Idas e vindas



A noite estava convidativa. O clima. A música. Tudo fazia com que ele lembrasse aos poucos, tudo que ela representara para ele. E agora, estava ainda pior. Ele a via, naquela pista de dança, linda, extrovertida, simpática e verdadeira. Diferente de qualquer outra garota que ele já viu. Ele a amara muito uma vez, duas vezes, três vezes. Ela o amara muito uma vez, duas vezes, três vezes. No entanto, no meio de tanto amor, as intrigas eram sempre presentes. Os motivos eram sempre desprezíveis, mas nenhum queria ceder; e nenhum tinha segurança do sentimento do outro. O coração deles já estava partido com essa história. Desgastado, mas não realizado. Ele sentiu-se fraco. No meio da festa, sentou-se e pôs-se a pensar nela. Naquela que apesar de má, tinha a chave do seu coração. E os anos não conseguiram mudar isso. Ela tentava ignorar a presença dele, o máximo possível, para que ele achasse que ela não se importava com ele. O que era mentira. Ele pôs as mãos na cabeça e desistiu de lutar contar si. Percebeu que a amava. A amava ainda, como quando na primeira vez. E que nenhum dos vários relacionamentos que ele teve, foi no mínimo, o bastante para anular o sentimento do rapaz. Ele sabia que era o culpado. Da última vez que os dois estavam de bem, a menina estava loucamente apaixonada por ele, mas ele brincou com os sentimentos dela como um brinquedo que depois é jogado fora. E ele sabia que ela não o perdoaria tão fácil. Mas sabia mais ainda, que se não falasse com ela naquela noite, não dormiria ao chegar em casa; nem teria ânimo para nada. Então, ergueu-se e foi até a jovem, tirando coragem de onde não tinha. Chegando até ela, sua voz falhou. Ele a cutucou de costas. A garota virou e se surpreendeu ao ver quem a chamava.
-Poderia falar com você? ? essa pergunta foi muito difícil de ser feita, ele estava nervoso.
-Falar comigo? Sobre o quê?
-Você só poderia vir aqui fora um instante?
-Não quero.
-Por favor?
Ela revirou os olhos e andou na frente dele até o jardim, onde estava deserto.
-Diga. ? ela disse pondo as mãos na cintura.
Ele não sabia por onde começar. Como expressar tudo que ocupava desordenadamente o peito e a alma dele? E na frente dela, parecia ainda pior. Ele teria que ser convincente.
-Eu nem sei por onde começar. ? ele a olhava nos olhos. ? Não consigo parar de pensar em você um segundo. Sei que o que fiz da última vez foi imperdoável; mas você precisa saber de mim. Eu só fiz aquilo por imaturidade, insegurança. Eu não queria, mas fui pressionado e acabei...
-Você não queria fazer aquilo? ? ela riu friamente.
-Juro que não.
Ela o olhou com uma incredibilidade profunda.
-Eu ainda te amo. Eu tentei, tentei mesmo, mas você me tem de um jeito absoluto.
-Quer que eu acredite nisso mais uma vez? E depois me apaixone por você e você me esqueça?
-Eu nunca a esqueci. Eu tentava ignorar, mas partes de mim, meu coração, se importava com você. Se importa. Eu quero ficar com você, porque eu não estou meramente apaixonado, eu sou, há anos apaixonado por ti, e isso é imutável. Você pode me magoar, partir meu coração em mil, mas eu ainda vou te amar.
Ela encheu os olhos de lágrimas. Olhou para cima, tentando evitar que borrasse sua maquiagem.
-Me desculpe. Mas acreditar em você me parece tão absurdo, infantil, perigoso. Eu não quero acreditar de novo, em tudo isso. ? ela aumentou o tom de voz.
-Eu sei, entendo. O que eu teria que fazer para provar a você que é verdade?
-Não sei, acho que não é possível. Era só isso que queria comigo? ? ela perguntou secamente, fazendo menção de retornar à festa.
-Acredite em mim! ? ele quase gritou, com os olhos vermelhos, passando as mãos pelos cabelos. ? Eu preciso que você saiba que eu sou bem diferente do que eu passo para as pessoas. Eu sofro, eu choro. Eu tenho minhas fraquezas. Eu agi puramente por impulso adolescente ao deixá-la. Me perdoe, por favor?
Ela ainda o amava. E parte dela queria simplesmente jogar-se nos braços dele. Mas seu bom senso, e principalmente seu medo, de sofrer tanto mais uma vez a impediam. Havia algo naquele rapaz que a cativava, e que parecia verdade. Mas para ela, todas as vezes que ele disse que a amava foram verdade, por isso, ela temia de acreditar nele de novo. Ela sofreria com esse episódio, sabendo que ele foi atrás dela, mas mesmo assim, ela não se entregaria.
-Preciso voltar.
E antes que ela retornasse ao salão, ele a puxou para si, e beijou-a. O contato era estranhamente mágico e inédito para os dois. Apaixonante até para quem assistia à cena. No começo, ela relutou em correspondê-lo e tentou desvencilhar-se dos braços que a envolviam. Depois, entregou-se com igual entusiasmo àquele beijo, com tantos significados e tão único. Ela sentia-se protegida. Ele sentia-se protetor. Não é preciso comentar que em relacionamentos prévios, nenhum dos dois se apaixonaram; ficavam juntos de outros por pura conveniência.
Quando o beijo foi interrompido, a garota o olhou intensamente, ainda próxima dele e disse:
-Por que faz isso comigo?
-Porque eu ainda acredito em nós dois. ? lágrimas escorreram dos olhos dele.
-Eu não prometo que vai recuperar minha confiança rapidamente, será um processo longo.
-Eu espero, sem problema algum. Contanto que eu te tenha, perto de mim, estou ótimo!
-Você me ama de verdade? Pelo amor de Deus, seja sincero desta vez! Eu não agüento mais.
-Eu nunca menti em relação a isso. Meu coração é seu. Eu te amo.
Os jovens beijaram-se mais uma vez, com mais intensidade que anos de beijos. Cada toque era deliciosamente prazeroso. Cada carícia era bem vinda. O movimento entre eles era harmônico.
Eles viram que não poderiam viver separados. Então, se entregaram, honestamente, nas redes daquele amor tão forte, que os fazia sentir tão bem.
Autor: Leila Pordeus Miranda


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