Destruir é Fácil
Se um dia alguém, por pura inveja ou maldade, resolver falar para outro
alguém que você é um ladrão (escolhi esse defeito, pois todos os outros são,
desculpem a redundância, politicamente incorretos e esse, politicamente
aceitável) e esse outro alguém, naquele mesmo dia viajar para outro estado ou
país, levará consigo aquela última informação, de que você é um
ladrão.
Imaginem a situação: você aqui bem feliz da vida, comprando
alface crespa na fruteira da esquina para levar para a sua mãe que está com
dificuldade de caminhar por causa do reumatismo, dando “bom dia” até para os
passarinhos, sorrindo para as crianças, ajudando velhinhas a atravessar a rua e
lá, no outro extremo do país ou do outro lado do atlântico, alguém espalhando
para todo o hemisfério norte, com sua foto estampada na beira do mediterrâneo,
que você é um ladrão, um mau cidadão.
Anos se passarão, até um dia em que
aquela pessoa que viajou voltar e, ao nos encontrar, franzir a testa e dizer:
“sai para lá, seu ladrão”.
Basta uma única pessoa falar mal de nós para
outra única pessoa, que essa corrente se espalha para outras milhares de únicas
pessoas, que garantirão que outras milhares de únicas pessoas se encarreguem de
levar essa difamação adiante.
Pode ser até que, um dia, este viajante,
andando por Barcelona, encontre um toureiro famoso e, chamando-o para um
particular, dê com a língua nos dentes: lá no Brasil, aquele cara que tem a
mania de sorrir para as crianças e ajudar as velhinhas é na realidade um
ladrão.
O toureiro matará o touro da próxima vez com mais vontade e sem
arrependimentos, pois perdeu a fé no homem.
Você dirá que o contrário
também acontece, que se alguém falar bem de outro alguém, essa notícia se
espalhará na mesma proporção.
Na verdade, a notícia boa ficará engavetada na
redação do jornal da maldade, até que passe essa sua fase positiva, vindo a
cometer algum deslize e, finalmente, algo ruim surja para se
comentar.
Mas se você demorar para errar, não se preocupe, eles inventam
alguma coisa.
Sérgio Lisboa.
Autor: Sérgio Lisboa
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