A GRIPE DA TELEVISÃO
Hoje cedo disse para minha mãe que não queria ir para aula, não estava me sentindo muito bem. Ela ficou preocupada, mas não tinha com quem me deixar enquanto fosse limpar a casa de dona Letícia. Ela colocou sua mão áspera delicadamente em minha testa e seu rosto encheu-se daquele velho pesar, ela sentia dor por ser quem era, por tamanha impotência.
- Filho, hoje você vai para a escola. Sou obrigada a trabalhar, precisamos de dinheiro. Mas amanhã cedo nós vamos ao hospital.
- Está bem mamãe, acho que é só uma gripe.
- Pois é filho, é isso que me preocupa.
Eu não entendi muito bem porque ela estava tão preocupada com uma gripe boba, mas na escola acabei descobrindo.
Na hora da chamada não consegui segurar e tossi antes de responder presente. Todos me olharam estranho, me repugnando. Tive medo daqueles olhares, me senti culpado, com vontade de me esconder, quis o colo de minha mãe.
A professora me chamou e perguntou se eu não estava com a gripe da televisão.
Gripe da televisão? ? pensei ? será que é uma gripe que se pega assistindo TV?
- A não professora, faz mais de uma semana que não tenho contato com nenhuma televisão.
A sala estremeceu em meio da tantas risadas enquanto meu nariz escorria. Eu não entendia nada daquilo.
- Não Joãozinho, estou falando da gripe H1N1. Algumas pessoas já morreram na cidade, você não sabia?
- Não professora, eu não to sabendo não.
Será que eu tinha essa tal gripe? Será que estava morrendo?
Meu coração acelerou, comecei a suar frio e a tosse aumentou. Meus colegas se afastaram e fiquei no meio da sala, num vazio triste, numa confusão solitária.
- Joãozinho, é bom você ir para casa. Se estiver doente vai contaminar os colegas.
- Mas minha mãe não está em casa professora, só vem me buscar no final da tarde.
- Bom, então fique lá fora no pátio. Ao ar livre é menos perigoso para os seus colegas.
Fui lá para fora, com a cabeça baixa, meus colegas riam e sussurravam entre si, e eu só queria me esconder.
Fiquei num velho balanço brincando de vai e vem o restante do dia, afastado de todos, pois todos se afastaram de mim. Já estava quase escurecendo quando mamãe chegou. Uma mulher que trabalha na escola a abordou e começou a conversar com ela. Vi que mamãe tentava falar, mas a mulher não dava chance. No fim, minha mãe baixou a cabeça e fez novamente sua cara de pesar, mas agora com uma lágrima de acompanhante.
Ela dirigiu-se lentamente até o balanço onde eu estava, pegou-me no colo, verificou novamente minha testa e perguntou com o olhar cansado:
- Filho, está tudo bem?
E com o sorriso mais sincero de minha vida respondi:
- Sim mamãe, agora que você chegou, eu estou bem.
Autor: Cláudia Juliana Ochs Maciel
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