A Lenda Dos Ipequis



Embirapitã ( que quer dizer cipó vermelho ) era um pescador solitário e triste... que muito trabalhava, mas cujo trabalho pouco rendia... até que um dia ele viu passar um bando de    ipequis ( também chamados de mergulhões, ou de patinhos d'água ) que ia voando numa formação em "V". Intuitivamente, ele teve logo a certeza de que não era por acaso, mas sim, como ensinava a tradição  indígena  dos   ancestrais  da  tribo ,  que deveria ser algum sinal dos  seus antepassados, para ensinar-lhe alguma coisa boa através de mais este sinal da Natureza. 

E o que seria desta vez?... Certamente, mais um bom exemplo para ser seguido e aprendido com toda atenção... E ele começou a observar e a refletir com muito cuidado: - todos voavam na mesma direção, e sempre ia um na frente... Quando cansava, dava lugar  a  outro ,  que  assumia  então a  liderança enquanto o antigo mestre recuava para a retaguarda... E quando algum deles saía da formação em "V", todos os outros grasnavam para avisá-lo e para trazê-lo de volta... Os que voavam atrás pareciam fazer muito menos força, avançando no vácuo dos que iam na frente...O que será que isto queria dizer?... 

A primeira conclusão de Embirapitã  foi a de que quando cada pássaro faz a sua parte, o rendimento de todo o bando é muito maior... e deve ser  o  dobro  do  que  seria  se  cada  ipequi voasse sozinho...

A segunda conclusão foi a de que todos os mergulhões voavam sempre na mesma direção e certamente para um só propósito: o de chegarem a algum lugar... 

E de repente Embirapitã se deu conta de  que pescando como ele estava fazendo era o mesmo que "voar sozinho"... e que de muitas outras maneiras ele também costumava "voar" assim:  - quando enfrentava tristezas, sofrimentos, decepções, ou perda de alguém... 

E Embirapitã aprendeu. 

Essa era a lenda que o Pajé contava para todos os jovens da tribo tamoio de Paquetá, recomendando para que todas as vezes que eles vissem os ipequis voando na formação  em "V" -  de Vitória -  ou, se preferissem, na formação em "A" -   de Amigos  -    se   lembrassem   de   Embirapitã  e  dos patinhos d'água... da tristeza solitária e da pesca escassa de Embirapitã, e do progresso e da alegria dos ipequis, que voavam cantando e sempre  se  ajudando  uns  aos  outros, para   ensinar  aos  homens  que  nós   não   fomos feitos para voar sozinhos, mas em bando, como os ipequis... e que seja pescando, brincando, sofrendo, rindo, ou chorando... se estivermos em bando, o nosso proveito será sempre muito maior... 


Autor: Marcelo Cardoso


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