Uma reflexão sobre o ensino de filosofia



Por Alfredo Mello

Existe uma discurção que envolve o ensino da filosofia que percorre toda história da educação. Nas linhas que se segue levantaremos algumas questões e ponderações com a ajuda do ilustre pensador argentino Guilhermo Biols. No entanto, não deixaremos de lado nossas convicções, ainda que modestas, a respeito de um assunto de extrema relevância.
Pois bem, três indagações se apresentam quando o assunto é o ensino de filosofia, a saber: a pedagogia aplicada no ensino médio deve ser usada, também, na Universidade? No ensino médio deve-se ensinar a história da filosofia ou o senso crítico? Afinal ensina-se filosofia ou a filosofar?
Atualmente existem dois significados para a palavra "Filósofo". Um dos significados toma o filósofo como um especialista em história da filosofia, o outro como detentor e construtor de um sistemático projeto filosófico. O filósofo entendido como um autêntico "pensador" está extinto, e essa é uma dura verdade, em nossos dias. A ausência de autênticos pensadores nos remete a seguinte indagação: Para que serve o ensino de filosofia? É uma pergunta hilariante, pois, não é comum uma pessoa perguntar para que serve a matemática, a física, história ou química, mas lhe perece pertinente perguntar: para que serve filosofia? A sociedade atual valoriza o estudo das coisas práticas e imediatas, ou seja, que tenham retorno monetário em curto prazo, e a filosofia não parece se encaixar nesse paradigma.
Depois de ser dada como morta pelos adeptos do positivismo, a filosofia - com o fracasso da ciência e da técnica em dar resposta para todas as perguntas - se ver hoje necessária. A filosofia, entendemos, tem o papel crítico de todos os outros conhecimentos inclusive o científico. Quando, por exemplo, se pergunta "para que filosofia?" se estará filosofando, mas quando perguntamos "para que matemática?" também se estar filosofando. Nesse sentido, o filosofo é aquele que Kant conceitua:

"Em geral, não se pode chamar de filósofo a que não sabe filosofar. Mas só se pode filosofar por exercício e pelo próprio uso da razão.
Como se pode aprender também filosofia? Cada pensador filosófico edifica sua própria obra, por assim dizer, sobre as ruínas de outra; mas nunca se realizou uma obra filosófica que fosse duradoura em todas as suas partes. Por isso não se pode em absoluto aprender filosofia, porque ela ainda não existe. Mas, mesmo supuséssemos que houvesse uma filosofia efetivamente existente, não poderia, contudo, aquele que a aprendesse, dizer de si mesmo que fosse um filosofo; pois seu conhecimento dela jamais deixaria de ser apenas subjetivo-histórico.
Na matemática, as coisas acontecem de outra maneira. Esta ciência sim pode ser apreendida, em certa medida; pois as demonstrações são aqui tão evidentes que todos podem convencer-se delas; também pode, graças a sua evidência, ser tomada de algum modo como uma doutrina certa e duradoura.
Aquele que quer aprender a filosofar, pelo contrário, só pode considerar todos os sistemas de filosofia como história do uso da razão e como objetos para o exercício de seu talento filosófico. O verdadeiro filósofo deve fazer, pois, como pensador próprio, um uso livre e pessoal de sua razão, não um uso servilmente imitador. Mas tampouco um uso dialético, isto é, tal que apenas se proponha dar aos conhecimentos uma aparência de verdade e de sabedoria. Este é o labor dos meros sofistas; mas totalmente incompatível com a dignidade do filósofo, como conhecedor e mestre da sabedoria."

Sobre o saber filosófico, I, 1943, p.46

Kant deixa bem claro que não é possível aprender filosofia, mas apenas a filosofar. No entanto, acreditamos que se pode e deve-se sim aprender filosofia, pois, filosofar sem primeiro conhecermos o que pensaram os grandes pensadores da história pode acarretar no repetir de idéias, o que compromete a autenticidade da obra de um pretenso pensador. Nesse sentido, o ensino de filosofia é primordial para a formação do filósofo contemporâneo, na medida em que o senso crítico é adquirido, simultaneamente, com o conhecimento da história da filosofia.
No ensino médio a filosofia deve ser fundamentalmente uma introdução histórica, ou seja, é essencialmente história da filosofia. Mas isso não quer dizer que o aluno não possa desenvolver o senso crítico. No entanto, o professor deve ser flexível ao senso crítico do seu aluno apenas durante as aulas. Assim, o professor não deve aceitar o que o aluno "pensa" em sua avaliação por esta se tratar da história da filosofia.

Na Universidade pode-se dar continuidade a uma introdução, de forma mais dinâmica, mas procurando explorar o senso crítico do aluno sempre com muita coerência. Assim, entendemos que o senso crítico do indivíduo tende a se desenvolver. Os cursos universitários de filosofia intencionam a "produzir" professores. Assim, todo conhecimento alheio, ainda que sofra alguma influência de algum grande pensador, a história da filosofia deve-se atribuir todo mérito ao autêntico filósofo.
Autor: Alfredo Mello


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