seu país; e que este foi do ocidente da Grécia para o Sul o qual canta Ulisses que tinha naquela parte o seu reino.
VIII
Assim, Homero, perdido na multidão dos gregos povos se justifica de todas as acusações que foram feitas pelos críticos e particularmente
IX
Das sentenças vis
X
Dos costumes grosseiros
XI
Das rudes comparações
XII
Dos idiotismos
XIII
Das licenças dos metros
XIV
Das inconstantes variedades dos dialetos
XV
Vale dizer que, como soam cantadas pelos gregos, não podem ter lhe granjeado a glória de ter sido o ordenador da grega civilização, tal dificuldade volta em Homero como a mesma que nós acima nas anotações a tábua cronológica, fizemos acerca de Orfeu, chamado fundador da humanidade da Grécia.
XVI
Ainda mais, pertencem a Homero, por justiça, os dois grandes privilégios, que de fato são um, que lhe são atribuídos por Aristóteles, as mentiras poéticas, e por Horacio, de que os caracteres heróicos somente souberam se fingir.
XVII
Naquelas suas selvagens comparações
XVIII
Naquelas suas cruéis e atrozes descrições de batalhas e de mortes.
XIX
Naquelas suas sentenças dispersas de paixões sublimes
XX
As quais foram todas propriedade da idade heróica dos gregos, na qual e pela qual foi Homero incomparável poeta; pois que idade da vigorosa memória, da robusta fantasia e do sublime engenho ele não foi absolutamente filosofo.
XXI
E, ainda mais ele tira vantagem certa dos três imortais elogios que lhe são dados.
XXII
Primeiro, o de ter sido ordenador da grega polícia, ou seja, civilização.
XXIII
Segundo, o de ter sido o pai de todos os outros poetas.
XXIV
Terceiro, o de ter sido a fonte de todas as gregas filosofias: nenhum dos quais a Homero até agora julgado se podia dizer.
Os pemas de Homero, encontram-se como dois grandes tesouros do direito natural das gentes da Grécia.
Mas sobretudo, por esta descoberta, se lhe acresse, um fulgentíssimo louvor.
XXV
O de ter sido Homero o primeiro historiador, o qual terá chegado de toda a gentilidade.
XXVI
Tanto que o mesmo fato ocorreu com os poemas de Homero, que proveio da lei das XII tábuas: pois que, como estas, tendo sido jugadas leis dadas por Sólon aos atenienses, que depois chegaram aos romanos, mantiveram até agora escondida a história do direito natural das gentes heróicas do Lácio. Assim, porque tais poemas foram julgados trabalhos espontâneos de um homem especial, sumo e raro poeta, mantiveram escondida a história do direito natural das gentes da Grécia.

História dos Poetas Dramáticos e Líricos Meditada

Já demonstramos acima terem sido três as idades dos poetas antes de Homero: a primeira dos poetas teólogos, pois que os mesmos foram heróis, os quais cantaram fábulas verdadeiras e severas; a segunda dos poetas heróicos, que a alteraram e a corromperam; a terceira de Homero que alteradas e corrompidas a recebeu.

Referencias bibliográficas: Vico, Giambattista . Ciência Nova(tradução,prefácio e notas; Marco Lucchesi- Rio de Janeiro- Recor, 1999).páginas 353 a 389
Autor: José Carvalho


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