Emoção, Brasil era tri há 40 anos



Emoção, Brasil era tri há 40 anos

Edson Silva

Eu tinha oito anos, mas me lembro de uma das maiores conquistas esportivas que acompanhei: o tri-campeonato de futebol do Brasil, no México, há quarenta anos, em 21 de junho de 1970. Hoje é possível fazer reflexões econômicas e políticas da época. Assisti aos jogos no Jardim Santa Vitória, em Campinas, mas sequer tínhamos televisor e o jeito foi ver Pelé, Rivellino, Jairzinho, Tostão, Gérson, Clodoaldo, Carlos Alberto, Piazza e demais craques desfilarem categoria na televisão, em preto e branco, da nossa vizinha, dona Aparecida.

Foram seis jogos e após cada um a festa era dos adultos e nossa, das crianças, que corríamos para olhar o céu cheio de balões em cores verde, amarela, azul e branca, ouvir fogos e os comentários sobre o golaço com chapéu no goleiro feito pelo Jairzinho, dos quase lindos gols do Pelé e dos chutes, que eram verdadeiros torpedos, do Rivellino. Como esquecer Jairzinho ajoelhar-se próximo ao escanteio e fazer sinal da cruz ao marcar o terceiro gol brasileiro na final contra a Itália?

E olha que a cena não era original. Nosso "furacão" da Copa imitou o theco Petras, que no primeiro jogo do Brasil naquela Copa de 70 deu um baita susto ao fazer 1x0 e depois mostrar sua fé com o gesto. Mas Deus mostrou mesmo ser brasileiro. Nossa Seleção venceu por 4x1, placar que se repetiria na grande final. Nem se falava em Argentina, cuja história em Copas se resumia ao vice-campeonato da primeira competição, em 30. Além do Brasil bi-campeão, os bichos papões das Copas eram os também bi: Itália (34/38) e Uruguai (30/50), este com a agravante de ganhar do Brasil, no Maracanã.

Conhecido como "Celeste Olímpica", o Uruguai nos enfrentaram na semi-final e perderam por 3x1, com direito a lances incríveis de Pelé, como um drible sem bola no goleiro e conclusão para um quase gol dos que seriam antológicos. Na final contra a Itália quem ganhasse pela terceira vez a Copa ficaria definitivamente com a taça Jules Rimet. Deu Brasil, mas a taça ficou aqui só até ser furtada, derretida e ter o ouro receptado no mercado ilegal.

Nas escolas cantávamos o Hino Nacional, havia a Bandeira Nacional nas salas e fotos de generais presidentes que não os elegemos. E pensar que há gente que questiona o valor de eleger os próprios representantes. Dos norte-americanos invejávamos o cinema, as latinhas descartáveis que podiam ser amassadas como fossem papel e a liberdade de usar nas roupas cores de sua bandeira ou a própria bandeira para comemorações.

Aqui, sofríamos com a censura ao ponto de, em 82, quando eu já estava na Faculdade de Jornalismo, uma professora dizer que soube de chacinas de índios aqui no Brasil só ao receber, de uma amiga francesa, vasos que vieram embrulhados em páginas usadas de jornais daquele país, os quais estampavam tais notícias. Como um governo contraditório que fazia questão de manter o povo analfabeto politicamente, mas divulgava suposta campanha de alfabetização, acharia que um brasileiro soubesse ler francês?

Com a história seguindo o curso, os jogos de junho, como bem retratou em livro meu amigo Eustáquio Gomes, seguem de quatro em quatro anos. O Brasil é penta-campeão e busca o hexa nesta Copa de 2010. A estréia assisti no mesmo Santa Vitória, mas a casa não é mais de madeira e no local havia, não um, mas quatro televisores e coloridos, bem diferente da época do chamado "Milagre Econômico Brasileiro".

Edson Silva, 48 anos, jornalista, Campinas
Email: [email protected]

Autor: Edson Terto Da Silva


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