As Mães dos Bandidos







AS MÃES DOS BANDIDOS
(A Outra Face da Moeda)
Raul Santos

João Hélio morreu arrastado pelo cinto do carro, por sete quilômetros, na cidade do Rio de Janeiro, e foi transformado em mártir da violência do século XXI. O apoio moral recebido pelos pais, as correntes de orações, os movimentos de combate à violência, a solidariedade da mídia e dos vizinhos fazem-nos até acreditar que a morte do filho pode ter sido de certo modo um veículo de integração social para aproximar as pessoas, apesar da eterna dor que marcará para sempre a existência de ambos.
Mas, na outra ponta do problema, como devem ficar os corações das mães dos bandidos que, se não fazem parte das quadrilhas, sofrem o impacto inicial de vê-los na televisão não como atores, atletas ou cantores, mas como prisioneiros, procurados ou perseguidos pela polícia?
Impossível acreditar que por mais desnaturada que seja uma mãe, ela não sofra apenas com o pensamento do que possa acontecer ao filho. Quando presos, sofrem com o pensamento da superlotação nos presídios, com as rebeliões, com os constrangimentos morais das revistas no mais íntimo dos seus próprios corpos, durante as visitas nas penitenciárias ou com a terrível expectativa de uma fuga a qualquer instante; quando soltos, maior ainda o sofrimento à espera de um confronto com a polícia ou com quadrilhas e o constante terror de a qualquer momento receber a notícia da morte do filho que apesar de bandido, foi também como os outros gestado por nove meses, embalado, amamentado e cuidado enquanto dependente.
Mas o que certamente é a causa de maior sofrimento das mães que tentaram conduzir os filhos pelos caminhos da educação e da religiosidade, mas se defrontam com o vergonhoso fracasso de vê-los, ao invés de com um Bíblia ou um diploma, é o de o verem carregando uma arma ou um pacote de maconha ou de cocaína, e angustiadamente, passam a se perguntar:
? Onde foi que eu errei?...
Além disso, como devem conviver com o impacto causado na mídia, com os movimentos sociais e com os vizinhos? Como devem se sentir no supermercado, com a dúvida de comprar um quilo de feijão ou de arroz com dez ou vinte reais nas mãos, ao ser reconhecida e ouvir a terrível sentença: Aquela vagabunda é a mãe do bandido que matou aquela criança!...?, porque, via de regra, as mães das vítimas têm posses para uma compra de duzentos ou quinhentos reais, enquanto que os bandidos muitas vezes assaltam por terem visto as mães chorando a falta de vinte centavos para matar a fome de um filhinho com um pão.
Assim, começo a me perguntar como ficaria o entendimento direto das mães das vítimas com as mães dos bandidos? Qual seria o resultado de uma sociedade formada apenas por elas? O que aconteceria se a sociedade, no momento de fazer uma passeata, colocasse na linha de frente as mães das vítimas de mãos dadas com as mães dos bandidos? Afinal, será que todas as mães de bandidos são coniventes com o que os filhos praticam, ou elas sofrem igual ou mais até do que as mães das vítimas? Quando eu era garoto, minha mãe pedia chorando à Virgem Santíssima que me desse uma boa morte, se por acaso meu destino fosse o de ser um marginal!... Será que ela antevia nas minhas características psicológicas as tendências para a marginalidade? A única coisa que tenho certeza absoluta é que se podemos fazer alguma coisa, então devemos fazer alguma coisa para dar segurança à sociedade, não a que tem muros de seis ou sete metros de altura, mas a que mora em barracos sem paredes e sem portas, pois somente se consegue a verdadeira integração através dos ensinamentos de Jesus, quando disse: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo!...

Abunã/PVH-RO, 27/04/2007

Autor: Raul Santos


Artigos Relacionados


MÃe Diferente

A Magia Do Amor De MÃe

O Filho Que Nunca Tive

Dia Das Mães

Homenagem Às MÃes

Criações De Laura

Ser Mãe