O BEIJA FLOR



Tania e Valdir se conheceram num curso de inglês, para o qual foram encaminhados pela empresa onde trabalhavam.
Ele, muito simpático e falante, ela por sua vez, tímida, carente, tentava resistir ás investidas daquele homem. Mas, por carência ou ainda quem sabe, por sentir-se atraída por ele, notava sua resistência enfraquecendo.
Tânia sabia que Valdir era casado, o que a deixava envaidecida, pois julgava ser melhor que a esposa, (fazia bem ao seu ego pensar assim), mas por outro lado, ficava receosa, afinal ela não queria problemas, nem ser mais "uma"na lista de conquistas de Valdir, pois sabia da fama que ele tinha junto ás mulheres.
Ele mesmo se dizia um "beija flor", um homem que vivia "o momento" e com ares de brincadeira afirmava que não deixava para traz nenhuma "flor" de que gostasse e que quanto mais "espinhos" tivesse e mais trabalho exigisse, mais ele queria,e não media esforços, nem poupava artimanhas para "beijar" a tal flor, afinal ele era homem e a sede de conquistas amorosas fazia parte do instinto masculino. E Tânia era a "flor" da vez ! Durante dias, Valdir cercou a moça por todos os lados, procurava despertar-lhe todos os desejos, emocionais, sexuais, fazendo florescer seus sonhos românticos.
Eram mensagens apaixonadas no celular, flores que chegavam ao escritório, telefonemas no meio da noite, com palavras sensuais e provocantes. Mesmo resistindo, estava claro que não demoraria á ceder diante de tanto empenho do rapaz, que á primeira vista, parecia apaixonado.
Valdir fez tanto que, Tânia acabou por se render, marcando um jantar para semana seguinte, e mesmo achando que a parada estava ganha, ele ainda lhe cobria de atenções e mimos,estando tão presente em sua rotina, que ela não pensaria em mudar de idéia.
Ao sair do restaurante, Tânia se deu conta de que já estava apaixonada, por mais que quisesse não estar , estava.
Naturalmente, passaram algumas horas num motel, onde Valdir já havia feito reserva e preparado a suíte com flores por todos os cantos, para impressionar a moça, caso ela mostrasse alguma dificuldade ou duvida. Mas, Tânia não se esquivaria, mesmo que não houvesse nenhum preparativo, ela já estava entregue á paixão.
Depois de horas de intimidade, prazer e carinho mutuo, Valdir a levou para casa, sentindo-se vitorioso, afinal tinha conseguido conquistar a moça mais difícil que já conhecera.

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Como trabalhavam em setores diferentes na empresa, nunca se viam, somente na escola de inglês é que se encontravam á noite. Mas a julgar pelos carinhos dispensados a ela antes do encontro e pela intensidade com que se amaram na noite anterior, esperava chegar em sua sala e encontra-la repleta de flores com bilhetinhos amorosos. Mas não havia nada, esperou pelas mensagens no celular e nada, nem mesmo uma simples ligação de "bom dia". Tânia não conseguia trabalhar direito, não se concentrava e cada toque do telefone corria para atender na esperança de ser Valdir ou qualquer noticia dele. Dizia á si mesma que se ele não desse sinal de vida antes de terminar o expediente, ligaria para o setor dele. E assim passou o dia ansiosa e dividida entre a sensação de ter sido usada e descartada e a esperança de que ele lhe faria uma surpresa romântica no fim da tarde.
A tarde passou, a noite também e nada, e Tânia, envergonhada, não teve coragem de procura-lo.
Como não houve aula naquela noite, saiu do trabalho direto para casa, onde passou a noite chorando, arrependida por ter cedido, odiando-se, por ter se apaixonado. Porem, com o nascer do dia, nascia em Tânia um ódio, um desejo de vingança tão forte quanto a paixão despertada por aquele homem e ambos os sentimentos lutavam entre si, pelo espaço em seu coração.
Fez do banho, daquela manhã, uma cerimônia, na tentativa de tirar de seu corpo e de seu coração, qualquer vestígio de saudade de Valdir, procurando uma maneira de feri-lo, de se vingar, de humilha-lo.
Pensou em procurar pela esposa dele e contar o que havia acontecido entre os dois, mas logo tirou essa idéia da cabeça, pois sabia que Valdir iria encontrar um jeito de convence-la de que era mentira, despeito de uma mulher rejeitada por ele. Pensou então em difama-lo em sua masculinidade, coisa que ninguém acreditaria porque as mulheres mais liberais da empresa que já haviam se envolvido com ele a desmentiriam, e pior ainda, poderiam dizer que, se ele falhou teria sido por falta de competência dela como mulher, o que faria desaparecer por completo o que restou de sua auto estima, reforçando a hipótese de mulher rejeitada por ele.
Mais serena e conformada foi trabalhar, mas decidida a não deixar que ninguem na empresa ou na escola ficasse sabendo de sua dor, e para facilitar as coisas, trocou o horário do curso para que não tivesse que encontra-lo.
Desistiu de sua dieta e passou a almoçar no restaurante da empresa com algumas colegas de trabalho, mesmo sabendo que Valdir aparecia por lá de vez em quando.
Com o passar dos dias, sua sede de vingança desapareceu, e um dia ao cruzar com Valdir na saída do restaurante, notou que junto com ela, diminuía também a paixão e o interesse por ele. Isto a deixou tranqüila e tão contente que convidou algumas colegas de curso para tomarem um chopp depois da aula, e acabaram saindo Tânia e mais três garotas.



A choperia onde tinham ido era bem grande, talvez por isso demoraram um pouco para notar Valdir em uma mesa com uma moça desconhecida.
Foi um bom teste para Tânia, não se descontrolou e nem teve vontade de chorar ou ir embora e nem sentiu-se diminuída. Com um pequeno esforço se manteve firme e forte enquanto tomava seu chopp, conversando e se divertindo com as amigas, o que lhe ajudou a relaxar e esquecer da presença dele.
Só se lembraram dele quando ouviram gritos e som de copos e garrafas se quebrando, vindos da direção da mesa onde Valdir estava, aliás todos voltaram os olhos na mesma direção. Perceberam um briga e que segundo os comentários que imediatamente surgiram, tratava-se do marido da mulher que acompanhava Valdir.
Foi uma briga violenta, não havia quem conseguisse separa-los, coisa conseguida só com a chegada da policia e da ambulancia. Separados, foram levados ao hospital, pois estavam muito machucados e a mulher em estado choque, tamanho o susto e o medo que sentiu.
Algum tempo depois, com a situação já controlada e a choperia voltando ao normal com clientes que ainda ficaram por ali, inclusive Tânia e suas amigas, podia se ouvir, entre risos, daquelas pessoas que já conheciam Valdir, sua fama e seu codinome, a seguinte frase: - Desta vez o "beija flor" escolheu a flor errada ! Essa flor tem veneno ao inves de mel !
Ao que Tânia completou : - Para um homem que vive o momento, esse é um daqueles que Valdir jamais vai esquecer ! Tomara que tenha aprendido a lição, porque não se desperta o amor de alguém quando não se tem a intenção de amar esse alguém.

Autor: Sandra Oliveira


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