A psicanálise dos contos de fadas
Por: José Reinan Moreira Mota*
Bruno Bettelheim é um psicólogo austríaco, de grande destaque nos estudos sobre crianças com problemas mentais, sobretudo autistas. Doutorou-se pela Universidade de Viena. Foi um dos especialistas que mais se debruçou sobre o estudo da influência dos contos de fadas.
A obra "A Psicanálise dos Contos de Fadas" é de leitura instigante ao analisar os impactos psicológicos dos contos de fadas, de um modo geral e de cada conto em particular, para as crianças, tendo em vista que é este o público alvo para a leitura de tais livros.
Segundo o autor, os livros de contos de fadas, ao contrário de outras obras literárias, beneficiam as crianças no quesito de fazer com que as mesmas encontrem um significado para a vida, uma vez que, ajudam a desenvolvê-las intelectualmente, bem como contribuem para solucionar problemas interiores que perturbam a mente infantil. Os contos de fadas canalizam essa função porque transmitem à criança uma educação moral. As proposições expostas pelo autor explicitam, de modo claro e conciso, as contribuições psicológicas dos referidos contos para o desenvolvimento pessoal, social e afetivo da criança.
Para que a criança tenha a capacidade de dominar os problemas psicológicos do seu crescimento é preciso, a priori, que ela entenda o que se passa no seu inconsciente. Nesse aspecto, os contos possuem papel importante, uma vez que, sugerem imagens com as quais ela pode estruturar e direcionar a sua vida. A característica da polarização presente nos contos de fadas proporciona à criança o desenvolvimento de sua personalidade, haja vista que as personagens nesses contos não são ambivalentes dadas como na realidade, isto é, não são boas e más ao mesmo tempo. Dessa forma, o leitor, a partir da compreensão do papel exercido por determinada personagem, estrutura-se naquela a qual se identifica.
Nesse sentido, os contos competem-se da tarefa de propiciar à criança a aquisição de uma consciência madura, assim como a auxiliá-la a lidar com as pressões do seu inconsciente. Isso é garantido por tais livros, devido ao fato de tais estórias exprimirem sempre um final feliz: por mais peripécias que as personagens possam sofrer, estas no final saem vitoriosas, tal como se pode visualizar nos contos "O pescador e o gênio", "João e Maria" e "João e o pé de feijão". Por meio disso, tais estórias denotam a característica otimista pertinente aos contos de fadas.
Ao relacionar os contos de fadas com os mitos, Bettelheim (1980) salienta que os contos, ao contrário dos mitos, nunca se confrontam com o leitor diretamente, mas permite que a criança desenvolva uma consciência mais elevada quanto ao que a estória revelará sobre a vida e a natureza humana. "As respostas dadas pelos mitos são taxativas, enquanto que os contos é sugestivo" (p. 59). Dessa maneira, ao apresentar soluções para um determinado problema, os contos a fazem de forma implícita deixando que a criança, por si mesma, as descubra através das mensagens que transmitirá ao seu inconsciente.
No conto "Os três porquinhos", por exemplo, são mostradas à criança as vantagens da maturidade, esta expressa pelos estágios de crescimento que vitimam as personagens, que na verdade, consiste em apenas uma, no entanto, sob estágios de crescimento distintos. A estória mostra os benefícios do desenvolvimento da inteligência para que a criança possa ser vitoriosa, no sentido de ser capaz de romper com seus problemas internos.
Reportando para outros aspectos psicológicos, os contos "Irmão e Irmã", assim como "Simbad, o marujo e Simbad, o carregador" e o conto "Dois irmãos", atentam para a questão da integração dos aspectos opostos de nossa personalidade: id, ego e superego, como condição à felicidade. Por conseguinte, tal compreensão por parte do leitor, ressalta Bettelheim (1980), resulta do fato "[...] dos contos de fadas ilustrarem a natureza humana dualista" (p. 99). A partir da compreensão desta dualidade a criança pode, mais facilmente, reconhecer seus processos internos, aquilo que se passa em seu inconsciente. Outro caminho apontado pelo autor para conquistar uma personalidade bem integrada trata-se do fato das crianças resolverem problemas edípicos, sentimentos ambivalentes em relação aos pais, tendo em vista que o leitor pode projetar as figuras representadas nos contos em seus pais. Exemplo disso é a estória de "Branca de Neve", na qual a criança pode projetar a imagem da bruxa malvada em sua mãe. Nesse âmbito, as histórias dos contos de fadas proporcionam que criança, simultaneamente, desfrute das satisfações edípicas na fantasia, e na realidade poderem manter boas relações com os pais.
Para concluir, diante das inúmeras contribuições psicológicas, Bettelheim (1980) questiona as atitudes de alguns pais de privarem os filhos dos contos de fadas, já que tais estórias, por darem forma e conteúdo aos pensamentos infantis, garantem sempre um final feliz o qual a criança autonomamente não conseguiria imaginar. Além de transmitirem importantes ensinamentos no que concerne a mesma em conseguir solucionar problemas internos, como requisito para obter uma personalidade madura.
A partir da leitura do texto, o leitor absorve a dimensão de importância que possui os livros de contos de fadas. O autor consegue expor claramente a carga de significação que possuem tais estórias, de modo que demonstra o grau de aplicabilidade das estórias dos contos de fadas em nossa vida.
Autor: José Reinan
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