Cuidado



Alguns cuidam de animais, outros cuidam de ver se a roupa secou, alguns, ainda, cuidam de sentir a suavidade das mãos. Uma ode ao cuidado. O que de tão glorioso viria a desabrochar com uma flor na primavera de nossas vidas. O cuidado. Sim o cuidado. O cuidado que não vem antes e nem depois. Para alguns chega tarde, a ponto de entortar ainda mais a alma depois dos descuidos sem sentido, das dores em excesso e do desmantelo consigo mesmo. Para outros chega antes. Na dor da paulada certeira de um escorregadio pisar por entre serpentes de brinquedo. Para alguns nunca chega. Mas para aqueles que deixam falar a suavidade dos anos. O acúmulo infernal e belo. O acúmulo necessário. Para esses o cuidado convida. O cuidado fala antes. O cuidado passa a ser ética. Delicadamente manuseada no cotidiano das aflições, das emoções, das afecções, das mais simples àquelas que mais afetam: rasgam a alma, a pele, o olhar, o estar no mundo. O estar no mundo com cuidado nos pede calma. Suspiros. Compaixão. Pede consolo para a vergonha de ser gente nos dias de hoje. Às vezes me dá uma vergonha que dói. E de cuidado em cuidado seguimos respirando. Lidando. Saboreando com a ponta dos dedos e com o toque faminto de cada olhar o gosto de estar viva e de resistir. Aos maus tratos e às doenças. Aos desrespeitos e incompreensões. À pressa que não escuta, mas cala. Ao descuido daqueles e daquilos que não se importam em estar num mundo, muito menos em cuidar dele.
Autor: Cristiane Guimarães


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