Pesadelos noturnos: Iminência de vida



Noite estranha essa.
Há um desejo latente de chegar logo em casa e um silêncio cortante mesmo entre os amigos mais próximos. Eu posso sentir. Funciona como se todos os seus segredos mais rasgantes de repente quisessem saltar da sua garganta e você tem saudades da sua infância. Isso se você teve uma.
Eu estou sentado na calçada me perguntando porque não aceitei o convite daquela linda mulher há uns dois anos atrás para ir para casa dela... Talvez tivesse sido apenas uma noite... Provavelmente ela teria me posto pra correr assim que a noite acabasse.
Mas com desconhecidos sempre há a probabilidade de algo mais...
Um futuro talvez.
Filhos. Jantar aos domingos. Fim de semana com os pais da moça. Cortinas novas e um lar pra chamar de meu.
Os olhos daquela mulher por alguns segundos me fizeram desejar isso, eu acho. Ou talvez seja apenas essa sexta feira agourenta que está mexendo com a minha cabeça.
Claro que eu tentei fazer como todo mundo. Terminar a escola. Ter um emprego. Ter filhos. Mas as coisas parecem não ser assim tão fáceis pra mim.
Eu sempre escolhi o caminho mais difícil, o caminho mais difícil para chegar a lugar nenhum. Mas eu teria escolhido o caminho mais difícil para o paraíso também. Até se eu fosse para o inferno iria pelo lado mais difícil da montanha.
Devia ter parado de fumar. Agora com 40 anos nas costas não vou mais parar. Esse negocio ainda vai me matar. Vou parar diante do trono de Deus com os pulmões pretos. Não que eu realmente acredite que Deus julgaria pessoalmente meu caso.
Eu nunca soube fazer nada. Além de consertar carros. Nada. Um ninguém.
Filhos. Sempre quis ter um filho. Mas um desregrado sem nada como eu. Como eu criaria uma criança?
Tenho uma casa e faço uns bicos numa oficina perto de casa, tenho um carro velho, mas, além disso, não tenho nada.
Não sei porque estou pensando nisso agora, depois de velho e com a vida acabada resolvi filosofar sobre o passado?
Eu poderia voltar pra escola, fazer um curso, conseguir um emprego fixo, reformar a casa e criar meus filhos.
Que raios de pensamentos são esses agora? Primeiro eu teria que arrumar os filhos! Deve ser esse choro de criança abafado eu está confundindo minha cabaça.
...
Choro de criança?! Vem do cesto de lixo! Tem um bebê aqui dentro! Uma criança... Minha criança. Agora você terá um lar.
Digam o que quiserem dessa noite, para mim foi um milagre.
Autor: Viviane De Sousa Furtado


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