Transtorno do Pânico: Uma Visão Epidemiológica



RESUMO
A síndrome do pânico teve sua importância subestimada durante muito tempo. Atualmente a maioria dos novos casos não é reconhecida, diagnosticada ou tratada de forma apropriada. Os transtornos ansiosos como a síndrome do pânico tem causado grande sofrimento não apenas para o individuo como para o meio social em que o mesmo está inserido. A relação direta da patologia descrita neste artigo com a epidemiologia é de extrema relevância visto que sua visão epidemiológica nos permite traçar padrões e esclarecimento de tamanha magnitude, sendo assim, é possível observarmos a sua prevalência e incidência com a finalidade de buscar-se um diagnostico e tratamento de menor desvio de erros.

Introdução

O Transtorno do Pânico é uma entidade clínica recente chamada antigamente de neurastenia cardiocirculatória. Seus sintomas foram descritos pela primeira vez por Freud sendo classificada pelo mesmo, como neurose ansiosa. O quadro foi agrupado sob o título de "neurose de ansiedade" até 1980. Este mesmo grupo foi subdividido, atualmente em Doença do Pânico e Transtorno de Ansiedade Aguda ou Generalizada, Segundo a Organização Mundial de Saúde, em Genebra (1994) foi classificada como F41. 0 - Transtorno de pânico (ansiedade paroxística episódica).

Dos distúrbios da ansiedade, o transtorno do pânico tem como características a presença de ataques de pânico que consiste em crises espontâneas, súbitas, de mal-estar e sensação de perigo ou morte iminente, com vários sintomas e sinais de alerta e hiperatividade autonômica, chegando ao máximo, em cerca de dez minutos. As crises podem levar a uma busca desesperada de escape (fuga) ou ajuda (ida imediatamente a um pronto-socorro), sendo esse comportamento chamado de "pânico".

Para Souza, (2008), muitas vezes, no entanto, exceto quando as crises são muito abruptas, intensas, ou em contextos especiais, a pessoa consegue se controlar, apesar de o desconforto e a insegurança serem intensos. Portanto, um ataque de pânico não implica, necessariamente, um comportamento de pânico.
Segundo o DSM IV (1994), a presença recorrente destes ataques e a preocupação sobre ataques futuros e suas conseqüências descrevem essencialmente o Transtorno de Pânico. Durante estes episódios os sintomas apresentados são: palpitações, tontura, sudorese, dispnéia, medo de ficar louco ou perder o controle, e outros de menor incidência, como dor no peito, sensação de irrealidade, parestesias, arrepios, sensação de desmaio e tremor. São necessários pelo menos quatro destes sintomas para corresponder ao critério diagnóstico.
O tratamento da Síndrome do Pânico tem como objetivo o alivio e prevenção das crises, seus sinais e sintomas, focando o sucesso e superação das fobias associadas ao Pânico, bem como evitar suas complicações.
De acordo Kaplan e Sadock (1999), apud Sakabe (2002), A farmacoterapia; - terapia cognitivo-comportamental, e a combinação das duas modalidades, fazem parte do tratamento da Síndrome do Pânico
Em geral, a combinação de antidepressivos, ansiolíticos e terapias, incluindo os exercícios de exposição e de relaxamento, são aplicadas como tratamento, variando de individuo para individuo.
O tipo de estudo será descritivo, com levantamento bibliográfico sobre o tema Transtorno do Pânico: Uma Visão Epidemiológica, desenvolvido através de pesquisas em periódicos, sites de busca, análise e comparação de levantamento bibliográfico.

Reflexões Teóricas

A palavra Síndrome é definida segundo Ferreira (2001), como conjunto de características ou de sinais associados a uma condição crítica, suscetível de despertar reações de temor e insegurança.

Segundo Mineiro (2005), o termo Pânico foi adaptado do grego Panikon e derivado do deus Pã, que era uma figura mitológica grega filho do deus Zeus e da ninfa Calisto ou de Hermes e da ninfa Dríope. Este ser habitava os bosques junto às fontes, mas tendo predileção pela Arcádia, local em que nasceu. Era um ser horrendo: da cintura para baixo como um bode peludo e da cintura para cima como homem, porém com chifres. Era uma divindade travessa e galanteadora, mas sempre rejeitado por sua feiúra. Portava sempre uma flauta feita de caniços do brejo. "Infundia terror entre os camponeses e pastores com a sua aparição repentina, foi de onde surgiu à denominação do Pânico, o terror repentino".

Segundo Assumpção Apud Santos (2006), o cérebro humano se desenvolve por experiência, assim como a personalidade, sendo que a personalidade funciona como um espelho do cérebro humano. O cérebro de um recém-nascido tem uma pequena capacidade de auto-regulação, necessitando da mãe para ajudá-lo em suas necessidades vitais e rotineiras. Quando está última não esta disponível para a criança, ela não desenvolve muito bem esta função de regularização; já quando a mãe atende bem a criança, ela fica mais independente, dorme mais calma e sua capacidade de regularização aumenta. Este processo nos acompanha durante a vida inteira, afinal, todos dependem de outras pessoas para sobreviver. Pessoas que não tiveram um processo satisfatório do gênero quando bebês, ao se tornarem adultas, normalmente se tornam centralizadoras, ansiosas e de difícil socialização, justamente alguns dos principais sintomas que acompanham o portador da Síndrome do Pânico.

Assim sendo, Assumpção apud Santos (2006) expressa que:
Os portadores do Transtorno do Pânico são pessoas que se sentem desamparadas, não tem uma figura de proteção, alguém que admire ou confie. Ao perceberem que não conseguem controlar tudo, tais pessoas acabam entrando num nível de ansiedade tão alto que acaba por desencadear uma crise de Síndrome do Pânico.

De acordo com o Brasil, (2008) a síndrome do pânico se caracteriza por ataques recorrentes de uma ansiedade intensa, (ataques de pânico), que não ocorrem exclusivamente numa situação ou em circunstâncias determinadas, mas de fato são imprevisíveis.

Baseados nesses conceitos podem observar que a base das crises é focada em sensações que para quem as vivenciam se torna um perigo real, porém não detectáveis em exames clínicos, o que os leva a um eterno conflito entre o perigo real e o irreal no qual o organismo envia um falso alarme ao cérebro fazendo com que todo o corpo se prepare para um perigo inevitável. Essas sensações corporais provocam uma repleta desordem levando a ondas de medo. Na condição de síndrome, o pânico atinge o individuo em sua totalidade com intensa sensação de catástrofe iminente.

Para Gracel (2005), as fobias que costumam estar associadas à Síndrome do Pânico não vem de medos de objetos ou de eventos concretos, mas sim do medo de ter outro ataque de pânico. Em alguns casos as pessoas evitam determinados objetos, situações ou lugares, porque temem outro ataque. Quando se muda a percepção de uma pessoa, ela aprende a lidar com a sua dificuldade, de forma a não ter mais crise de pânico.

O Transtorno do Pânico (TP) é uma entidade clínica recente e era antigamente chamada de neurastenia cardiocirculatória ou doença do coração do soldado ("coração irritável" denominação dada por Da Costa em 1860 durante a guerra civil americana), embora a primeira descrição sintomatológica tenha sido feita por Freud, que a classificou como neurose ansiosa. Até 1980, o quadro foi agrupado sob o título de "neurose de ansiedade" e atualmente este mesmo grupo foi subdividido em Doença do Pânico e Transtorno de Ansiedade Aguda ou Generalizada, Segundo a Organização Mundial de Saúde, em Genebra (1994) foi classificada como F41. 0 - Transtorno de pânico (ansiedade paroxística episódica).

Segundo Batello (2008), diversas especialidades médicas não têm grande conhecimento da síndrome do pânico como patologia, o que acarreta uma grande demanda de pessoas a procura de profissionais, em sua maioria, sem nenhum preparo para diagnosticar a doença, como consenquêcia, são gastos onerosos no setor publico de saúde e em sua grande maioria, gastos pessoais com exames desnecessários e tentativos frustradas.

De acordo a Mineiro (2005) os principais sintomas que podem aparecer isoladamente ou não são os seguintes: calafrios; confusão mental; despersonalização; desconforto abdominal; distorção da realidade; dor no peito; falta de ar; fechamento da garganta; formigamento; medo de morrer, de enlouquecer ou de cometer ato descontrolado; náuseas; ondas de calor; palidez; palpitações; sudorese; taquicardia; vertigem ou sensação de desmaio. Além dos sintomas clássicos, outros são relatados pelos portadores: acordar sobressaltado; atordoamento; boca seca; cabeça pesada; contrações musculares; extra-sístoles; flatulência; intestino solto; irritabilidade; metabolismo acelerado; pés e mãos gelados; rubor facial; sede constante; urinar com freqüência e zumbido no ouvido. O portador não sente todos esses sintomas de uma só vez, sente em grupos, com variações em cada crise, passando por todos em diferentes crises ou sem sentir alguns. As crises têm duração de alguns minutos, com algumas repetições na semana, mas, dependendo do grau de ansiedade do portador, podem estender-se por várias horas, com várias repetições diárias. Quatro sintomas clássicos indicam probabilidade de diagnóstico positivo ao TP.

Epidemiologia

Segundo definição de (Brasil 2008), epidemiologia é usado com doenças humanas e animais para a sua distribuição, fatores causais e características em populações definidas. Inclui incidência, freqüência, prevalência, surtos endêmicos e epidêmicos e levantamentos ou estimativas de morbidade em áreas geográficas e populações específicas. Usado também com descritores geográficos para a localização de aspectos epidemiológicos de uma doença. Exclui mortalidade para o qual existe qualificador específico.

Pesquisas realizadas nos EUA demonstram que para cada 1000 indivíduos cerca de um a três são afetados pelo TP. Ocorre, sobretudo em adultos jovens na faixa etária entre 20 e 45 anos de ambos os sexos, com predileção pelo feminino na proporção de 3:1. Nesta faixa etária os pacientes estão na plenitude de seu potencial de trabalho e ao apresentarem a doença são geradas conseqüências desastrosas voltadas tanto para o desenvolvimento profissional quanto social. É muito incomum iniciar depois dos 50 anos. Quanto mais cedo se inicia a doença, maior será o impedimento e grau de comorbidade e cronicidade. (www.fontedosaber.com)
De acordo Mineiro, ((2005) a incidência da síndrome do Pânico, na população mundial é de 2 % a 5% enquanto no Brasil, é de 4%; 50% dos portadores desenvolvem depressão; 90% agorafobia. A proporção é maior na faixa de idade entre 20 e 35 anos, mas em menores proporções, em qualquer idade. Atinge três mulheres para cada homem. Filhos e irmãos têm 25% de possibilidades de ter Transtorno do Pânico; O indivíduo urbano está mais propenso do que o rural.
Segundo Caetano (2000) apud Santos (2008), o ataque de pânico pode ocorrer em qualquer período da vida da infância á meia idade por tanto adultos jovens, cujos distúrbios podem trazer sérias conseqüências para o desenvolvimento profissional e pessoal Costa e Silva e cols. em estudo com 508 casos de pânico, encontrou 70% dos pacientes numa faixa etária entre 20 e 40 anos. O distúrbio do pânico é mais freqüente em mulheres. Caetano encontrou em nosso meio uma proporção de 2,5 mulheres para cada homem. Em outro estudo o mesmo antes determinou uma relação de 4,5 mulheres para cada homem. Em relação a outros dados epidemiológicos como cor, profissão, sócio-econômica os estudos sugerem ser o distúrbio do pânico uma patologia que encontraram maior incidência em pacientes de cor branca, boa educação e classe sócio-econômica média, foram condicionados pelo processo de seleção. Este quadro clínico teve sua incidência aumentada dramaticamente nos últimos dez anos. Este aumento pode ser atribuído a modificações sócio-culturais e a uma maior possibilidade diagnóstica nos tempos modernos.
De acordo estudos anteriores ao uso de critérios diagnósticos da terceira edição do Manual de Diagnóstico e Estatística (DSM-III, APA, 1980) não forneciam dados sobre a prevalência do transtorno de pânico, porém, em uma revisão de estudos europeus realizados entre 1943 e 1966, Marks e Lader (1973) estimaram uma prevalência para "neurose de angústia" entre 2% e 4,7%, sendo mais comuns em mulheres e jovens.
Quanto à prevalência do transtorno de pânico, é importante ressaltar que os critérios do DSM-III para TP são bastante restritos, e a prevalência de ataques de pânico é três a seis vezes maiores que a de transtorno de pânico (Von Korff, 1985). Nesses casos, considera-se juntamente a prevalência do diagnóstico de agorafobia, patologia considerada intimamente ligada ao curso natural do transtorno de pânico.
A maioria dos estudos concorda que a prevalência de transtornos ansiosos é, em média, 2 vezes maior em mulheres que em homens (com variação entre 1,2:1 para o transtorno obsessivo compulsivo e 8:1 para agorafobia, na faixa de 25 a 34 anos; Regier et al., 1988; Weissman e Merikangas, 1986;). No Brasil, essa mesma relação de prevalência entre homens e mulheres é observada (Almeida Filho et al., 1992;).
De acordo a Nardi (2005), a prevalência desse transtorno é muito maior em clínicas especializadas: 15% dos pacientes atendidos em clínicas para desordens vestibulares, 16% em clínicas cardiológicas e 35% dos pacientes com queixas de hiperventilação atendidos em hospitais gerais podem apresentar TP.
Além do fator gênero, observa-se também uma maior prevalência de transtornos ansiosos nas faixas etárias mais jovens. Por outro lado, outros fatores sociodemográficos, como raça, educação e urbanização, não são fatores de risco tão importantes quanto o sexo e a idade (http://www.amban.org.br).
Conclusão
Podemos concluir que o presente artigo voltado para Síndrome do Pânico no âmbito da epidemiologia nos permitiu além do conhecimento da patologia de forma geral e de características peculiares dos indivíduos com maior probabilidade de serem acometidos pela Síndrome do Pânico.

REFERÊNCIAS
Almeida Filho, N.; Mari, J.J.; Coutinho, E.; França, J.F.; Fernandes, J.G.;

BRASIL ? Ministério da Saúde - Política Nacional de Saúde Mental, 2008.


BATELLO, Celso Fernandes. A Síndrome do Pânico e a Hipoglicemia. Disponível em http://www.amiiris.com/ing/pdf/sindrome.pdf. Acesso em 08/11/08.

CRACEL, Daniela Leite de Carvalho. Síndrome do Pânico dentro de várias visões com ênfase em Gestalt-Terapia. Monografia. 2005. Disponível em http://www.igt.psc.br/ojs/viewarticle.php?id=73. Acesso em 08/11/08.

DSM-IV ? Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 4.ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, 2001.

KAPLAN, Harold e SADOCK, Benjamin J. Tratado de psiquiatria. 6.ed. Porto Alegre-RS: Artmed, 1999. v.2.
MINEIRO, Fernando. Tenho a Síndrome do Pânico, mas ela não me tem! Disponível em http://gold.br.inter.net/mineiro/. Acesso em 19/11/08.

Nardi AE, Valença AM. Transtorno do pânico: diagnóstico e tratamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005.

Regier, D.A.; Boyd, J.H.; Burke, J.D.; Rae, D.S.; Myers, J.K.; Kramer, M.K.;

SANTOS, Ana Paula. Transtorno do Pânico - Grupo de ajuda. Disponível em http://uberpan1.wordpress.com/2007/04/18/a-formacao-do-panico/. Acesso em 19/11/08.

SAKABE, Gustavo. O transtorno do pânico: as conseqüências do diagnóstico tardio. Monografia. Presidente Prudente, 2002.

SOUZA, Jorge Wilson Magalhães de. Transtorno do Pânico. Disponível em http://monografias.brasilescola.com/psicologia/transtorno-panico. Acesso em 12/11/08.
Transtorno de pânico - Artigos Científicos - Disponível em http://www.amban.org.br.
Weissman, M.M.; Merikangas, K.R. ? The epidemiology of anxiety and panic disorders: an update. J Clin Psychiat 47(suppl.): 11-7, 1986.

Autor: Marilia Souza Leal


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